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Anos atrás, eu estava dirigindo por uma área rural do oeste do Tennessee, a caminho de uma pequena cabana na represa Pickwick, no norte do Mississippi, onde eu ficaria alguns dias para escrever. Tinha muitas coisas na minha cabeça. Tinha decisões importantes a serem tomadas — decisões estas que moldariam todo o meu caminho futuro. Mas eu problema real naquele momento não era o meu futuro — mas a estrada na qual eu estava. Eu estava perdido.

A cada curva da estrada, eu sentia que estava indo ainda mais longe na floresta e distante de qualquer ponto de referência. Isto aconteceu muito antes da tecnologia do GPS e, mesmo que fosse nos dias atuais, não iria me ajudar muito, pois meu telefone estava sem sinal. Peguei a primeira entrada que vi para tentar fazer meu telefone funcionar a fim de conseguir falar com alguém que pudesse me tirar daquele lugar. Só depois de alguns momentos percebi que estava no cemitério de uma igreja e que meu telefone era mais uma coisa morta ali.

Questionamentos no Cemitério

Nem sempre isso acontece, mas às vezes, sinto uma vontade muito grande de parar tudo e orar. Às vezes, com demasiada frequência, ignoro isto e concluo que estou ocupado demais para parar. Daquela vez não tinha outra escolha senão parar. Não tinha para onde ir. Parei e caminhei pelo cemitério, orando para que Deus me desse sabedoria e discernimento sobre a grande decisão da vida que estava diante de mim. Enquanto caminhava na frente da pequena igreja batista, ainda estava em oração, mas meus olhos estavam furtivamente analisando os tijolos à minha frente.

Parei quando li a pedra angular da parede, gravada alguns anos antes do meu nascimento. A data estava lá e logo abaixo: “Herman Russell Moore, pastor.” Surpreso, parei de orar. Herman Russell Moore era o nome do meu avô paterno, que morreu quando eu tinha 5 anos de idade. Meu avô foi pastor e tinha pastoreado muitas igrejas no Mississippi e no Tennessee. Quando finalmente meu telefone voltou a ter sinal, minha primeira ligação não foi para o meu escritório, mas para minha avó. Eu dei a ela o nome da igreja e perguntei se ela já tinha ouvido falar dela. “Claro”, disse ela. “Seu avô foi pastor lá.”

Fiquei atônito e fiquei repetindo para mim mesmo: “Será possível?” Mas eu não queria desperdiçar o sinal da providência de Deus que havia me levado até lá, fosse ele qual fosse. Portanto, continuei orando, caminhando por entre as sepulturas. Eu me perguntava sobre as pessoas que estavam enterradas lá. Quantas delas tinham ouvido meu avô pregar o evangelho? Quantas haviam conhecido a Jesus naquela igreja? Quantas haviam orado com meu avô para receber a Cristo, ou no funeral de um ente querido, ou ainda, iguais a mim naquele momento, quantas delas teriam que tomar uma grande decisão na vida. Agora, elas não estavam mais lá.

Então pensei em alguém, enterrado ali, que poderia ter sido um espinho na carne para o meu avô. Quantos haviam criticado sua pregação ou questionado se ele fazia visitas ao hospital com suficiente regularidade? Talvez, como infelizmente é prática muito comum em algumas igrejas, alguém tivesse iniciado uma campanha de cartas anônimas para se opor à construção daquela igreja. Estes também já não mais estavam lá.

Perspectiva

Naquele momento, percebi que talvez, como escreveu Tolkien, “nem todos os que vagueiam estão perdidos”. Talvez eu estivesse lá apenas por uma razão, para contemplar coisas que haviam dado grande alegria ao meu avô durante seu tempo lá, bem como coisas que o haviam feito perder o sono a noite, e tantas destas pessoas estavam enterradas no solo em que eu estava pisando. O prédio onde presumivelmente o evangelho ainda estava sendo pregado continuava lá. Mas mesmo aquele edifício não era permanente e algum dia poderia dar lugar a — sabe-se lá — uma loja de fast food ou uma clínica para meditação budista. Tudo isso também seria levado dali, durante os trilhões de anos cósmicos à nossa frente.

