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Jon Fielder poderia ter conseguido um emprego em qualquer lugar.

Ele se formou com distinção no prestigiado Williams College, e depois se formou com honras na faculdade de medicina de elite no Baylor College. A seguir fez residência em medicina interna na Universidade Johns Hopkins, onde foi eleito o melhor residente de sua turma.

Fielder estaria “no auge da sua profissão nos Estados Unidos”, disse Mark Gerson, seu colega de faculdade, que estava fazendo exatamente isso: fundando uma comunidade bem sucedida de aprendizagem de negócios entre profissionais de alto nível.

Mas em vez de cortejar hospitais e universidades para obter ofertas de emprego, Fielder comprou uma passagem de avião para o Quênia. Após sua formatura, ele foi para um hospital missionário que não tinha nem funcionários suficientes, nem suprimentos, nem financiamento. Trabalhava de 10 a 12 horas por dia, passou um ano longe da sua noiva e ficou de plantão na unidade de terapia intensiva por dois anos seguidos sem nenhuma pausa substancial.

Fielder examina um paciente no Malauí.

Ele trabalhou com uma farmácia que não mantinha inventário e iniciou um programa de tratamento de HIV com funcionários que não eram treinados em tratamento de HIV. Fez educação continuada não em conferências em Boston ou Nova Iorque, mas com livros impressos e, mais tarde, com uma conexão à Internet e publicações online. (“Certa vez, usei um livro antigo para misturar soluções de diálise peritoneal [abdominal] para uma paciente cujos rins estavam desativados como complicação da gravidez”, disse ele. “Ela sobreviveu”).

Ele enfrentou a maior crise de saúde do mundo, HIV e AIDS, em seu epicentro. Trabalhava em tempo integral em um hospital no Malauí, enquanto publicava mais de uma dúzia de artigos e resumos para periódicos médicos, escrevendo um livro sobre como lidar com a tuberculose em pacientes com HIV (a principal causa de morte da maioria dos pacientes com AIDS na África) e começou uma fundação que doaria milhões para outros hospitais de missões carentes na África.

Essa fundação, a African Mission Healthcare Foundation (AMHF) [Fundação de Saúde Missionária na África], talvez seja o acontecimento mais surpreendente de todos. Porque onde é que um médico missionário, que passou toda a sua carreira servindo pessoas que vivem na pobreza, conseguiria milhões de dólares para doar?

Não que Fielder seja um orador ou promotor carismático, viajando por aí angariando fundos. (Ele é mais do tipo que, quando está perante reconhecimento, imediatamente sugere outro médico).

Mas ele tem aquele melhor amigo da faculdade, o judeu devoto Gerson.

Melhores amigos

Quando Gerson conheceu Fielder em seu primeiro ano na Williams, percebeu imediatamente que Fielder “era a pessoa mais intelectualmente rigorosa e que levava a moral mais a sério que conheci”.

Fora da sala de aula, Fielder lia a revista Commentary [Comentário], a revista de políticas The Public Interest [O Interesse Público] e a revista The National Interest [O Interesse Nacional]. (Elas cobrem e discutem assuntos políticos, culturais e relações exteriores).

“O que ele lia e como ele pensava era diferente de qualquer outra pessoa da nossa idade”, disse Gerson. “Ele me apresentou ao mundo das ideias sérias”.

Gerson também se formou com distinção. Os dois permaneceram em contato quando Gerson foi para a Faculdade de Direito de Yale e Fielder foi para a escola de medicina do Baylor College, onde ele conheceu a Cristo (“o resultado de um exame de consciência e de Deus me convencer de meu pecado”). Fielder, imediatamente levando sua fé a sério, trancou matrícula na faculdade de medicina por um ano para trabalhar com a organização da Madre Teresa em Calcutá.

“Eu sempre havia seguido a rota das conquistas acadêmicas”, disse Fielder. “Senti Deus realmente me dizendo que eu necessitava fazer algo diferente”

Fielder e Gerson no Quênia

Ele retornou para terminar a faculdade de medicina e fazer residência em medicina interna na Johns Hopkins. Ele não saiu da rota de conquistas acadêmicas – foi escolhido como o melhor residente de sua classe – mas agora sua energia estava voltada para uma direção diferente.

