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“Eu sou chamado para _________.”

Talvez você tenha ouvido alguém usar esta expressão para explicar por que eles fazem o que fazem. É uma declaração que nos soa mística e que lança uma aura divina sobre a vida de alguém.

Mas eu sempre me senti inseguro se – além do meu chamado para a salvação em Cristo – eu tinha um chamado mais específico que explicaria qual carreira deveria seguir. Nunca fui uma daquelas pessoas com um plano master para a minha vida – uma trajetória mental com um destino desejado no final. Geralmente, eu segui o meu caminho sem direção especial, me interessando por uma coisa, depois pela próxima.

Assim, em meio à minha confusão e cheio de dúvidas, busquei a Palavra de Deus e a sabedoria coletiva de outros para me ajudar a compreender o chamado e a vocação. Aqui estão pelo menos três coisas que seu chamado não é.

1. Seu Chamado Não É Para Você

Sem dúvida, cada pessoa é chamada e dotada individualmente, mas uma verdadeira compreensão do chamado reconhece que somos chamados não para mera gratificação pessoal, mas para o bem dos outros (Rom. 12.4-5; 1 Co. 12.12-31; 1Pe. 4.10-11). Estar focado nos outros é contrário ao espírito individualista e egoísta da nossa época. Como Tim Keller escreve em Como Integrar Fé e Trabalho:

“Não devemos escolher empregos e conduzir nosso trabalho para nos desenvolver e acumular poder, pois ser chamados por Deus para fazer algo é poder suficiente. Devemos ver o trabalho como um meio de serviço a Deus e ao próximo.” (67)

Em vez de perguntar: “O que me dará mais dinheiro e maior status?” Keller nos encoraja a perguntar: “Como, com minhas habilidades e oportunidades existentes, posso ser de maior serviço aos outros, sabendo o que sei da vontade de Deus e da necessidade humana?”

Mas devemos ter cuidado para não confundir nosso trabalho com nosso chamado. Embora para alguns os dois estejam interligados (pense em um pastor), os chamados frequentemente abrangem áreas mais amplas, tais como a sociedade, a família e a igreja. De acordo com Gene Veith,

“Alguém pode não estar mais no local de trabalho, mas pode ainda seguir seu chamado como avô, como cidadão interessado e, talvez, como presbítero em sua igreja. Algumas pessoas encontram seus chamados em outras esferas além do local de trabalho – uma mulher que recusa um emprego para poder se dedicar aos filhos; o homem rico e independente que não necessita trabalhar, e então se dedica como cidadão à filantropia; a velhinha num lar, como cristã, dedicando sua energia à oração.” (48)

Jovens ou velhos, fracos ou fortes, bem-sucedidos ou desempregados, cada um de nós é capaz de cumprir a chamada para cuidar dos outros. Assim, uma maneira simples de descobrir seu chamado é descobrir como pode ministrar melhor aos outros com os dons e habilidades que o Senhor lhe deu. Para alguns, pode ser através de seu emprego, enquanto para outros através de seus relacionamentos mais próximos – em sua casa, em sua vizinhança ou em sua igreja.

2. Seu Chamado Não Veio de Você

Nós não escolhemos nossos chamados; por definição, somos chamados a eles. Repita: Deus nos chama; nós não nos chamamos a nós mesmos.

Isto pode soar como óbvio, mas parte da minha angústia foi devida à suposição de que tinha que me apossar do meu chamado, senão ele me escaparia. Temia ficar perdido, desperdiçando minha vida por não ter sido decisivo ou claro o suficiente para saber para o que Deus me chamara.

Claro que existe um elemento humano em tudo que fazemos. Mas fundamentalmente estamos sob a soberana orientação e cuidado de Deus. Quer estejamos falando de qual igreja nos tornaremos membros, da cidade em que viveremos ou do caminho vocacional que buscaremos, planejamos nossos caminhos, mas Ele dirigirá nossos passos (Provérbios 16.9). Ao fazermos as coisas, Deus torna seu chamado claro.

