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obs. Transcrição gerada por IA.
GUERRA: Olá, sejam todos bem-vindos. Eu sou o pastor Tiago Guerra, pastor da Igreja da Trindade e faço parte da Coalizão pelo Evangelho. Nós estamos aqui na Conferência Fiel, celebrando os 40 anos dessa belíssima conferência, né? Que tem abençoado todos nós, nossas igrejas e etc.
Estou ao lado aqui do meu amigo, o pastor Judiclay Santos, pastor há mais de 20 anos, pastor da Igreja Batista Jardim Botânico, linda igreja lá no Rio de Janeiro. E nós vamos falar exatamente sobre Ministério Pastoral. Primeiramente, seja bem-vindo e já vou emendar a pergunta para você.
Dada a sua experiência no Ministério Pastoral, o que você entende que é o maior desafio hoje com relação ao Ministério Pastoral?
JUDICLAY: Maravilha! Antes de tudo, quero agradecer a oportunidade. É uma bênção poder estar na Conferência Fiel, nessa data tão singular que é a 40ª conferência, entre amigos, sendo edificado, tendo a fé fortalecida. Aqui ao seu lado, que tem sido um amigo.
Esse trabalho da Coalizão também tem encorajado muitos pastores a permanecer firme na pregação do Evangelho. Essa sua pergunta, ela é extremamente importante, porque existe uma estreita relação entre o púlpito e os bancos. Em alguma medida, a igreja é o que é o seu pastor ou seus pastores.
Na atual conjuntura, olhando esse Brasil continental, de norte a sul, não apenas eu, mas muitos outros têm observado que uma das maiores necessidades da atual conjuntura no cenário evangélico brasileiro é a formação de novos pastores. Nós tivemos, na história do Brasil, da Igreja Evangélica Brasileira, notáveis nomes, o Evangelho chegou aqui, avançou para variadas regiões do país, mas nas últimas décadas houve um enfraquecimento muito grande, de modo que há uma grande necessidade de novos pastores. E a questão é que os seminários, com o quanto importantes, eu sou professor de seminário, respeito o seminário, a tradição teológica, a academia, no entanto, os seminários são insuficientes para formar novos pastores.
Está aí a necessidade de uma ação dupla. Primeiro, a igreja lembrar-se do pedido de oração de Jesus. Rogar é o Senhor da Seara para quem envia obreiros para a Seara.
Quem chama é Deus. É o Senhor nos que orar para que o Senhor levante uma nova geração de pastores. E os pastores que já estão em atividade, especialmente os que já estão experimentados, que já têm uma jornada na atividade pastoral, precisam chamar para si a responsabilidade de formar novos pastores.
Mentoria pastoral não é um invencionista, é uma necessidade vital. Um pastor forma outro pastor. Acompanhar, dialogar, ouvir esse discipulado intencional.
Então, eu estou convencido que essa é uma necessidade. À medida que esses novos pastores vão sendo forjados, formados, treinados, nós vamos ter um reflexo grande, importante na vida da igreja. Mais igrejas, mais plantação, mais revitalização, mais igrejas bíblicas, saudáveis, consistentes e, sobretudo, missionárias, envolvidas na missão.
GUERRA: Excelente. Às vezes, sendo bem sincero, por mais que a gente fomente esse assunto de formação ministerial, de levar isso à próxima geração, uma dificuldade que eu tenho percebido que a turma dá de retorno àqueles que querem formar pastores na igreja, a pergunta é como. Como que vocês fazem para formar, então, novos pastores? Então, vamos imaginar que tem pastores aqui nos assistindo, nos ouvindo, e eles não sabem por onde começar. Que dicas práticas você daria, então, com relação a isso?
JUDICLAY: Então, eu acho que uma coisa muito importante é recuperar um conceito que o John Riley apresentou como amizade, como dom espiritual. Então, é preciso que haja, antes de qualquer abordagem, no campo da cognição, de conteúdo, de transmissão, uma abordagem mais afetiva. O pastor precisa chamar para ser essa responsabilidade, trazer esses jovens pastores mais para perto, sentar à mesa.