“Passei as longas horas de minha residência navegando sites missionários, como eram entāo – eram bastante incipientes naquela época”, disse ele. “Estava procurando um lugar para ir quando terminasse meus estudos”.

Ele encontrou um lugar. Alguns meses após se formar na Johns Hopkins, Fielder pediu a namorada em casamento e (no dia seguinte) mudou-se para o Quênia.

“Ele me ligou e disse: ‘Sou cristão e fui chamado para servir os pobres na África’”, lembra Gerson. “Não fiquei nem um pouco surpreso”.

Gerson imediatamente entrou no barco – “suas doações para apoiar pacientes infectados pelo HIV no hospital começaram antes mesmo de eu chegar”, relatou Fielder à escola onde estudaram.

A sincronia não poderia ter sido melhor. Fielder era especializado em doenças infecciosas, e a África estava atormentada por uma das piores doenças infecciosas. As mortes por AIDS no mundo atingiriam seu pico em 2005 em cerca de 2 milhões; quase três quartos destas ocorreram na África subsaariana.

Uma Pandemia

As primeiras cepas do HIV se originaram em chimpanzés da República dos Camarões e passaram para os humanos na década de 1920. No início dos anos 1960, cerca de 2.000 pessoas provavelmente estavam infectadas. Em 1993, ajudado pelo crescimento do comércio sexual e das ferrovias públicas, o número pulou para 14 milhões; dos quais, 9 milhões viviam na África subsaariana.

Em 2001, mais de 20 milhões de pessoas ao sul do Saara tinham AIDS.

Felizmente, naquela época, empresas farmacêuticas já haviam inventado os medicamentos antirretrovirais para gerenciar a doença e evitar a sua disseminação. Mas somente 8.000 africanos sub-saarianos tinham acesso a eles.

Em Kijabe, no Quênia, um médico chamado Nate Smith estava trabalhando em um hospital missionário com uma população entre 8% e 15% de soropositivos. Fielder escreveu-lhe uma carta perguntando: “Posso ir aí?”.

Smith não recusou, mas também não teve oportunidade para treiná-lo. Cerca de uma semana depois da chegada de Fielder, Smith retornou aos Estados Unidos, deixando Fielder como o único funcionário do hospital que sabia como tratar pessoas com HIV.

Kijabe Mission Hospital, no Quênia (edifício em forma de cruz)

O problema não era saber o que fazer (Fielder havia estudado isto), mas sim ter acesso aos remédios certos. Em 2000, o coquetel salva-vidas de medicamentos antirretrovirais custava US$10.000 por paciente por ano. Em 2001, quando empresas de genéricos começaram a oferecê-los, o preço caiu para US$350. Mas isso ainda era uma quantia impossível para um país onde um terço das pessoas sobrevivia com menos de US$1,25 por dia.

Portanto, Fielder começou a usar as doações de Gerson para subsidiar o custo das drogas, pedindo aos pacientes que pagassem apenas o que pudessem. Ele estava batalhando a epidemia da melhor maneira possível, planejando partir depois de dois anos.

Mas em 2004, quando os dois anos de Fielder estavam terminando, o dinheiro do President’s Emergency Plan for AIDS Relief (PEPFAR) [Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da AIDS] chegou ao Quênia.

“Realmente acreditamos que Deus estava nos chamando para ficar mais tempo, porque o nosso hospital não tinha mais ninguém para liderar o programa PEPFAR”, disse Fielder. “Vimos uma oportunidade e a responsabilidade de fazer parte do plano de implementaçāo”.

PEPFAR

Em seu discurso sobre o Estado da União em 2003, o presidente George W. Bush pediu ao Congresso “uma obra de misericórdia além de todos os esforços internacionais atuais” para “virar a maré contra a AIDS”. Os membros do Congresso aplaudiram de pé e, em seguida, votaram uma verba de US$15 bilhões para tratamentos antirretrovirais em 15 países, 13 deles na região subsaariana. (O PEPFAR foi re-autorizado e expandido; até hoje, os Estados Unidos investiram mais de US$70 bilhões nele).

