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Por que ensinamos os nossos filhos a ler?

Provavelmente você nunca deu muita importância a esta pergunta. Afinal de contas, ninguém nunca lhe perguntou: “Você quer que seu filho aprenda a ler ou acha isso desnecessário?” (Se o professor do seu filho lhe tivesse feito essa pergunta, provavelmente você iria procurar uma nova escola.)

Consideramos tão óbvio que a alfabetização é benéfica para nossas vidas que nunca sequer imaginamos não ensinar nossos filhos a ler. No entanto, não damos muita atenção a porque os ensinamos a ler. Se vocês são pais cristãos, a resposta a essa pergunta deveria ser óbvia: assim eles poderão ler a Bíblia.

A Bíblia é o texto mais importante já produzido na história do mundo. Ela é o texto mais importante que seu filho jamais lerá. “Desde que Moisés desceu da montanha com duas pedras debaixo dos braços, toda a literatura pode ser dividida em dois gêneros”, diz Tony Reinke, “Gênero A: a Bíblia. . . Gênero B: todos os outros livros”.

O fato de que aprender a ler a Bíblia também ajudará seus filhos a ler placas de trânsito, mensagens de texto e Guerra e Paz certamente é benéfico. No entanto, todos os outros tipos de leitura são de importância secundária em relação à leitura da Bíblia.

Alguns missionários passam anos ou mesmo décadas aprendendo a alfabetizar povos não alcançados. Por quê? Em primeiro lugar para dar àquelas pessoas as ferramentas necessárias para lerem a Palavra de Deus por si mesmas. Como pais cristãos — missionários aos nossos próprios filhos — queremos que nossos filhos saibam ler para que um dia também possam ler a Bíblia por si mesmos. Essa mentalidade em relação ao ensino pode trazer benefícios duradouros para seus filhos. Ao invés de considerar o processo de alfabetização como um meio para alcançar o objetivo da leitura, pense nele como o meio pelo qual seu filho alcançará o objetivo de ler a Bíblia.

Como Ler o Maior dos Livros

Isto pode parecer uma distinção trivial. Afinal de contas, crianças que aprendem a ler provavelmente vão conseguir ler a Bíblia. Embora isto seja verdade, acontece uma mudança profunda quando ensinamos a leitura com o objetivo principal de ler as Escrituras. Qualquer que seja o estágio em que seu filho esteja na alfabetização — um bebê aprendendo algumas palavras pela primeira vez ou um aluno do ensino médio aprendendo vocabulário para o vestibular — considere que este é o seu objetivo: moldar a leitura dele para que possa aprender melhor a literatura que se enquadra no “Gênero A”.

Quando o objetivo da leitura é ler a Bíblia, você pensará de maneira diferente sobre a educação de uma criança em relação à alfabetização. Começará a reconhecer jeitinhos pelos quais você pode mudar o foco, especialmente nos primeiros esforços de leitura, de uma maneira que os prepare para se tornarem melhores leitores da Palavra de Deus. (Eles também vão conseguir o benefício adicional de serem melhores leitores de todos os tipos de texto).

Em 1940, o filósofo e educador norte-americano Mortimer J. Adler escreveu Como Ler Livros. Adler disse que seu livro era para leitores cujo “principal objetivo na leitura de livros é obter mais conhecimento”. Como este é um propósito explicitamente bíblico para a leitura (Provérbios 4.7) e como as diretrizes de Adler se aplicam à leitura dos Grandes Livros do Mundo Ocidental (um curso que Adler ajudou a desenvolver), seu método pode nos ajudar a preparar nossos filhos para lerem o maior do livros.

A primeira fase da leitura é a leitura elementar. Adler observa que os quatro estágios deste nível se alinham aproximadamente aos primeiros anos do currículo escolar:

Estágio 1: Prontidão para a leitura — a habilidade de seguir instruções, capacidade de sustentar a atenção e assim por diante.

Estágio 2: Domínio de palavras — a habilidade de reconhecer e ler palavras básicas, capacidade de usar dicas do contexto para discernir o significado das palavras e outra coisas mais.

Estágio 3: Alfabetização funcional — progresso rápido na construção de vocabulário, maior capacidade de usar dicas de contexto para encontrar significados e coisas do gênero.

Estágio 4: Alfabetização avançada — refinamento e aprimoramento das habilidades adquiridas anteriormente.

Neste excerto, abordaremos os dois primeiros estágios.

Estágio 1: Prontidão para a Leitura

O objetivo deste primeiro estágio é desenvolver a prontidão para a leitura da Bíblia, criando na criança um desejo de aprender a ler para que ela consiga ler a Bíblia por si mesma. Mesmo antes da criança aprender o alfabeto você pode preparar o coração e a mente dela para ouvir a Palavra de Deus através de (1) encorajar a imitação de seus hábitos de leitura e (2) a expondo-os às histórias e imagens da Bíblia.

