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A cada janeiro muitas igrejas observam o domingo da “Inviolabilidade da Vida Humana”, e, para ser sincero, tenho uma relação de amor/ódio com isto.

Não me levem a mal. É uma alegria pregar todo o ensinamento de Deus. E, claro, não é que eu ache que o domingo da Inviolabilidade da Vida Humana seja antibíblico de alguma forma. De fato, não é. Todo o cânon das Escrituras é preenchido com compromisso de Deus com o órfão e a viúva, por sua ira pelo derramamento de sangue inocente.

E não creio que seja impróprio. Pelo contrário, assim como cada dia do Senhor deve ser Natal, com o anúncio da encarnação de Jesus, e Páscoa, com a proclamação da sua ressurreição, da mesma forma cada dia do Senhor deve destacar a dignidade e o valor da vida humana.

Em vez disso, a razão pela qual tenho sentimentos divergentes sobre este dia é que me faz lembrar que temos que dizer coisas uns para os outros, que seres humanos não deveriam ter que dizer. Que mães não devem matar seus filhos. Que pais não devem abandonar seus bebês. Nenhuma vida humana é sem valor, independentemente da cor da pele, idade, deficiência ou status econômico. O próprio fato de que estas coisas necessitam ser proclamadas é um lembrete dos horrores da presente escuridão. E odeio isto.

Mas a razão pela qual precisamos de domingos como este é porque a dignidade humana é uma questão espiritual. É uma questão espiritual porque o evangelho baseia a dignidade humana no próprio Jesus Cristo. Em Cristo, Deus juntou para sempre o divino com a carne. Jesus não se limitou a se tornar humano uma vez; ele é humano até hoje, e os propósitos de Deus em Cristo se centralizam na humanidade que carrega a imagem divina do Criador. Negar a dignidade humana, então, é negar o próprio Cristo.

O reino nos diz quem e o que importa, e isto não é determinado pela força ou força de vontade. Nenhum de nós é “viável” em nós mesmos. Podemos ser tentados a ver os vulneráveis—os nascituros, os idosos, os pobres, os doentes, os deficientes, as vítimas de abuso, os órfãos—como “os mais desfavorecidos”, mas a longo prazo, eles não o são; são filhos e filhas, nos quais Deus se deleita em fazer futuros governantes do universo.

Ao longo de toda a narrativa do evangelho, de Faraó a Herodes, os inimigos de Deus consistentemente despejam sua ira assassina sobre os inocentes. Estes ataques não são cenas meramente dramáticas na Escritura; são imagens da guerra espiritual em curso, que denigre o valor e a dignidade de cada vida humana—uma guerra que continua até hoje. Momentos como o domingo da Inviolabilidade da Vida são lembretes de que a cultura da morte ainda está guerreando.

É por isso que isto me entristece. Me entristece porque me faz lembrar dos bebês calorosamente aninhados no ventre, que poderão não mais estar lá amanhã. Me faz lembrar que há crianças, talvez até mesmo a quarteirões da minha igreja, que vão levar tapas, socos, e serão queimadas com cigarros antes do anoitecer. Me faz lembrar que há homens e mulheres idosos definhando em solidão angustiante, suas vidas consideradas como sendo um desperdício.

Mas também amo o domingo da Inviolabilidade da Vida Humana quando penso nos ex-órfãos em nossas igrejas que foram adotados por famílias amorosas. Eu o amo quando reflito sobre os homens e mulheres que servem a cada semana nos centros de gravidez para mulheres em crise. E eu amo o domingo da Inviolabilidade da Vida quando vejo homens e mulheres que abortaram bebês terem seus pecados perdoados e lavados por Jesus Cristo.

Oro regularmente para que para meus futuros bisnetos, o domingo da Inviolabilidade da Vida Humana pareça tão desnecessário quanto o domingo da Realidade da Ênfase na Gravidade.

Sempre precisaremos do Natal. Sempre precisaremos da Páscoa. Mas oro para que algum dia em breve, não precisemos do domingo da Inviolabilidade da Vida.

Traduzido por Marq.

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