Mwiindi e Fielder

“Sem o PEPFAR, a maioria dos [doentes infectados pelo HIV] teria morrido”, disse Jonathan Mwiindi, que começou a trabalhar como farmacêutico no hospital de Fielder em 2003. “De maneira nenhuma teríamos conseguido os recursos necessários para estabelecer um programa contra o HIV, onde o tempo gasto no hospital é pequeno se comparado à identificação, encaminhamento e acompanhamento na comunidade”.

Parece de cabeça para baixo, mas é verdade. As milhões de pessoas que estavam morrendo de AIDS não sentiam urgência em procurar um médico.

“Durante os primeiros dias do PEPFAR, estávamos sob pressão para encontrar pacientes com HIV e dar tratamento a eles”, disse Fielder. “Não dava para simplesmente esperar no hospital”.

Porque entrar em um hospital e admitir que você tem um vírus que está matando quase 7% do seu país não é uma tarefa fácil. (Pense em ter que confessar que é um zumbi). Arrisca-se sofrer vergonha social e isolamento apenas por ser portador da doença. E talvez nem saibam que é possível receber ajuda médica.

Ou – pior de tudo – talvez seu pastor tenha dito para você não ir.

Pregadores da Teologia da Prosperidade

Num domingo em março de 2001, 161 pessoas soropositivas foram ouvir o pastor John Nduati. Ele os chamou à frente da igreja, onde eles caíram “como uma fileira de dominós quando o pastor os proclamou curados”, relatou o The New York Times.

Nduati não é o único que oferece cura espiritual. A carismática Igreja Redimida Cristã de Deus diz aos seus 2 milhões de membros que o HIV é um “espírito demoníaco” que pode ser expulso. Um pastor de Nairobi conduz as pessoas através de uma “cura” pública que inclui queimar seus medicamentos antirretrovirais e pagar ao pastor uma taxa robusta. Um “profeta” zimbabuano promete curar o HIV através de suas transmissões via satélite. E na África do Sul, um pregador da teologia da prosperidade alega que cura os membros da igreja do HIV pulverizando inseticida sobre eles.

Gerson e Fielder com pacientes cujos tratamentos para o HIV foram subsidiados por Gerson e alguns outros antes do PEPFAR. Fielder diz que “todos estão bem”.

O efeito pode ser devastador; ficar sem os antirretrovirais não só faz com que os pacientes não gerenciem a doença, mas também os coloca em risco de desenvolver uma resistência aos medicamentos.

“Levamos isto muito a sério”, disse Fielder. A teologia da prosperidade “não é um desafio pequeno”.

Fielder e a sua equipe monitoram de perto se os pacientes estão retornando para receber mais medicamento. E ele diz aos infectados: “Deus está operando. Está te curando. Estes remédios vieram de algum lugar e não do diabo. Ele baseia isso em Tiago 1.17: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes”.

Mas a melhor resposta aos pregadores da teologia prosperidade tem sido os pregadores do evangelho.

Pregadores do Evangelho

Perplexo, Fielder averiguou outros programas de tratamento e uma rede de igrejas afiliadas à Compassion International na região que tratavam de pais infectados. Como atraiam as pessoas com HIV e as mantinham envolvidas? A resposta: ação comunitária e envolvimento pastoral.

O presidente do conselho do hospital do Fielder era líder da rede de pastores regionais, e convidou 150 pastores para um treinamento de três dias para aprender sobre a biologia básica do HIV, os remédios e a importância de manter o cronograma de tratamento.

“Essa sessão de treinamento foi a iniciativa mais importante que já promovemos na comunidade”, disse Fielder. “Os pastores e as igrejas responderam maravilhosamente. Muitos encaminharam pacientes, levaram doentes em seus próprios carros, organizaram grupos de apoio nas suas igrejas, e lideraram reuniões de oraçāo e estudos bíblicos em grupos de apoio”.