A principal maneira pela qual as crianças “aprendem a querer” é através da imitação. Elas constantemente observam os adultos para descobrir quais comportamentos querem imitar. Uma criança pede um gole do seu café não só porque tem curiosidade sobre o gosto, mas também porque associa o consumo de café à maturidade, a ser um adulto. Eles observam mamãe e papai fazendo algo que crianças não fazem e presumem que, portanto, aquilo deve ser desejável. Por causa deste desejo de imitar, é imperativo que seu filho o veja lendo a Bíblia frequentemente. Você quer que seu filho associe a leitura da Bíblia com maturidade, especificamente um hábito de cristãos maduros.

Você provavelmente está pensando, especialmente se você tem uma criança pequena, que não consegue ter uma leitura bíblica muito produtiva se seus filhos estiverem por perto. Isso com certeza é verdade. É difícil de realizar praticamente qualquer tarefa produtiva perto de bebês, muito menos uma tarefa que requer um nível alto de atenção sustentada como a leitura da Bíblia. Sendo assim, você precisa sacrificar um pouco do seu tempo. Precisará encontrar um tempo tranquilo no qual possa estar sozinho com o Senhor para ler sua Palavra e também encontrar um tempo onde seu filho possa vê-lo lendo as Escrituras. Este último é tanto para a edificação do seu filho quanto para a sua própria edificação.

Outra forma de aumentar o desejo do seu filho pela Bíblia é expô-lo as histórias e imagens dela. Em gerações passadas isso significava ler a tradução da Bíblia dos adultos em voz alta para as crianças. Infelizmente, isso muitas vezes tinha o efeito oposto do que se pretendia. Quando as crianças ouvem uma linguagem que não entendem, elas podem ficar entediadas e desenvolver associações negativas que as levam a querer evitar tal material no futuro.

Uma solução é usar uma paráfrase — uma versão da Bíblia que preserva o significado, se não o próprio texto, em uma linguagem que é mais facilmente compreensível. Hoje em dia temos uma ampla gama de paráfrases bíblicas completas para crianças.

Outra opção, adequada especialmente para crianças em idade pré-escolar, é ler coleções de histórias bíblicas selecionadas. Como esses livros são antologias, eles não fornecem o mesmo escopo e grandeza que uma paráfrase ou tradução que contêm toda a Palavra de Deus. No entanto, esses livros proporcionam o benefício essencial de incentivar as crianças mais novas a terem contato com as Escrituras. Nesta fase de desenvolvimento este é um dos objetivos de longo prazo mais importantes que buscamos alcançar.

Estágio 2: Domínio de Palavras

Nesta fase as crianças começam a ampliar seu vocabulário aprendendo o significado de novas palavras. Para a maioria dos tipos de leitura este processo se dá com alguém explicando qual é o significado de uma palavra ou da descoberta do significado pelo contexto da história. Para a leitura da Bíblia, porém, há um modo de desenvolver o domínio de palavras que pode ser agradável tanto para você quanto para o seu filho: leve-o para o ar livre.

O Salmo 19 declara: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.” (versículos 1 e 2). Deus nos fala através desta “revelação geral”, bem como através da “revelação especial” da Bíblia, e por serem ambas formas da verdade de Deus, devemos estar sintonizados com ambos os tipos de revelação. Prestar bastante atenção à revelação geral pode enriquecer nossa leitura das Escrituras. Como explicou Scott Steltzer:

Um coração sintonizado com a canção da criação está numa posição melhor para compreender e estimar as verdades das Escrituras. Isto é verdade mesmo nos termos mais simples. Entre na minha brincadeira por um instante e leia esta lista em voz alta para si mesmo. Feche os seus olhos após cada palavra e deixe sua mente fazer conexões bíblicas:

Ovelhas. Grama verde. Estrelas. Sol. Árvore. Ramo. Semente. Raiz. Luz. Céu. Rocha. Riacho. Areia. Onda. Tempestade. Nuvem. Relâmpago. Trovão. Montanha. Campo. Penhasco. Poeira. Pedra. Gafanhoto. Flor. Pardal. Deserto. Mar. Fogo. Água.

Uma vez que entendemos mais profundamente a Deus através de sua Palavra e de seu mundo, afastarmo-nos da criação dificulta nossa compreensão de Deus.

É claro que uma criança pode aprender o que são ovelhas, gafanhotos ou sementes de mostarda simplesmente lendo sobre elas. No entanto, desenvolverão uma apreciação mais profunda quando vivenciarem a natureza em primeira mão — passando os dedos pela lã de um cordeiro, ouvindo o som de gafanhotos nos campos ou sentindo a pequenez de um grão de mostarda na sua língua.

Ir a um passeio pela natureza ou por um zoológico não é apenas uma experiência divertida. Estas atividades são meios de vivenciar a revelação geral da natureza que pode ter uma influência sobre a forma como o seu filho ou filha lê a Bíblia por toda a vida deles.

Nota dos editores: Este é um excerto do novo livro de Joe Carter, The Life and Faith Field Guide for Parents: Help Your Kids Learn Practical Life Skills, Develop Essential Faith Habits, and Embrace a Biblical Worldview [O Guia Prático de Vida e Fé para Pais: Ajude Seus Filhos a Aprenderem Habilidades Práticas da Vida, Desenvolverem Hábitos Essenciais de Fé e Adotar uma Cosmovisão Bíblica], versão em inglês disponível na Amazon (Kindle | Brochura).

Traduzido por David Bello.

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