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Nota do Editor: 

Este artigo faz parte de uma série de duas partes sobre diáconos. Para outra perspectiva, veja “Há Sustentaçāo Bíblica Para Mulheres Diaconisas? Não” por Guy Waters.

A questão se as mulheres devem servir como diaconisas não é clara na Bíblia, e por isso faz sentido que intérpretes sinceros das Escrituras discordem sobre este assunto. Portanto, devemos ter cuidado com o dogmatismo e um espírito não caridoso ao analisarmos as evidências.

A questão é abordada diretamente em apenas dois versículos (Rm 16.1; 1Tm 3.11), e o significado de ambos é contestado. Este desacordo aflora em traduções inglesas. Romanos 16.1 na NIV diz: “Recomendo-lhes nossa irmã Febe, diaconisa da igreja em Cencreia.” A CSB traduz o mesmo verso: “Recomendo-lhes nossa irmã Febe, que é serva da igreja em Cencreia”.

Uma diferença semelhante aparece em 1 Timóteo 3.11, reproduzida na NIV: “As mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e confiáveis em tudo.” A CSB traduz isto como: “As esposas também devem ser dignas de respeito, não caluniadoras, sóbrias, fiéis em tudo.” Usando a palavra “mulheres” a NIV sugere que elas eram diaconisas, enquanto a CSB se inclina para “esposas” de diáconos. As igrejas locais não têm o luxo de deixar o assunto sem resolução. Elas têm que decidir se as mulheres servirão como diaconisas, e eu argumentarei que a melhor interpretação da evidência apoia as mulheres que servem como tal.

Apoio em 1 Timóteo 3.11

Primeiro, às vezes, pessoas que discordam de mulheres servindo como diaconisas e que não sabem grego, apontam para traduções em inglês que usam o termo “esposas” (por exemplo, CSB, ESV, KJV), pensando que isto resolve a questão. A ESV e a KJV realmente traduzem como “suas esposas”, mas o grego não tem a palavra “suas”, e sua inserção reflete uma interpretação dos tradutores. A palavra usada aqui é gynaikas, que poderia ser traduzida como “esposas” ou “mulheres”, e portanto o grego não nos ajuda realmente aqui. No entanto, há realmente uma sugestão de que Paulo se refere a diaconisas e não às mulheres, pois se ele tivesse usado o pronome “suas”, não teríamos dúvidas de que as esposas dos diáconos era o que queria dizer. O uso despojado da palavra “mulheres” sugere que o termo se refere a mulheres servindo como diaconisas, e não se referindo a esposas dos diáconos.

Segundo, a palavra “também” (CSB) ou “da mesma forma” (ESV) — hosautōs — em 1 Timóteo 3.11 é mais naturalmente interpretada como continuando a lista daqueles que servem como diáconos, particularmente por Paulo retornar aos diáconos do sexo masculino no versículo 12. Uma súbita referência às esposas obviamente é possível, mas neste capítulo parece que Paulo está se referindo aos ofícios e conduta na igreja (cf. (2Tm 3.15).

Terceiro, um outro argumento em apoio a mulheres diáconos vem do silêncio, mas é importante. O argumento é o seguinte: Se a referência fosse às esposas de diáconos, por que razão Paulo omitiria uma referência às esposas de presbíteros, particularmente uma vez que eles exercem supervisão pastoral e liderança na igreja? Parece que o caráter das esposas de presbíteros seria ainda mais importante do que das esposas de diáconos — e, portanto, concentrar-se nas esposas dos diáconos, mas não nas esposas dos presbíteros, é estranho. No entanto, se a referência é às mulheres diaconisas, temos uma explicação elegante de por que as esposas dos presbíteros não são mencionadas — por que as esposas dos diáconos também não estão incluídas. Em outras palavras, Paulo não está se referindo a esposas, mas a mulheres diaconisas.

Quarto, as qualidades de caráter requeridas para as mulheres em 1 Timóteo 3.11 também são obrigatórias para os presbíteros e diáconos, o que faz sentido se se referir a uma qualificação oficial. Assim como os diáconos devem “ser dignos de respeito” (1Tm 3.8), também as mulheres diaconisas devem “ser dignas de respeito” (1Tm 3.11). Os presbíteros devem ser “sóbrios” (1Tm 3.2), e as mulheres diaconisas também devem ser “sóbrias” (1Tm 3.11). Outras duas qualidades de caráter são exigidas das mulheres diaconisas: Elas não devem ser “maldizentes” e devem ser “fiéis” (1Tm 3.11). Tais qualificações apontam para uma responsabilidade oficial.