“Passamos de 60 para 200 pacientes em um mês”, disse Mwiindi.

O primeiro treinamento de pastores sobre cuidados de HIV feito pelo Kijabe Mission Hospital.

Fielder não parou por aí. Ele e a sua equipe desenvolveram um currículo para pastores sobre o papel deles durante o processo de tratamento. Em dois anos, o número de pessoas sob tratamento antirretroviral no Hospital Kijabe saltou de 120 para 1.800. Desde então, subiu para cerca de 5.500. (Um pastor encaminhou tantos pacientes que Fielder teve que pedir a ele que diminuísse a velocidade porque o hospital não conseguia dar conta. “Não tenho certeza se ele ouviu!”.)

“As comportas foram abertas porque as pessoas vão aos pastores em busca de conselhos”, disse Mwiindi. “Depois que eles se envolveram e se comprometeram, funcionou de forma maravilhosa. Mas também tínhamos uma equipe muito competente, que o Jon havia treinado muito bem”.

Na verdade, ele os treinou tão bem que o hospital iniciou um programa prático que agora certifica 75% dos provedores de serviços de saúde para HIV no Quênia. Até agora, o currículo de uma a quatro semanas treinou mais de 2.500 pessoas sobre o tratamento do HIV. (Em 2011, Fielder acrescentou aulas sobre o diagnóstico e tratamento da tuberculose relacionada ao HIV).

Mas enquanto Fielder estava resolvendo um problema, ele percebeu outro.

Negligência de Hospitais Missionários

“Eu passava muito tempo na comunidade”, disse Fielder, que viajava pelo Quênia ajudando outros hospitais a iniciar programas de tratamento para o HIV. “Pude observar muitos hospitais missionários diferentes”.

Observou “o trabalho sólido que as pessoas estavam fazendo, mas também que muitos dos missionários originais haviam voltado para casa, e as pessoas estavam tentando manter a obra funcionando”.

Tinham dificuldade para iniciar os programas de tratamento porque não tinham clínicas, nem alojamento para a equipe, nem espaço para laboratórios, nem pessoal treinado.

“Guardei isso no fundo da minha mente”, disse ele – “o que podemos fazer sobre esses lugares incríveis que não devem ser esquecidos?”

Ele continuou a pensar nisto enquanto mudava sua família para o Malaui para repetir o processo de educação e treinamento sobre o HIV em outro hospital missionário. E se lembrou de Gerson, que estava fornecendo “poder de fogo intelectual e uma generosidade até constrangedora” durante todo este tempo.

O chefe de cirurgia e diretor de residência em cirurgia, Russell White, trabalha com estudantes de medicina no Tenwek Mission Hospital, no oeste do Quênia.

“Pouquíssimos dos outros missionários têm um grupo de amigos como eu tenho para ajudar financeiramente”, Gerson se lembra dele dizer. “Eles estão todos fazendo um trabalho extraordinário em servir aos pobres, e não conseguem fazer muito marketing porque, se se ausentarem do hospital, um grande número de pessoas não terá médico… Vamos começar uma fundação que fornecerá apoio [financeiro]”.

Hospitais missionários são uma combinação perfeita para doadores: eles são constituídos institucionalmente para durar, e um pouco de financiamento adicional ajuda muito.

“Quando se sobrevive 100 anos em meio à guerra, à pobreza, às epidemias e missionários retornando a casa, e ainda está funcionando, isto é prova de um trabalho sustentável”, disse Fielder.

Mas não estāo florescendo. Sem dinheiro para atualizar instalações ou comprar novos equipamentos, as antigas instalações e equipamentos acabam se desgastando. Sem possibilidade de aumentar os preços (se fizerem isso, “as pessoas nāo terāo como se tratar”), os médicos não podem oferecer mais do que serviços básicos, ou treinar alguém para cobri-los depois que eles forem embora.

Não foi difícil convencer o Gerson. Em 2010, os dois ex-colegas de faculdade formaram a African Mission Healthcare Foundation (AMHF) [Fundação de Saúde Missionária na África].

