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Pregar é uma tarefa árdua.

Para quem está sentado no banco de igreja, a pregação pode parecer relativamente fácil, especialmente quando é bem feita. Mas não se deixe enganar. A pregação esgota o corpo e a alma de maneiras incomensuráveis ​​com a sua duração. Eu poderia trabalhar no quintal durante todo o dia num calor de 32 graus e (de alguma forma) me sentir menos exausto do que pregar em dois cultos.

Mas não são apenas os custos físicos e espirituais que a pregação tem. A complexidade da tarefa é o que a torna difícil. Só o ficar de pé e falar durante 30 minutos (e a fala fazer sentido) já é bastante difícil para a maioria das pessoas. Mas, além desse desafio, os pregadores têm de se enveredar por uma passagem complicada, equilibrar doutrinas sensíveis, compôr uma mensagem coerente, aplicar a mensagem à vida das pessoas, e fazer tudo isso de maneira que a mensagem seja atraente, envolvente, gratificante, e nunca chata ou aborrecedora.

Não é de se admirar que Tiago tenha escrito: “Não sejais muitos de vós mestres” (Tiago 3.1).

Dadas as complexidades da pregação, há uma série de armadilhas em que todos os pregadores (especialmente os aspirantes) correm o risco de cair. Aqui estão sete delas que notei ao longo dos anos:

1. Confundir pregação “expositiva” com comentários em série

Em algum lugar ao longo do caminho, alguns pastores se convenceram de que a parte “expositiva” da pregação significa que um sermão deve parecer um comentário. Eles veem a pregação como uma lista de observações estritamente cronológicas e em sequência, sobre o texto.

Infelizmente, tal abordagem confunde dois gêneros diferentes. Embora a pregação deva esclarecer o texto, ela difere de um comentário de maneiras significativas. Primordialmente, os sermões têm um componente de exortação, que os comentários, muitas vezes, não têm. Sermões são dirigidos não apenas à mente, mas também ao coração. Referem-se não apenas à verdade, mas também à transmissão da verdade para as vidas.

2. Presumir que mais ilustrações é sempre melhor.

Ilustrações são uma parte crítica de um sermão eficaz. Muitas vezes, nos lembramos mais das ilustrações do que do próprio sermão. Mas isso não significa (como alguns muitas vezes presumem) que quanto mais ilustrações, melhor. Às vezes, menos é melhor.

Charles Spurgeon, o ilustrador-mestre, disse que um sermão sem ilustrações é como uma casa sem janelas. Mas, ele acrescenta, você não quer uma casa que seja feita apenas de janelas!

3. Pensar que pregar a Cristo significa pregar a justificação

Sem dúvida, a justificação pela fé somente é uma das mais preciosas doutrinas em que cremos. Estava no cerne da Reforma, e é fundamental para a nossa compreensão da salvação. No entanto, (e este é um ponto-chave), pregar a justificação não é a única maneira de pregar a Cristo. É uma maneira de pregar a Cristo; destaca o seu sacrifício salvífico. Destaca seu chamado sacerdotal. Mas Cristo também é o profeta e rei definitivo. Se pregarmos estes aspectos também estaremos pregando a Cristo.

Se alguém não consegue entender este ponto, todo sermão ficará apontando para a justificação, não importa o que o texto diga, então cada sermão acaba sendo o mesmo.

4. Se recusar a cortar coisas boas do sermão

Uma grande armadilha para novos pregadores é a falta de “restos e rebarbas no chão”. Ficam tão entusiasmados com todos os pontos, que decidem incluí-los todos na pregação. Infelizmente, esta abordagem cria um sermão inchado, desajeitado e excessivamente longo.

É o equivalente a um diretor de cinema manter todas as cenas que filma. Se o fizesse, o filme duraria 12 horas. Ele tem que cortar até cenas boas para abrir espaço para as cenas essenciais.

Com os pregadores deve ser igual. Quando a preparação do sermão terminar, deve haver uma (grande) pilha de bons materiais deixados de fora. É neste ponto que um sermão muda de bom para excelente.

5. Pressupor que o uso de línguas originais significa analisar verbos em seu sermão

Todo estudante do seminário quer demonstrar o quão importante ele considera as línguas originais, mesmo em um sermão. Isso é bom. Mas já presenciei muitos momentos constrangedores, em que um estudante faz uma pausa no sermão para analisar os verbos gregos ou hebraicos.

Além do fato de que a congregação talvez não necessite entender a natureza de verbos hebraicos secundários, isso representa uma confusão sobre o uso das linguagens originais na preparação do sermão (que é uma obrigação) com o uso de linguagens originais na entrega do sermão (o que não é).

Este último pode ser útil em raras ocasiões. Mas a questão principal é se o pregador se empenhou em estudar a fundo ou não, independentemente de a congregação sequer o perceber.

Imagine um chef que prepara uma ótima refeição. O cliente não precisa saber quais as técnicas culinárias principais que o chef utilizou na cozinha para que possa desfrutar e se beneficiar do produto final na sala de jantar.

6. Fazer a aplicação do sermão antes de desenvolver o ponto a ser aplicado.

Visto que pregadores ficam ansiosos para aplicar o sermão, às vezes é fácil pular etapas. Passam apressadamente sobre detalhes exegéticos e logo passam a discussões sobre implicações práticas. Existe aqui um perigo real. Apressarmo-nos à aplicação rapidamente nos deixará sem nenhum ponto real para aplicar o sermão. Tais sermões acabam se tornando quase que inteiramente uma aplicação, indo de uma aplicação “prática” até a próxima, sem uma compreensão real e profunda do texto.

Esta armadilha é realmente o oposto da primeira. Enquanto alguns nunca chegam à aplicação, outros quase não desenvolvem seu ponto textual.

7. Pensar que a pregação de um manuscrito nos torna melhores comunicadores.

Quando estamos inseguros com uma pregação, não há nada mais reconfortante do que um manuscrito completo, palavra por palavra, para nos dar conforto e segurança. No entanto, não estou convencido de que isto seja uma ajuda e não um estorvo.

É verdade que isto permite que expressemos nosso ponto exatamente como desejamos, com palavras cuidadosamente escolhidas. Mas isto realmente melhora a comunicação? Somente se a congregação estiver engajada e prestando atençāo. Este é precisamente o problema típico da pregação a partir de um manuscrito completo. Tende a criar uma “pregação bolha”, onde o sermão é entregue em forma de bolha, não conectado com a congregação, ao pregador seguir seu manuscrito palavra por palavra.

No final das contas, evitar estas sete armadilhas não tornará a pregação fácil automaticamente. Continuará difícil. Muito difícil. Mas a expectativa é que ao evitá-las, a pregação possa se tornar um pouco mais fácil.

Traduzido por Ethel Friggi.

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