É imperativo reconhecer que Paulo não está tentando fornecer uma lista abrangente de requisitos de caráter para qualquer das posições listadas em 1 Timóteo 3. Ele esboça rapidamente o que é obrigatório, deixando à sabedoria dos leitores discernir se alguém é qualificado. Alguns protestam que mulheres diaconisas não podem ser o tema de Paulo uma vez que ele se refere aos diáconos em 3.8-10 e depois retorna a este tema em 3.12-13. Eles acham que a inserção de um verso sobre as mulheres em 3.11 não pode, portanto, se referir a mulheres diaconisas. Mas o argumento não é convincente. Em ambos os pontos de vista, Paulo interrompeu a discussão!

Apoio em Romanos 16.1

Vimos em traduções de Romanos 16.1 que Febe era ou “diaconisa” ou “serva” da igreja em Cencreia. Com tão pouco como base, a decisão poderia ir de qualquer forma, pois a palavra diakonos em grego pode se referir a um servo sem ter a ideia de um cargo específico. No entanto, a adição das palavras “da igreja em Cencreia” sugere uma capacidade oficial. O versículo 2 apóia este significado, já que Febe é designada como “protetora” (ARA) ou “de grande auxílio” (NVI), o que significa que ela ajudava regularmente, talvez financeiramente, os necessitados.

Além disso, muitos comentaristas acham que Febe levou pessoalmente a carta de Romanos até a igreja romana, o que conduziria com uma posição diaconal.

A História da Igreja Primitiva

Meu argumento baseado na história da igreja não é determinante, uma vez que não vem das Escrituras. No entanto, na correspondência entre Plínio, o jovem, e o imperador Trajano (98–117 dC), vemos um exemplo de mulheres servindo como diaconisas. Em uma conversa fascinante, Plínio pede conselhos a Trajano sobre o que deve fazer com os cristãos, como legado para a província da Bitínia .

Necessitamos focar em uma pequena parte da conversa. Plínio refere-se a duas mulheres cristãs, que chama de “ministrae” em latim. Podemos traduzir esta palavra como “ministros”, e esta é uma boa tradução para o latim da palavra grega diakonos, que significa “servo” ou “ministro”. Portanto, temos um exemplo primitivo — da segunda década do segundo século — de mulheres que serviam como diaconisas. Obviamente, tal exemplo não prova que as mulheres devem servir como diaconisas mas sugere que as mulheres serviam como diaconisas na igreja primitiva.

Esclarecimentos Cruciais

Alguns temem que a nomeação de mulheres como diaconisas viole 1 Timóteo 2.12, onde as mulheres são proibidas de ensinar ou exercer autoridade sobre os homens. Devemos reconhecer, no entanto, que os diáconos ocupam uma posição diferente dos presbíteros / pastores / bispo. Este último é um ofício, como Ben Merkle argumentou convincentemente, em que são necessárias duas qualidades que não são exigidas dos diáconos. Primeiro, os presbíteros devem ter a capacidade de ensinar a verdade bíblica e corrigir o ensino errôneo (1Tm 3.2; 5.17; Tito 1.9). Segundo, eles devem ter dons de liderança (1Tm. 3.4-5; 5.17; Tito 1.7). E notavelmente, ensinar e exercer autoridade sobre os homens é exatamente o que não é permitido para as mulheres em 1 Timóteo 2.12. As mulheres, portanto, podem servir como diaconisas, porque o ofício diaconal é servir, não liderar. Os diáconos não ensinam nem exercem autoridade, mas ajudam no ministério da igreja.

Em muitas igrejas batistas, os diáconos, juntamente com o pastor da igreja ou os pastores, lideram a igreja, mas nesses casos os diáconos estão realmente funcionando como anciãos — e nesses casos os diáconos devem ser chamados de presbíteros, pastores ou bispos.

A evidência mais antiga que temos é que os diáconos ajudavam a cuidar dos pobres e doentes. Há alguma liberdade em como os diáconos servem, pois o Novo Testamento não prescreve responsabilidades precisas. Na igreja em que sirvo como presbítero os diáconos cumprem muitas responsabilidades. Temos diaconatos específicos para cada função — isto é, diáconos das finanças, da hospitalidade, da organização, de recepção, da manutenção do edifício, do som e assim por diante. Os diáconos não se reúnem regularmente como um grupo, uma vez que suas tarefas diferem dramaticamente.

Os cristãos que amam a Palavra de Deus diferem sobre se as mulheres podem servir como diaconisas, mas as evidências apresentadas aqui sugerem que podem fazê-lo. E em tal ministério elas são uma grande bênção para a igreja, e as mulheres que servem são encorajadas ao utilizarem seus dons.

 

Traduzido por Victor Santana

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