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Falar sobre dinheiro pode ser difícil, especialmente entre os cristãos. Alguns presumem que a Palavra de Deus tem pouco a dizer sobre o assunto. Outros têm medo de serem julgados pela maneira como gastam seu dinheiro, ou por suas dívidas; creem que o quanto contribuem com sua igreja não é da conta de ninguém. Outros, ainda, veem o dinheiro como uma distração das coisas que são realmente importantes na vida.

Para nos ajudar a termos uma perspectiva sobre este assunto, conversei com Ron Blue, autor de mais de 20 livros sobre planejamento financeiro bíblico, incluindo o recém-lançado God Owns It All church curriculum [Deus é o Dono de Tudo, currículo para a igreja, sem edição em português]. Ron trabalhou mais de 50 anos no setor de serviços financeiros, durante o qual ajudou a fundar a Kingdom Advisors [Conselheiros do Reino], a National Christian Foundation [Fundação Nacional Cristã], e a Ronald Blue & Co. Atualmente ele é CEO do Ron Blue Institute [Instituto Ron Blue].

Nesta entrevista, aprenderemos como o dinheiro revela o que há no coração mas é também uma entrada para o coração; por que é difícil para os cristãos verem o dinheiro como parte do discipulado; como os pastores devem ensinar sobre finanças e muito mais.

Frequentemente o senhor diz que o dinheiro é um “revelador do coração” e uma “entrada para o coração”. Como assim?

Gosto de usar a analogia da janela e da porta. Quando digo que o dinheiro é um revelador do coração, significa que ele age como uma janela, onde podemos olhar e ver os desejos mais profundos do nosso coração. Da mesma forma, quando digo que o dinheiro é uma entrada para o coração, significa que ele age como uma porta que, quando aberta, permite ao nosso coração encontrar liberdade, contentamento e alegria em nossas finanças.

Jesus disse: “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21). As coisas em que gastamos nosso dinheiro são os verdadeiros desejos do nosso coração. Quando usamos o dinheiro para olhar através da janela do nosso coração, somos capazes de identificar nossos verdadeiros desejos. Então, quando permitimos que a Palavra de Deus altere a prioridade de nossos gastos, abrimos a porta do nosso coração e começamos a valorizar outras coisas além daquilo que possuímos.

Alterar o fluxo do nosso dinheiro mudará o foco e as afeições de nossos corações.

Costumo dizer às pessoas que se elas me mostrarem seu talão de cheques, posso mostrar-lhes suas prioridades. Esta é a janela. Se dermos o próximo passo e permitirmos que a Palavra de Deus molde nossas prioridades e entre em nossos corações, poderemos realmente mudar nossos corações para que entesourem coisas novas. Alterar o fluxo do nosso dinheiro mudará o foco e as afeições de nossos corações.

Por que, para os cristãos, é difícil pensar em mordomia financeira como um aspecto do discipulado?

Se definirmos discipulado como ajudar uns aos outros a nos tornarmos mais semelhantes a Cristo, parecerá grotesco que cristãos possam separar suas finanças do discipulado. Afinal, finanças são algo em que todos nós pensamos diariamente. Ainda assim, muitos cristãos querem separar qualquer conversa sobre dinheiro de suas vidas espirituais. Creio que isto acontece porque a maioria de nós fica desconfiado quando se começa a falar de dinheiro na igreja. Pensamos: O dinheiro é meu; não se intrometa!

Mas esta mentalidade surge de uma incapacidade de compreender que tudo o que temos, pertence a Deus, inclusive o nosso dinheiro. O Salmo 24.1, diz: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam”. Se tudo o que temos pertence a Deus, então somos mordomos do Seu dinheiro (não é nosso) e vamos ter de prestar contas a Ele de como foi usado. Entender esse conceito de mordomia deve levar todos os cristãos a buscarem crescimento e discipulado em suas finanças.

Uma compreensão correta de propriedade, muitas vezes, corrige o mito de que as finanças e o discipulado devem ser mantidos separados. Na verdade, tal compreensão nos levará a procurarmos discipulado e prestação de contas em nossas finanças.

