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Estamos assistindo hoje ao ressurgimento gigantesco de uma visão de mundo antagônica ao cristianismo, aparentemente nova, mas que nada mais é que o antigo paganismo.

Historicamente, o paganismo, como religião e cosmovisão do antigo Império romano, teve seu declínio com o advento e crescimento assombroso do cristianismo, a partir do século I, e mais tarde, séculos depois, seu fim, com o domínio do racionalismo e a consequente secularização do Estado. O curioso é que, em paralelo com essa secularização, ressurge das cinzas nos dias de hoje aquele mesmo velho paganismo, travestido de nova espiritualidade, crescendo e se alastrando em todos os círculos da sociedade ocidental moderna, que foi construída sobre valores cristãos.

A diferença fundamental entre a visão pagã de mundo e o cristianismo reside na questão das distinções. Para o paganismo, a realidade consiste em um único elemento; o universo é uno e harmônico, e todas as coisas são meras formas, ou manifestações, de uma única substância. Em outras palavras, a realidade deve ser vista como um todo uniforme, sem distinções de seres ou de existências. Toda a realidade está num mesmo círculo. Em contraste, o cristianismo entende que há distinções fundamentais na base da nossa existência e da realidade como um todo. Os cinco pontos a seguir ilustram essa diferença esse contraste.

1) A distinção entre Deus e o mundo – na visão pagã de mundo, que mais e mais domina a nossa civilização, Deus e o mundo são um. A melhor figura para ilustrar essa visão é a de um círculo. Deus e o mundo estão dentro do mesmo círculo, têm níveis de existência iguais, e um é a extensão do outro. Tudo está unido em uma única realidade divina. O mundo criou-se a si próprio por meio da evolução. Possui uma força interior própria que o sustém e o mantém sempre no processo evolutivo. Segundo essa concepção, o mundo não precisa de um Criador distinto de si. Um exemplo do impacto da nova espiritualidade é o surgimento da ecologia radical, que se tornou uma religião para seus adeptos, divinizando, a seu modo, a Terra e seus ecossistemas.

O cristianismo, em contraste, declara que Deus e o mundo são distintos e se situam, portanto, em círculos diferentes. Deus existe eternamente por si só. Ele criou o mundo não como uma extensão de si mesmo, mas como uma existência à parte.

2) A distinção entre Deus e a humanidade – na visão pagã, a humanidade é una com Deus, uma expressão da divindade. Não precisamos reverenciar algo além de nós mesmos. Não existe um Deus pessoal que se comunica por meio da verdade objetiva. Não estamos debaixo de regras ou autoridade, e podemos criar nossas próprias leis, estabelecer nossos próprios valores.

Para o cristianismo, porém, o ser humano, embora traga em si a imagem e semelhança de Deus, foi por este criado não como uma extensão de Deus, mas como uma criatura com existência distinta e separada do Criador. A relação entre o homem e Deus é de subordinação da criatura ao Criador, o que implica respeito, obediência e adoração do ser criado diante de quem o criou. Quem estabelece a verdade e as regras é o Criador, e não a criatura.

3) A distinção entre religiões – o paganismo considera que todas as religiões são, na verdade, uma só. Se toda a humanidade é de fato uma só, então só existe uma religião no final das contas. Todas as religiões compartilham da mesma experiência mística, por meio da qual seus adeptos se tornam divinos.

Já para o cristianismo, deve ser feita uma distinção entre as duas únicas religiões que, na realidade, existem: de um lado o paganismo, que se manifesta sob a forma de muitas religiões, diferentes mas concordantes que o ser humano alcança a bem-aventurança com base em seus próprios méritos, e do outro lado o cristianismo histórico, segundo o qual Jesus Cristo se apresenta como o único e suficiente Salvador da condição humana e onde a salvação é oferecida pela graça.

4) A distinção que diz respeito ao problema do ser humano – para a visão pagã de mundo só existe um verdadeiro problema: as distinções, ou separações, criadas pelo cristianismo. Dessa forma, os adeptos do paganismo moderno defendem que é preciso rejeitar essas separações. Só assim a humanidade poderá se conscientizar da unidade mística de todas as coisas. Em linhas gerais, a espiritualidade pagã deseja abolir as várias separações ou dicotomias, que ela considera a causa única dos problemas do ser humano, por exemplo:

Deus/mundo
Deus/homem
Humanos/animais
Certo/errado
Homem/mulher

Para o cristianismo, todavia, essas distinções foram introduzidas pelo próprio Deus. O problema do homem, contudo, não são essas várias separações, mas sim a separação que é a causa de todos os males, problemas, dores e angústias da humanidade: a separação moral e espiritual entre o ser humano e Deus. Essa é que é de fato a grande divisão. Essa separação é, obviamente, negada pela visão pagã de mundo, que coloca Deus e o ser humano dentro do mesmo círculo.

Para o cristianismo, porém, essa separação radical é causada pela nossa inclinação para o mal, o egoísmo, a crueldade, em contraste com a natureza de Deus, que é perfeito, justo, verdadeiro e coerente. Como consequência, separado do Criador, o ser humano vive uma existência às cegas, solitária, repleta de incertezas, angústias, culpas e apreensões, tendo como referencial apenas a si próprio ou a natureza.

5) A última distinção refere-se à solução proposta para o problema do ser humano – o paganismo prega que a solução está dentro de cada um. Ele diz que o círculo se completa quando o ser humano entra em si mesmo. O eu precisa assentar-se no centro das coisas. Isto se faz pela eliminação tanto das separações antes mencionadas quanto dos controles racionais. A espiritualidade desejada não se encontra no mundo das ideias, mas, sim, no das experiências. Os hippies, por exemplo, pensavam que as drogas deviam ajudar nessa viagem de autodescoberta. Muitas pessoas, por sua vez, usam a meditação para descobrir a conexão entre elas e o todo.

O cristianismo, contrariamente, afirma que a solução está fora de nós. O homem é incapaz de encontrar em si mesmo os referenciais e as respostas que busca, pois encontra-se num estado de queda e separação. Deus, por sua vez, revelou-se em Cristo Jesus e propõe uma reconciliação com sua criatura caída, mediante o perdão gratuito dos pecados dela.

A solução, portanto, não está dentro de nós, como deseja o paganismo, mas fora de nós, na pessoa maravilhosa de Jesus Cristo e na sua obra de salvação, realizada em sua morte e ressurreição.

Fonte: facebook.com

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