A decisão que eu estava ponderando me parecia muito importante no momento. Parecia ter importância existencial. E, no entanto, ao perambular pelo cemitério, lembrei-me que morreria. Eu, tal como aquela igreja, e tal como meu ancestral que ali havia pastoreado, seria dissipado tal como uma neblina (Tg 4.14), tal como a relva (Sl 103.15-16). Por um lado, minha decisão me pareceu ainda mais importante. Afinal de contas, o ministério do meu avô ali, fazia parte de uma cadeia de decisões, sem a qual eu nem sequer existiria para contemplar aquele lugar.

Mas por outro lado, minha decisão me pareceu muito menos importante. Embora naquela época eu fosse um jovem em meio a uma carreira agitada, lembrei-me de que sou uma criatura mortal, e que um dia seria esquecido, junto com todos os meus grandes planos, medos e ansiedades. Naquele momento, refletir sobre minha mortalidade não me deixou com uma sensação de futilidade ou com temor. Tal reflexão foi estranhamente libertadora, libertando-me, mesmo que por um segundo, para refletir sobre aquilo que realmente importa — dar graças a Deus por me dar um evangelho no qual crer e pessoas para amar.

Lições Aprendidas

Oro para que o livro de Matt McCullogh, “Remember Death” [Lembre-se da Morte], faça o mesmo por você. Oro para que você ao terminar de ler um livro sobre a morte, tenha um sentido claro daquilo que realmente é importante — sobre quem realmente é importante. Oro para que este livro, ao levá-lo a refletir sobre sua própria morte vindoura, lhe dê um sentimento de alegria, de gratidão, de desejo de fazer parte dessa grande nuvem de testemunhas no céu. Oro para que este livro lhe seja útil, mas oro ainda mais para que este livro seja uma perda de tempo. Oro para que você e eu, realmente, nunca sucumbamos à morte, mas que, ao invés disso, sejamos parte da geração que verá os céus explodirem com a glória do retorno do Rei de Israel, o Senhor Jesus Cristo.

Mas, mesmo assim, as lições deste livro lhe serão úteis, a fim de chamá-lo para longe de si mesmo como um messias ou como um demônio, como um César ou como um Judas. Sua vida vale a pena, precisamente por não ser sua vida. Sua vida — pelo menos neste contexto moral — tem começo e fim. Mas sua vida — sua vida real — está oculta com Cristo (Cl 3.3). Isso lhe dá a liberdade de perder sua vida em sacrifício por outros, em obediência a Deus, a fim de salvá-la.

Eu gostaria de poder dizer que minha visita acidental àquele cemitério de igreja mudou minha vida permanentemente. Gostaria de poder escrever que não mais luto com a ilusão de imortalidade ou com preocupação sobre o amanhã. Não posso dizer isto. O que eu posso dizer, porém, é que às vezes Deus nos deixa ficar um pouco perdidos, para que possamos olhar e perceber que não somos como uma fênix ressuscitando de nossas próprias cinzas, mas somos ovelhas, seguindo a voz de um pastor, até mesmo quando caminhamos pelo vale da sombra da morte. Talvez este momento de clareza chegue para você ao se encontrar perdido nas verdades deste livro. Se assim for, você pode perceber que não está tão perdido quanto pensa, mas que está sendo conduzido através do cemitério de sua própria vida caída, em direção ao lar.

Nota dos editores: Esta é uma adaptação do prefácio de Remember Death: The Surprising Path to Living Hope [Lembre-se da Morte: O Surpreendente Caminho para a Viva Esperança] (Crossway, 2018).

Traduzido por Marcos David Muhlpointner

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