Fundação de Saúde Missionária na África

Cerca de 11 por cento do populaçāo mundial vive na África Subsaariana. Muitos deles enfrentam falta de saneamento e nutrição, o que os torna vulneráveis: eles carregam 24% da carga mundial de doenças (e 60% da carga da AIDS).

Ao mesmo tempo, a região tem apenas 3% da populaçāo de trabalhadores de saúde do mundo. Parte disso é a falta de formação médica (havia apenas 169 faculdades de medicina identificadas em 40 países subsaarianos em 2012) e parte é a “fuga de cérebros”, os médicos africanos habilidosos e bem treinados frequentemente se mudam para países desenvolvidos, como os Estados Unidos. A Organização Mundial da Saúde estima que o déficit da mão de obra da África é de 1,8 milhão de profissionais de saúde.

Historicamente, grande parte da assistência médica da África Subsaariana foi fornecida por missionários e cristãos africanos em hospitais de igrejas. Mesmo agora, 20% a 50% dos cuidados de saúde são fornecidos por centros médicos religiosos. Um funcionário do Malauí disse a Fielder que 70% das enfermeiras de seu país foram treinadas por hospitais missionários.

Mas à medida que o cristianismo na África cresce e a liderança nativa assume, menos missionários ocidentais estão sendo enviados. Essa mudança enfraquece os hospitais missionários de várias maneiras.


O médico missionário Jason Fader ensina alunos em seu hospital no Burundi.

“Muitos desses hospitais foram construídos sob o modelo econômico que tinha trabalho missionário gratuito em muitas posições importantes, por um longo tempo”, disse Fielder. “Muitos desses cargos já foram transferidos para os africanos, mas eles não têm apoio financeiro externo e necessitam ser pagos”, disse ele. “Além disso, os médicos africanos não têm conexões com igrejas americanas ou europeias. Como atualizar equipamentos médicos ou encontrar uma forma de mandar alguém para estudar medicina se estas conexões nāo existem?”

Nos Estados Unidos, o governo, organizações filantrópicas ou empresas farmacêuticas entram em ação. Mas isso não acontece na África rural. Lá, fica-se sem. O orçamento apertado disponível fica cada vez mais magro. Quando o equipamento quebra, não se consegue trocar. Quando os funcionários saem, não há ninguém para ocupar seu lugar.

É nesta brecha que a AMHF está entrando. Nos últimos cinco anos, Fielder, Gerson e a sua equipe distribuíram US$18 milhões para fornecer remédios e suprimentos, treinar médicos e enfermeiros, e construir instalações melhores.

Financiamento

Gerson e Fielder são cuidadosos com o dinheiro. Cada despesa da AMHF é apresentada publicamente assim que acontece (ganhando o selo mais alto de transparência da Guidestar). Visto que um doador cobre as despesas operacionais, 100% de cada doação é gasto no campo. Até o efeito esperado é monitorado cuidadosamente – por exemplo, as 20 enfermeiras para as quais a AMHF pagou o treinamento atenderão 1,6 milhão de pacientes em suas carreiras. Os quatro cirurgiões realizarão mais de 40.000 cirurgias.

Fielder é o diretor executivo de campo, e ele leva a sério a escolha de hospitais missionários para fazer em parceria por um período longo (já trabalharam com 38 hospitais missionários em 16 países). Ele gasta cerca de um terço de seu tempo viajando, muitas vezes para verificar seu progresso ou avaliar suas necessidades.

Fielder e Gerson no Quênia

Gerson é o presidente do conselho e leva a generosidade a sério. Ele passa muito tempo fazendo a comunicação e captação de recursos que os médicos da AMHF não conseguem fazer. (Até agora, 3.100 pessoas, igrejas, empresas e fundações doaram). Ele só foi visitar Fielder uma vez na África, relutante em gastar em uma passagem de avião o dinheiro que poderia ser gasto em cuidados médicos. E seu talão de cheques está quase sempre aberto.