E, similarmente, Ele usa outros para nos confirmar em nossos chamados. Mais uma vez, Veith observa:

“A vocação vem do exterior, tendo a ver com oportunidades e circunstâncias, portas se abrindo ou batendo em nossa cara. Por Deus trabalhar através dos meios, ele frequentemente estende seu chamado através de outras pessoas, por meio de suas vocações.” (54–55)

Ao servir outros e receber informações, correções, afirmações e oportunidades, confie que você tem um Pai fiel que “criou [você] em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão, para que você andasse nelas” (Ef. 2.10). E estas “boas obras” são feitas nos vários chamados, através das várias fases de nossas vidas, que Deus nos confia.

Não somos chamados a tudo, o que significa que podemos nos apoiar com alegria e trabalhar com os chamados de outros. Encontramos nossos chamados com os outros, pelos outros e no serviço aos outros. E cumprimos nossos chamados enquanto os outros cumprem os deles.

3. Seu Chamado Não É Futuro

Olhe para a sua vida. Tirando o pecado, seu chamado é aquilo do que sua vida consiste agora.

No bom plano de Deus, ele provavelmente o colocou em uma família, em um bairro, em uma igreja, em um emprego. Em vez de nos preocuparmos com o que vem a seguir, ansiosos pelo dia seguinte, Jesus nos chama para buscar o reino de Deus(Mat. 6.25-34). Eu diria que parte disto significa que devemos florescer aonde fomos plantados – para “viver tranquilamente, cuidar do que é vosso e trabalhar com as próprias mãos” (1 Tes. 4.11). Também poderia ser temperado com a fórmula agradavelmente não original de Wendell Berry para a boa vida: “Devagar. Preste atenção. Faça bem seu trabalho. Ame a seu próximo. Ame a seu lugar. Fique em seu lugar. Contente-se com menos, aproveite mais. ”

Não há nada errado em ter ambição piedosa ou planejar para o futuro. Mas, em tudo isto, certifique-se de que a ênfase esteja em servir fielmente ao Senhor onde Ele o colocou até que Ele deixe claro – seja por meio de uma mudança nos desejos, na opinião dos outros ou de uma mudança nas circunstâncias (geralmente uma combinação desses três) – que ele está chamando você para outra coisa.

Não quero dizer que os chamados nunca mudam. Podem mudar e frequentemente acontece. A chamada é um processo e não um destino, já que a vida está sempre mudando, bem como nós também. Mas tal como um amigo meu disse: “Seja grato pelo que é, em vez de estrategizar para o que deveria ser.” Numa era de descontentamento e inquietude, suspeito que necessitamos mais deste tipo de fé, humilde e enraizada. Mais simples trabalhadores fiéis – aqueles livres de si mesmos que “fazem [seu] objetivo agradar [a Cristo]” (2 Coríntios. 5.9).

Quando olhar para a grama que precisa ser aparada, a fralda que precisa ser trocada, o membro da igreja que precisa de cuidados, ou o estranho que precisa de um amigo, vá com um coração alegre e satisfaça estas necessidades e cumpra seus chamados.

Cuidado com a inveja de chamados e nunca despreze a monotonia da fidelidade do dia a dia. Deus o chamou hoje para servi-Lo. E mesmo em meio a situações difíceis – talvez com sofrimento, desapontamento e fracasso – podemos encontrar nossa alegria no Senhor, sabendo que Ele prometeu nunca nos deixar ou abandonar (Heb. 13.5).

Servos Fiéis

Talvez você não seja como eu e nunca tenha vivenciado as noites escuras da alma por causa da confusão sobre o chamado. Mas sei que se você é um filho de Deus e confia em Cristo, Ele o chamou para Si mesmo e para os outros. Portanto, sirva às pessoas e a Deus seguindo na plenitude comum da vida.

Que sejamos servos bons e fiéis. Começando hoje mesmo.

Nota do autor: Aqui estão cinco livros sobre chamado e vocação que considero particularmente úteis:

Gene Veith, God at Work: Your Christian Vocation in All of Life (Crossway, 2002)
Os Guinness, O Chamado: Uma iluminadora reflexão sobre o propósito da vida e o seu cumprimento (Cultura Cristã, 2001)
Hugh Hewitt, In, But Not Of: A Guide to Christian Ambition and the Desire to Influence the World (Thomas Nelson, 2012)
Timothy Keller, Como Integrar Fé e Trabalho: Nossa Profissão a Serviço do Reino de Deus (Vida Nova, 2014)
Gordon T. Smith, Consider Your Calling: Six Questions for Discerning Your Vocation (IVP, 2016)

Traduzido por Felipe Barnabé.

 

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