Então, à medida que você vai conquistando o coração de uma pessoa, à medida que essas pessoas, os jovens pastores, vão percebendo que aquele pastor experimentado as ama, tem interesse nelas, quer, de fato, ajudá-las, isso cria uma conexão muito profunda. Então, a dinâmica vai variar de cultura para cultura, de contexto para contexto, mas eu diria, se aproximar, ter uma agenda de periodicidade de encontros, estabelecer uma relação de literatura que possa ajudar na compreensão do Ministério Pastoral. Existe uma perspectiva muito romanceada do Ministério Pastoral.
Então, parte dos problemas que nós temos no Kitange, a missão é porque falta uma identidade. Então, o que o pastor é determina o que ele faz. Então, o pastor, no caso, o treinador, o mentor, deveria focar nas qualificações para o pastorado e nas atribuições.
Essa dupla perspectiva. Qualificações e atribuições. A partir disso, trabalhar as questões práticas.
Porque, na verdade, os jovens pastores precisam de referência. Então, como o pastor se veste, como ele lê a Bíblia, como ele se dirige a um ancião, como ele trata o mais jovem, como ele lida com uma crise na igreja, como ele celebra a vida, tudo isso vai sendo uma referência para os demais. Eu falo isso porque eu, embora nem pensasse nisso, à época, tinha apenas 13 anos de idade, a figura do meu pastor imprimia no meu coração uma perspectiva, uma imagem do que é um pastor.
Aquele homem sério que consegue coadunar excelência com alegria, força, com ternura. Então, o pastor, como disse Paulo para Timóteo, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. Disse o mesmo para Tito.
Torna-te pessoalmente padrão de boas obras. Então, o pastor não tem opção. A sua vocação é ser um modelo para a igreja.
Isso implica também ser modelo para aqueles a quem o Senhor está chamando para o ministério. Isso não quer dizer que o pastor é perfeito, até porque nesse treinamento faz parte informar que nenhum pastor é perfeito e que o pastor também tem que mostrar que é sua dependência total da graça de Deus, que também é uma ovelha debaixo do pastorel de Cristo, buscando cumprir a vocação que o Senhor lhe deu. Então, é um processo, mas eu estou convencido que não há alternativa.
Nós precisamos trabalhar nessa direção. Sabe por quê, Tiago? Vou dizer uma coisa para você. Pense num pastor que ele exerce o ministério por 5, 10, 15, 20, 30, 40, 50 anos.
Ministério abençoado, a igreja cresceu, cresceu bem, plantou novas igrejas, avançou. Ok. Esse homem vai passar.
Todos nós passamos. Se ele não preparar uma nova geração de presbíteros, de novos pastores, numa geração, talvez num tempo muito mais curto, alguém chega e destrói em 5 anos o que ele fez em 50. Então, é preciso pensar nessa questão de sucessão, de levar adiante a tocha do evangelho.
Então, nós temos vários exemplos de pastores que começaram bem, terminaram bem, mas o ministério deles evaporou muito rapidamente. Nós temos, por exemplo, se me permite um caso, a Capela de Westminster. O Lorde Jones fez um trabalho extraordinário.
Até hoje, nós recebemos influência do outro lado do Atlântico, mas os pastorados subsequentes ao dele ficou a desejar. Então, é um desafio.
GUERRA: Por último, pegando o gancho do que você disse, do padrão na palavra e no procedimento, a gente poderia dizer que, principalmente no procedimento, na ética, você precisa de um bom modelo.
Porque a palavra e o conhecimento, sim, precisamos de um modelo, mas pode ser também adquirido, esse conhecimento, essa palavra, você pode absorver isso, por exemplo, dentro de um seminário, ou num bom livro que você lê, um bom material, um curso da internet que você faz, por exemplo. Mas no viver cristão, na ética da vida cristã, e principalmente na ética do Ministério Pastoral, parece que a gente precisa desse modelo. Caso contrário, a gente vai buscar esses modelos, às vezes, nas redes sociais, que, às vezes, nós vamos ver ali caricaturas, ou exatamente modelos opostos daquilo que seria um bom modelo com relação ao Ministério Pastoral.