Um exemplo: os Gersons estão fazendo uma parceria com a Christian Broadcasting Network para cobrir em até US$1 milhão as ofertas para a AMHF, transformando-as em uma doação de US$ 2 milhões. E no ano passado, Gerson e sua esposa criaram um prêmio L’Chaim de US$500 mil que atraiu interesse da mídia.

O primeiro vencedor foi Jason Fader, um dos 13 cirurgiões do Burundi, que está usando o dinheiro para comprar macas para o seu hospital, criar treinamento médico e melhorar os cuidados com as fraturas nas pernas, crucial para uma população que anda a pé por toda parte. Este ano, o cirurgião cardiotorácico Russell White usará o dinheiro para treinar cirurgiões para reparar válvulas cardíacas, que muitas vezes sofrem dano por causa de faringite estreptocócica não tratada.

Amor ativo

Se Fielder tivesse ficado nos Estados Unidos, provavelmente receberia um alto salário. Provavelmente trabalharia em instalações de alto nível com colegas qualificados e uma ampla gama de opções de tratamento para os pacientes.

Na medicina rural africana, “os desafios são enormes”, disse ele. “O desânimo vem de ver tanto sofrimento e mortes precoces, especialmente como resultado de doenças potencialmente tratáveis. ‘Por que essa doença não foi diagnosticada antes?’ ‘Por que demorou tanto para a família levar o doente ao hospital?’ Porque eles não tinham dinheiro, claro”

Ele visitou hospitais – especialmente instalações governamentais – com recursos extremamente limitados. “Durante visitas clínicas nos dizem: ‘Se tivéssemos antibióticos, usaríamos aqui’ ou ‘Se tivéssemos um aparelho de raio-X, poderíamos checar se há tuberculose.’ Pode ser totalmente desmoralizante”.

Apesar de tudo isso, “a energia e a disciplina de Fielder são incríveis”, disse Mwiindi, que agora é o vice-presidente dos programas da AMHF. Ele conhece Fielder há 15 anos. “Ele não trabalha porque não tem opções, mas porque é movido a isso. Tudo o que vê é que está onde Deus o quer e onde ele pode ter mais impacto”.

“Ele é a melhor pessoa que eu conheço – um homem de fé profunda com total determinação para servir a Deus através do serviço a seus filhos”, disse Gerson. “Ele faz você perceber o quanto uma pessoa orientada corretamente pode realizar”.

Fielder baseia a seu trabalho em Mateus 25.31-46, a história de Jesus separando as ovelhas dos cabritos com base em como eles trataram “a um destes meus pequeninos irmãos” durante a vida. Quando fica desanimado, ele se apega a um trecho de Os Irmãos Karamazov, de Fyodor Dostoyevsky “Ora, predigo-lhe que no momento mesmo em que [você] verificar com terror que, malgrado todos os seus esforços, não somente [você] não se aproximou do alvo, mas até mesmo dele se afastou, nesse momento, predigo-lhe, [você] atingirá o alvo e verá acima [de si] a força misteriosa do Senhor, que o terá guiado com amor, sem que [você] soubesse”, um personagem diz ao outro.

Fielder é encorajado pela boa obra que ele vê.

“Os hospitais de igrejas são realmente de propriedade das comunidades locais e inseridos nelas, eles prestam conta pelos seus compromissos de fé às entidades religiosas, e têm um propósito maior apontando para uma esperança real e para o otimismo, características necessárias para melhorar os sistemas”, disse ele. “Essas instituições, como qualquer empreendimento humano, não são perfeitas, mas os mecanismos geralmente existem para corrigir erros e melhorar, assim como na própria igreja”.

A compaixão e a persistência dos hospitais e médicos missionários é “um testemunho poderoso”, disse Fielder. “Nossos parceiros contribuem para o Grande Mandamento e também para a Grande Comissão. Muitos ministram em áreas não alcançadas ou a grupos não alcançados. As instalações nutrem a fé cristã de seus funcionários. E eles mostram todo o amor e a compaixão de Cristo em um mundo muitas vezes desprovido de simples misericórdia”.

 

Traduzido por Mariana Alves Passos

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