Qual é a coisa mais importante que os pastores deveriam ensinar em suas igrejas, em relação a finanças?

Ensine o que Paulo disse na maior carta de apoio financeiro já escrita: “não busco o que é vosso, mas sim a vós” (2 Co 12.14). Ensine que o motivo pelo qual eles precisam conhecer o que a Bíblia fala sobre o dinheiro não é meramente para suprir as necessidades da igreja local, mas para que se tornem livres do domínio que o dinheiro tem sobre seus corações e sobre suas vidas.

O dinheiro é um senhor cruel. A Bíblia tem muito a dizer sobre isso, mais de 2.300 versículos são sobre o dinheiro, e 16 das 38 parábolas de Jesus, lidam com este assunto. Além disso, muito do que está escrito sobre o dinheiro nos adverte sobre seus riscos. Eclesiastes 5.10, diz: “Quem ama o dinheiro não se fartará de dinheiro; nem o que ama a riqueza se fartará do ganho”. No entanto, apesar de todos os versículos e avisos, a maioria de nós tende a acreditar que, se há alguém que pode lidar com as armadilhas da riqueza, somos nós. Mas na verdade, não podemos.

Se permitirmos que o dinheiro se torne nosso senhor, isto levará ao medo de perdê-lo, a ressentimento em nossas famílias e finalmente, a um menosprezo para com Deus…. O dinheiro nunca abrandará em sua busca por tudo aquilo que valorizamos.

A única maneira eficaz que vi para pessoas evitarem as armadilhas da riqueza foi portar seu dinheiro com mão aberta, sem hesitação. Essas pessoas são radicalmente generosas com sua riqueza; sabem que se não o forem, acabarão dominados por ela. Lucas 16.13 nos diz que não podemos servir a Deus e às riquezas, porque nos devotaremos a um e desprezaremos ao outro. Se permitirmos que o dinheiro se torne nosso senhor, ele nos levará ao medo de perdê-lo, ao ressentimento em nossas famílias, e, finalmente, a um menosprezo para com Deus. O dinheiro nunca abrandará em sua busca por tudo aquilo que valorizamos.

As igrejas deveriam ensinar que a única maneira de experimentarmos a verdadeira liberdade e contentamento nas finanças é nos tornarmos extremamente generosos, tal como nosso Pai: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito”. Isto é que é uma doação pródiga! As igrejas devem falar sobre o dinheiro não porque estejam precisando dele mas porque as pessoas precisam ser libertadas dos riscos do dinheiro.

Como podem os cristãos poupar para o futuro e, ao mesmo tempo, tentar aumentar suas doações?

Prioridades.

A única maneira de aumentar as doações e também poupar para o futuro é estabelecer prioridades. Para definir prioridades, devemos entender que na realidade, há apenas quatro maneiras em que podemos gastar nosso dinheiro. Eu as chamo de: “Viver, Doar, Dever, Crescer.” A maioria das pessoas começa alocando seu dinheiro na categoria “Dever”, pagando as dívidas e os impostos, seguem então para a categoria “Viver” e gastam em seu estilo de vida. Finalmente, se sobra alguma coisa, olham para o “Doar” e o “Crescer” (doações e poupança). Por outro lado, a Bíblia nos diz que os usos mais produtivos do nosso dinheiro são o “Doar” e o “Crescer”, os usos necessários deste são as dívidas e os impostos do “Dever,” e só depois destes terem sido cumpridos, devemos considerar a categoria “Viver”.

Ao fazer um balanço de nossas prioridades, seremos capazes de ver como cada decisão de gastos afeta todas as outras decisões, e seremos capazes de tomar decisões com base em metas e objetivos previamente determinados.

Não existe nenhuma fórmula mágica das finanças. A única fórmula mágica por aí é criar e manter um hábito ou uma disciplina financeira, motivados por metas e prioridades financeiras. Comece perguntando, em oração: “Senhor, o que o Senhor quer que eu faça na minha vida financeira?”

Traduzido por Alessa Mesquita do Couto.

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