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A História

De acordo com um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 em cada 20 mortes em todo o mundo resulta do uso nocivo do álcool, Isto representa mais de 5% da carga global de doenças. O que podem os cristãos fazer em relação a esta epidemia?

Os Antecedentes

O relatório de status global da OMS sobre álcool e saúde de 2018 examina o consumo de bebidas alcoólicas e o ônus de doenças atribuíveis ao álcool em todo o mundo, bem como o que os países estão fazendo para reduzir esse fardo.

Tal como observa o relatório, apesar de algumas tendências globais positivas na prevalência de episódios de consumo intenso e no número de mortes relacionadas ao álcool desde 2010, a carga geral de doenças e lesões causadas pelo uso nocivo do álcool é inaceitavelmente alta, particularmente nas Américas e na Europa.

Estima-se que 237 milhões de homens e 46 milhões de mulheres sofram de distúrbios do uso de álcool, com a maior prevalência entre homens e mulheres na região da Europa (14,8% e 3,5%) e nas Américas (11,5% e 5,1%). Transtornos por uso de álcool são mais comuns em países de alta renda.

De todas as mortes atribuíveis ao álcool, 28% foram devidas a lesões, tal como as causadas por acidentes de trânsito, pela autoflagelação e pela violência interpessoal; 21% são devidas a distúrbios digestivos; 19% devido a doenças cardiovasculares; e o restante devido a doenças infecciosas, cânceres, transtornos mentais e outras condições de saúde.

“Demasiadas pessoas, suas famílias e comunidades sofrem as consequências do uso nocivo do álcool por meio da violência, ferimentos, problemas de saúde mental e doenças tais como o câncer e derrames”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS. “É hora de intensificar as ações para evitar essa grave ameaça ao desenvolvimento de sociedades saudáveis”.

O que isto significa

Tal como aponta este relatório, mais da metade (57%, ou 3,1 bilhões de pessoas) da população global com 15 anos ou mais, haviam se abstido de consumir bebidas alcoólicas nos 12 meses anteriores, enquanto cerca de 2,3 bilhões de pessoas são consumidores de bebidas alcoólicas. (Em apenas três regiões da OMS — Américas, Europa e Pacífico Ocidental, mais da metade da população consome bebidas alcoólicas).

Estes grupos — vamos chamá-los de abstêmios e bebedores — espelham a comunidade evangélica. Uma pesquisa realizada em 2016 pela Barna Research revelou que 54% são abstêmios, enquanto 46% são bebedores. (Divulgação completa: sou abstêmio).

Esta divisão é frequentemente refletida em nossas atitudes e debates sobre o uso do álcool. Nos últimos 50 anos, os evangélicos tiveram a tendência de argumentar em termos absolutistas, seja defendendo a liberdade cristã (bebedores) ou defendendo a abstinência (abstêmios). Se voltássemos a 1948, provavelmente estaríamos tendo as mesmas discussões sobre o álcool que estamos tendo em 2018. Mas embora os debates sejam os mesmos, o nosso contexto social mudou. Aqui estão apenas alguns exemplos pelas quais as conversas hoje em dia deveriam ser diferentes das conversas do passado.

Nós agora consumimos mais de quase tudo — incluindo bebidas alcoólicas.

Pelo fato de que o debate sobre o consumo de bebidas alcoólicas tende a ser binário — o consumo é aceitável / o consumo é inaceitável — raramente se move para considerações de quanto do consumo é aceitável.

Na era moderna, a comida e a bebida tornaram-se mais baratas e também mais abundantes. Isso levou a um aumento nas taxas de consumo que surpreenderia nossos ancestrais. Por exemplo, em 1955, o tamanho de um refrigerante no McDonald’s era de apenas 200 ml. Nos anos 90, o copo para crianças já era quase o dobro disso (355 ml), e o copo “gigante” era seis vezes maior (1.240 ml).

Houveram aumentos semelhantes no consumo de álcool. O consumo total de álcool per capita na população mundial com mais de 15 anos subiu de 5,5 litros de álcool puro em 2005 para 6.4 litros em 2010 e ainda estava no nível de 6.4 litros em 2016. Os níveis mais altos de consumo de álcool per capita são observados em países da Região Europeia da OMS.

Presentemente, cada pessoa que bebe, consome em média 32,8 gramas de álcool puro por dia. O consumo é cerca de 20% mais alto (40 g / dia) na Região Africana e cerca de 20% mais baixo (26,3 g / dia) na região do Sudeste Asiático. Desde o ano 2000, o consumo médio de bebidas alcoólicas aumentou em quase todas as regiões, exceto a Região Europeia da OMS.

Até 2025, o consumo total de bebidas alcoólicas per capita por pessoas com 15 anos de idade ou mais deverá aumentar nas Américas, sudeste da Ásia e no Pacífico Ocidental. É improvável que isso seja compensado por quedas substanciais no consumo nas outras regiões. Como resultado, o consumo anual de bebidas alcoólicas per capita no mundo pode chegar a 6.6 litros de álcool puro em 2020 e a 7.0 litros em 2025, a menos que as tendências crescentes no consumo de bebidas alcoólicas na Região das Américas e no Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental sejam interrompidas e revertidas.