Então, pensando na ética do Ministério Pastoral, você identifica que hoje pode haver uma lacuna nessa formação de palavra e ética do Ministério? Na formação desses ministros, parece que há uma ênfase maior no conhecimento, no passar, de fato, certas doutrinas que o indivíduo deve acreditar e exercer enquanto realiza o seu ministério, mas pouca ênfase com relação à ética do Ministério Pastoral, você identifica isso?
JUDICLAY: É possível que haja uma ruptura, um divórcio entre a formação teológica, o aprofundamento das doutrinas cristãs e a vida. Esse divórcio é extremamente perigoso e é muito comum, lamentavelmente. O pastor precisa manter unido o que Deus uniu, ou seja, luz e fogo, o conhecimento e a vida, a ética e a questão da doutrina.
É lamentável a quantidade de homens que têm um profundo conhecimento bíblico e teológico, mas a vida do indivíduo não inspira. Então, a gente não precisa fazer uma coisa em detrimento da outra. Nós precisamos de homens que sejam cada vez mais profundos na teologia, que preguem com desenvoltura, com excelência, com integridade, mas, ao mesmo tempo, homens piedosos.
Esse é o grande desafio. Então, o Robert Murray McShane foi o maior pregador escoceso do século XIX na visão de Spurgeon. E o McShane dizia que os homens estão à procura de métodos.
Ele disse no século XIX. E, ainda hoje, muitos homens estão à procura de métodos para alguma coisa. Deus procura homens santos.
Então, um homem santo, ele abençoa a Igreja, ele inspira uma nova geração. Uma das perguntas que a gente tem que fazer é a seguinte. Por que há uma quantidade tão pouca de vocacionados nos seminários? Porque muitos jovens, nas suas igrejas, não veem os seus pastores como alguém que os inspire a seguir no ministério.
Eu acho que há um perigo muito grande aí, que é a visão caricata do ministério pastoral, uma visão muito empobrecida, uma visão como se o pastor, ou alguém que escolhe essa vocação, estivesse desperdiçando a sua vida. Quando, na verdade, é a atividade mais nobre que pode existir. Então, acredito que, se o pastor quadunar profundidade teológica, uma vida piedosa e santa, isso vai fazer bem a Igreja e vai inspirar uma nova geração de pastores.
Ética pastoral está na agenda. Nós precisamos de homens santos e piedosos.
GUERRA: Excelente.
Nós esperamos que esse material seja edificante para você, de algum modo. Eu agradeço aqui, mais uma vez, o pastor Judiclay Santos. Se você quer acompanhar o Judiclay, você consegue achar ele no canal do YouTube.
Ele tem pregações lá. Seja edificado também por intermédio dessas pregações. Conheça a Pronobis, editora, que ele é editor-chefe, e tem abençoado o Brasil e as igrejas.
Eu mesmo tenho me beneficiado dessa editora. Tem sido muito bom, tanto para a minha igreja quanto para o meu ministério. Conheça essa editora e os livros que eles têm publicado por lá.
Também é professor do Seminário Martin Bucer, enfim, você pode segui-lo nas redes e também conhecer um pouco mais desse ministério. Que Deus abençoe a todos vocês e até uma próxima oportunidade.
Thiago Guerra é pastor da Igreja da Trindade, em São José dos Campos, SP, Diretor Executivo da Coalizão pelo Evangelho e Conselheiro Educacional na Glow Educação. Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Anhembi Morumbi. Bacharel em Teologia no Seminário Martin Bucer. Curso técnico em Teologia pela Alphacrucis College (Sydney, Austrália). Pós-graduado em Teologia Bíblica pelo Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper. Atualmente está cursando ThM no Puritan Reformed Theological Seminary. É casado com Raquel Guerra, com quem tem três filhos, Helena, Julieta e Henrique.
Judiclay S. Santos é ministro da Convenção Batista Brasileira, filiado à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil. Graduado pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil-RJ, Mestre em Divindade, com ênfase em teologia histórica pelo Centro de Estudos Andrew Jumper, da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP. Leciona no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP. Pastor titular da Igreja Batista do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Fundador e Diretor Executivo da Pro Nobis Editora. Autor de dois livros: Os Sete Pecados de Caim: os descaminhos do filho de Adão e Ecos da Graça: Mensagens que iluminam a mente e aquecem o coração. Casado com Claudia e pai de Leonardo.