Muitas vezes, é difícil saber o caminho ético na vida, à luz do Reino de Deus. Pode ser como andar de bicicleta numa ciclovia montanhosa com curvas fechadas. Considere, por exemplo, que somos livres em Cristo: esta é uma posição de tremenda liberdade. No entanto, às vezes, o que temos o direito de fazer não é a melhor coisa a fazer.
Às vezes, pode ser melhor, por causa do Evangelho, ser estrategicamente incomodado.
Uma Pergunta (Capciosa) Sobre Impostos
Um dia, os cobradores de impostos fizeram a Pedro uma pergunta capciosa sobre esse assunto. Em Mateus 17.24 lemos: “Não paga o vosso Mestre as duas dracmas?” Eles antecipavam uma resposta positiva. Em outras palavras, poderia-se dizer: “Seu mestre paga o imposto, certo?”
O imposto aqui é o mesmo de Êxodo 30.11-16. Foi legislado para todos os israelitas na época do censo. O dinheiro era para sustentar o tabernáculo. Havia controvérsia em relação a este imposto. Imagine isto, uma controvérsia sobre impostos! Os historiadores notam que, para alguns, o pagamento da taxa era uma questão de orgulho nacional, enquanto que os saduceus se opunham a ela.
Pedro responde com brevidade: “Sim”.
Mas quando chegam em casa, provavelmente na casa de Pedro, tiveram uma outra conversa. A conversa sobre o imposto foi entre Jesus e Pedro. Acontece que o pagamento do imposto não era uma questāo tāo clara quanto parece. Não era uma questāo de ser patriótico ou nāo. Jesus faz uma pergunta a Pedro no versículo 25. “Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?” (Mt 17.25).
E Pedro responde a ele. “Dos estranhos” (Mt 17.26a).
A Sabedoria do Reino
Então Jesus fornece uma resposta surpreendente. Ele lhe disse: “Logo, estão isentos os filhos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti.” (Mt. 17.26b-27).
Jesus caminha com sabedoria notável nesta situação complicada. E, ao fazê-lo, nos fornece alguns princípios básicos sobre como viver de maneira vitoriosa como cidadãos do Reino em uma terra estrangeira.
Jesus utiliza uma metáfora para demonstrar seu ponto. Ele pergunta sobre os reis da terra: de quem cobram impostos? A resposta é bastante direta. Os reis cobram impostos de seus cidadãos e de povos que conquistam, não de suas famílias. Como resultado, os filhos (do rei) são isentos. Não necessitam pagar impostos.
A quem o imposto é pago? Em última análise, é pago a Deus, visto que é dedicado ao sustento do templo e para a adoração. Portanto, deve o Filho de Deus ser forçado a pagar imposto? Seguindo a lógica de Jesus aqui, a resposta é “não”. Nenhum rei iria cobrar impostos de sua própria família. E por Jesus ser o Filho de Deus, ele está isento deste requisito.
Mas este não é o fim da resposta. Mesmo que Jesus tenha o direito de se recusar a pagar, ele põe isto de lado. Mesmo lógica e teologicamente tendo este direito, ele opta por ser flexível e se posiciona em submissão a outros. Ele disse, com efeito, “para evitar ofender, pague”.
Eu disse que isso seria complexo. Reflita comigo sobre como isto poderia ter sido problemático. Se ele pagasse o imposto, as pessoas poderiam interpretar que ele estava dizendo que não era o Filho de Deus. Além disso, e se ele tirasse a moeda de sua caixa de dinheiro? As pessoas haviam doado aquele dinheiro e talvez seu pagamento fosse mal interpretado. Se ele dissesse que não pagaria, então poderia ser visto dizendo de maneira pública que rejeitava o templo ― e tudo o que este representava.
É complicado.
Inconveniências Estratégicas para o Avanço do Reino
Jesus disse que não quer ser uma ofensa ou uma pedra de tropeço para ninguém. Ele está preocupado sobre como as pessoas responderão se exercer seus direitos. Ele fez algo que satisfez os cobradores de impostos e não ofendeu nenhum de seus apoiadores. Diz a Pedro para ir fisgar um peixe. E dentro dele estaria um estáter, o que seria suficiente para o pagamento do imposto de Pedro e o de Jesus.
Muita foi escrito sobre o peixe. Isso é uma pena, porque o peixe e a moeda não são o ponto central. A questão central é como o rei responde a uma situação complicada e o que podemos aprender com ele. O que necessitamos ver é que Jesus está disposto a deixar de lado seus direitos para não ofender desnecessariamente outra pessoa.
E é aqui que necessitamos aprender com Jesus. Ele tem um princípio governante sobre o Reino. Investiu toda a sua vida nisso. Ele voluntariamente deixa de lado sua liberdade para promover sua missão.
Como cristãos, é este o ponto aonde devemos chegar; necessitamos desenvolver um reflexo de responder a situações com a perspectiva do avanço do evangelho. Embora seja claro que somos livres em Cristo, há nuances cuidadosas a serem consideradas. Como escreveu Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm” (1 Co. 6.12). Como saber aquilo que convém? Necessitamos ter uma mente como Cristo, que se governa pela expansão do Reino.
Esta era a questão na igreja primitiva em relação ao que as pessoas podiam comer ou beber. Podemos ler sobre isso em Romanos 14-15, bem como em 1 Coríntios 8-9. Aprendemos que a liberdade nem sempre significa exercer seus direitos, mas às vezes significa renunciar a eles. O cristão está em uma posição de flexibilidade. Somos livres para desfrutar de tudo o que Deus criou e sancionou, mas não necessitamos fazê-lo sempre. Quando nossa liberdade interferir na expansão do Evangelho, devemos sabiamente, deixar de lado nossa liberdade pela causa do Evangelho.
Realmente, isto não é algo que vem naturalmente. Nossa tendência é de pensar em nós mesmos antes de pensar nos outros. Mas quando Jesus nos instrui sobre o que significa ser um cidadão do Reino, então aprendemos com aquele que demonstrou mais significativamente o auto-sacrifício.
Devemos nos lembrar que foi Jesus que deixou de lado seus direitos e privilégios como Deus para se tornar um homem também. Ele fez isto por causa do Reino de Deus. Ele estava disposto a ser incomodado para que Deus fosse glorificado e pessoas como você e eu fôssemos abençoados (Fp 2.5-11).
Você está disposto a ser estrategicamente incomodado em prol do avanço do Reino?
Traduzido por Felipe Barnabé.