Ambos abstêmios e bebedores devem ser capazes de examinar as evidências empíricas e chegar a um acordo geral sobre o que constitui níveis de consumo imprudentes, insalubres ou perigosos.

Durante séculos, abstêmios e bebedores debateram qual era o teor alcoólico do vinho nos tempos bíblicos. Embora não possamos ter certeza, podemos estimar um limite de 8% a 10% de álcool por volume. A razão é que, durante a maior parte da história da humanidade, o vinho era fermentado com “fermento nativo”, que fornece um teor alcoólico entre 4% e 10%.

Hoje, um vinho com “baixo teor alcoólico” tem o nível máximo dos vinhos da época bíblica — cerca de 10% de álcool por volume. O vinho típico vendido hoje está na faixa de 11,5% a 15% de álcool por volume, com os vinhos mais fortes tendo entre 17% a 23%.

Este aumento no teor de álcool é devido aos avanços da ciência e tecnologia. Como nota Madeline Puckette, na década de 1950, a levedura não sobrevivia em níveis de álcool muito superiores a 13,5%. Hoje, no entanto, desenvolvemos leveduras resilientes que podem sobreviver em níveis de álcool de até 16,5%.

“Não é imaginação. O vinho realmente ficou mais forte”, escreveu Jennifer Frazer na Scientific American. “Nas últimas duas décadas, o teor alcoólico máximo do vinho subiu de cerca de 13% para, em alguns casos, mais de 17%, um efeito colateral da crescente popularidade dos vinhos com sabor de frutas mais rico”.

Olhando por uma perspectiva de um copo de vinho individual, o aumento do teor de álcool pode não ser problemático. Mas se uma pessoa toma dois copos por dia, ela está consumindo quase 10% mais álcool por dia do que alguém na década de 1950 — e o dobro da quantidade de um bebedor de vinho nos tempos do Novo Testamento. Isso também significa que os “bebedores frequentes” (8 ou mais drinques por semana para mulheres e 15 ou mais drinques por semana para homens) estão consumindo significativamente mais álcool com menos bebidas do que os bebedores frequentes ​​de quatro décadas atrás.

Enquanto bebedores e abstêmios possam discordar sobre qual era o teor de álcool no vinho do casamento de Caná (Jo 2.1-12), devemos concordar que o aumento do teor alcoólico do vinho pode ter sérias consequências sobre a saúde da sociedade.

Um aspecto em que tanto os abstêmios quanto os bebedores podem mais facilmente concordar é o problema do consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes.

Em todo o mundo, mais de um quarto (26,5%) de todas as pessoas de 15 a 19 anos são consumidores, totalizando 155 milhões de adolescentes. As taxas de prevalência de consumo atual são mais altas entre os jovens de 15 a 19 anos na Região Europeia da OMS (43,8%), seguidas pela Região das Américas (38,2%) e a Região do Pacífico Ocidental (37,9%).

Resultados de pesquisas escolares indicam que em muitos países das Américas, Europa e Pacífico Ocidental o consumo de bebidas alcoólicas começa antes dos 15 anos de idade, e a prevalência de consumo de bebidas alcoólicas entre estudantes de 15 anos pode estar na faixa de 50% a 70% com diferenças notavelmente pequenas entre meninos e meninas.

Em todo o mundo e em todas as regiões da OMS, a prevalência de consumo episódico intenso é menor entre adolescentes (15 a 19 anos) do que na população total, mas atinge o pico aos 20 a 24 anos quando se torna superior à da população total. Com exceção da Região do Mediterrâneo Oriental, todas as taxas de prevalência de episódios intensos de consumo entre os bebedores de 15 a 24 anos são maiores do que na população total. Jovens de 15 a 24 anos, que sāo consumidores de bebidas alcoólicas, frequentemente o fazem em sessões de bebedeira. A prevalência de consumo episódico pesado é particularmente alta entre os homens.

Já não é suficiente dizer às crianças que não bebam. Necessitamos encontrar uma maneira de nos unir e abordar como e por que nossa cultura está atraindo os adolescentes para o consumo precoce e extremo de bebidas alcoólicas.

Bom o Suficiente para Jesus

J. Lawrence Burkholder escreveu que “É justo dizer que tanto a abstinência total quanto o uso moderado eram aceitáveis ​​para Jesus”. Se essas posições eram aceitáveis ​​para Jesus, também devem ser aceitáveis ​​para nós. Mas embora a tolerância de opiniões divergentes sobre o consumo de bebidas alcoólicas deve ser o nosso ponto de partida, temos o dever de considerar como nossas opiniões necessitam ser moldadas pelo nosso contexto cultural.

O uso nocivo do álcool não é mais um problema que os cristãos possam ignorar. Para realmente buscar o bem-estar de nossas cidades — e do mundo — necessitamos encontrar um meio para que todos os crentes, sejam eles abstêmios ou bebedores, encontrem uma maneira de falar sobre o álcool de uma maneira que melhor sirva ao nosso próximo.

Traduzido por Raul Flores.

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