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Os seguidores de Cristo enfrentarão perguntas sobre a relação entre a misericórdia de Deus e sua justiça. Tais perguntas certamente virão dos que não são cristãos, bem como daqueles que são novos convertidos. E, se formos honestos, aqueles de nós que estudamos nossas Bíblias há anos, também temos dúvidas sobre a relação entre a misericórdia de Deus e sua justiça.

Em Gênesis, vemos um homem que caminhou fielmente com Deus fazendo perguntas e se sentindo fortemente preocupado com a justiça de Deus. Tal situação se encontra em Gênesis 18. Deus estava prestes a cumprir a sentença sobre a cidade de Sodoma por seu pecado “muito agravado” (v. 20). Mas Abraão se preocupa com a possibilidade de alguns justos naquela cidade irem na enxurrada de tal punição. Em outras palavras, ele estava preocupado com a possibilidade de que a misericórdia de Deus pudesse ser eclipsada por sua justiça. Anteriormente no capítulo, Abraão havia aprendido que nada é demasiadamente difícil para o Senhor (v. 14). Agora porém, talvez Deus fizesse aquilo que é impensável e punisse os justos junto com os ímpios. Esta tensão entre a misericórdia e a justiça era um fardo para Abraão, tal como frequentemente é para nós também.

Então, o que se pode fazer? Como conciliar a justiça de Deus com a sua misericórdia?

Talvez seja melhor dizer, o que não fazer?

1. Não Despersonalizar.

Não é útil separar a realidade da misericórdia e da justiça de pessoas reais e de um Deus real. O fardo da questão é a interseção entre um Criador justo e misericordioso e sua criação. Nós pecamos contra ele, cada um de nós. Generalizar esta verdade é desapossá-la de seu peso, de ambos os lados.

2. Não Teologizar.

Ao invés de lidar com a tensão, alguns higienizam a conversa com uma linguagem teológica. O assunto é teológico, mas a teologia não deve ser feita em tubos de ensaio; ela cruza com a vida real e com um Deus vivo. Abraão estava lidando com uma cidade que tinha as nuvens escuras da morte pairando sobre ela, com os anjos marchando em direção a ela. Não se pode higienizar isto.

3. Não Liberalizar.

A Bíblia sempre tem a intenção de nos atrair para uma compreensão e uma apreciação mais profunda de quem Deus realmente é. A Palavra comunica o caráter de Deus. Desapossar esta passagem de sua tensão de justiça seria moldar um novo Deus. Não podemos simplesmente mitificar todas as passagens difíceis da Bíblia bem como não podemos mitificar as questões difíceis da vida. Deus é um Deus de respostas sendo que nós somos um povo de perguntas.

Em vez disso, devemos. . .

1. Permitir Que Sintamos a Tensão.

Não tenho certeza se Abraão estava pensando especificamente em Ló nesta ocasião; talvez estivesse. De qualquer maneira, ele estava olhando a cidade tal como Jesus olhou a cidade de Jerusalém, em vista de seu julgamento vindouro (Lc 19.41-44). Tal como Abraão antes dele, Jesus sentiu o peso do julgamento vindouro. Eu me pergunto como seriam as nossas vidas de oração por nossos familiares, amigos e cidades, se sentíssemos a tensão entre a misericórdia e a justiça. As nuvens nefastas de julgamento continuam pairando.

2. Orar Persistentemente.

Com o anúncio da sentença de condenação, Abraão orou. Buscou respostas, a compreensão e a sabedoria. Ele foi a Deus com o coração cheio de nós cegos, tais como os sapatos de uma criança, pedindo a seu Pai que os desatasse. Fez oito perguntas a Deus sobre esta sentença de julgamento. Curto muito sua humilde e amorosa persistência. Agindo cuidadosamente, ele continua a derramar seu coração em oração. Quem dera nos sentíssemos compelidos a orar com semelhante fervor de intercessão.

3. Lembre-se de Quem Deus é.

Em meio a sua falta de compreensão, ele se apegou àquilo que ele entendia: Deus fará justiça (v. 25). Ao enfrentar dúvidas, os fiéis podem se lembrar que podem confiar em Deus nas margens. Deus sempre fará justiça; podemos ter certeza disso. Ao final de tudo, este é o nosso conforto. Deus fará justiça, mesmo quando não entendemos bem isto. Certamente podemos confiar nele.

Derek Kidner observa: “Abraão estava tateando, em busca de uma direção, com um espírito de fé (expressado magnificamente no versículo 25, no qual ele compreende o alcance e a justiça do domínio de Deus), de humildade (evidente em toda sua maneira de falar) e de amor, demonstrado em sua preocupação com a cidade inteira, não apenas por seus parentes”.

Voltando à minha pergunta original. Como conciliar a justiça de Deus com a sua misericórdia? Não necessitamos fazer isto, pois não são inimigas. São amigas que não estão em conflito, mas em perfeita harmonia divina. Mesmo que em nossas mentes possa existir uma tensão entre o que é bom e justo, na mente de Deus, elas estão em perfeita harmonia. Podemos ter confiança de que Deus sempre fará justiça; e aquilo que é certo também é sempre bom. Portanto, lemos e aplicamos a Bíblia com humildade, oração e confiança.

[Nota: Esta publicação é um trecho de um sermão pregado na Emmaus Bible Church em 27/11/2016. O restante do sermão (em inglês) pode ser acessado aqui.]

Traduzido por Raul Flores.

 

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