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No começo deste ano, compartilhei três coisas que o seu chamado não é — não é para você, não vem de você e não é para o futuro. O livro Deus em Ação: A Vocação Cristã em Todos os Setores da Vida, de Gene Veith (Cultura Cristã, 2007) teve um impacto fundamental na minha compreensão deste conceito difundido, mas muitas vezes mal compreendido. Naquela obra, Veith fez a seguinte observação:

Estou convencido de que recuperar a doutrina da vocação da Reforma — especificamente, a versão de Lutero — é uma chave não apenas para trazer o cristianismo de volta à cultura, mas para trazer o cristianismo de volta à vida cotidiana dos cristãos contemporâneos.

Estou de acordo, e adoraria ver mais pessoas se envolverem e se apropriarem dessa doutrina em nossos dias.

Como Veith admite, o seu próprio pensamento e obra são em grande parte derivados; é uma destilação de outro livro, com meio século de existência, traduzido para o português sob o título: A Vocação Segundo Lutero, de Gustaf Wingren (1942; Ulbra, 2006). E, claro, esse livro é baseado em um reformador que viveu há cinco séculos.

Além do título prosaico e da escrita seca ocasional, o livro de Wingren é agradavelmente claro, prático e oportuno, — tanto que transcrevi citações de quase todas as páginas. Abaixo estão 20 dos mais úteis, agrupadas em torno de temas específicos, que são bons lembretes para nós hoje.

Seu Chamado Vem de Deus

“Um poder inesperado flui no trabalho quando um homem sabe que ele está verdadeiramente sob o comando divino no cumprimento da vocação em questão, um poder maior do que qualquer outro que possa ser encontrado nas palavras dos oradores”.

“Como o curso de nossa vida é moldado por fatores além de nossos próprios planos e ideias, devemos nos dirigir à hora atual, ao que estiver à mão, ao que quer que esteja me esperando agora e que pertença à minha vocação. Aquilo que ‘as suas mãos encontram para fazer’ não surgiu simplesmente por acaso. Como Deus está trabalhando no mundo ao nosso redor, é Deus quem nos dá o momento junto com os relacionamentos com os outros na situação que o momento nos traz; e com esses relacionamentos ele nos dá nossas tarefas definidas. Usar o momento e o tempo que Deus dá é entrar na própria vocação”.

Seu Chamado é Impelido pelo Evangelho

“[P]ara aquele que se entrega à sua vocação, o evangelho é a fonte; a ação flui do fato de ter sido salvo”.

Seu Chamado É Para os Outros

“A vida cristã não consiste naquilo que homens como os monges inventam; não leva as pessoas ao deserto ou ao claustro. É Satanás quem ordena o abandono dos outros. Pelo contrário, a vida cristã o leva para as pessoas, para aqueles que necessitam de suas obras”.

“A vocação é uma intimação para trabalhar pelo bem do próximo; ela não é o evangelho”.

“Deus concede seus dons àquele que trabalha fielmente em sua vocação e que abandona qualquer tentativa de determinar o curso da própria vida. Através de tal pessoa, os dons que Deus dá são passados ​​aos outros como uma coisa natural, mas aquele que não tem fé é sempre marcado por uma tendência a manter os dons de Deus para si mesmo, sendo ansioso como é por seu próprio futuro. Ele vive no futuro e está fechado à necessidade que o presente tem da sua ação, e assim ele se coloca também fora dos dons divinos”.

Seu Chamado É Pelo Seu Próximo (Mais Próximo)

“As pessoas vivas no meu ambiente, que uma a uma se tornam o meu próximo na providência de Deus, através da variedade de suas necessidades, têm a função de servir como moderadores inesperados das minhas ações, desde que eu realmente as ame e me importe com o que elas necessitam”.

“A vocação significa que aqueles que estão mais próximos, familiares e colegas, são dados por Deus: são os próximos a quem devemos amar. Nisso, a vocação aponta para um mundo que não é o mesmo para todas as pessoas… Cada um deve fazer o seu próprio trabalho, sem olhar para os outros ou tentar copiá-los. Cristo não deve ser imitado por nós, mas sim ser aceito em fé, porque Cristo também teve seu ofício especial para a salvação dos homens, um ofício que ninguém mais tem”.

Seu Chamado Não o Salva

“A verdade é que a necessidade dos outros é um imperativo absoluto na vida do cristão em relação ao amor, às obras, à vocação, mas é contado como nada diante de Deus. O domínio da fé no céu e o domínio do amor na terra não devem ser confundidos; mas nem um nem outro são inconsequentes… O domínio da fé é um domínio no qual todos são iguais; mas o mundo da vocação está cheio de níveis e diferenças”.

“O cristão… sabe que o que Deus quer é fé, enquanto as obras pertencem a este mundo e devem ser feitas em benefício do próximo. Essas obras são a expressão do amor que coloca o bem-estar dos outros acima da própria auto-realização”.

Seu Chamado Capacita-o Para Ser uma ‘Máscara’ de Deus

“O bem que o homem faz na terra é criação de Deus e deve ser direcionado ao próximo. Perante Deus, o bem não pertence ao homem, mas a Deus. Somente perante o próximo, o bem feito aparece como vindo daquele que o faz. Através disso, podemos entender o conceito de homem como ‘máscara’ de Deus”.

“Ao invés de vir em majestade descoberta quando ele dá um dom ao homem, Deus coloca uma máscara diante de seu rosto. Ele se veste na forma de um homem comum que realiza o trabalho dele na Terra. Os seres humanos devem trabalhar “todos de acordo com sua vocação e ofício”; através disso eles servem como máscaras para Deus, atrás das quais ele pode se ocultar quando espalha os seus dons”.

Seu Chamado É para Sua Santificação

“Assim, o cristão se encontra chamado a tarefas monótonas e humildes, que parecem menos notáveis ​​do que a vida monástica, mortificações e outras distrações das nossas vocações. Para aquele que presta atenção à sua vocação, a santificação está oculta em tarefas ofensivamente comuns, com o resultado que dificilmente é percebido que ele é cristão. Mas a fé considera deveres simples como tarefas para as quais a vocação convoca o homem; e pelo Espírito ele se torna consciente de que todas aquelas ‘obras pobres, maçantes e desprezadas’ são adornadas com o favor de Deus ‘como o mais caro ouro e pedras preciosas’”.

Seu Chamado o Leva à Oração

“A oração é uma porta pela qual Deus entra na vocação ao transformar a ação contra o diabo”.

Seu Chamado tem Âmbito Cósmico

“O combate entre Deus e o Diabo por todas as vocações e ordens acontece dentro de cada ser humano. Se Deus é vitorioso, então aquela parte da existência exterior que está ao alcance do homem é feita para servir a Deus. Se Satanás vence, a criação de Deus é usada no caminho oposto. Mas um ofício é bom, mesmo quando é mal utilizado, assim como a lança que trespassou o lado de Cristo não deixou, por essa razão, de ser a boa criação de Deus… As investidas do Diabo consistem em tentações para o mau uso de um bom e divino ofício, para administrar mal a própria vocação… A tentação na vocação é a tentativa do diabo de tirar o homem da sua vocação”.

Seu Chamado É Flexível

“A vida segundo a vocação nunca se torna fixa ou rígida. Frequentemente encontramos nos conceitos de Lutero (que mantêm seu sistema aberto para novas ações), portas através das quais Deus entra criativamente nas ordens da criação. ‘A liberdade para fazer ou não fazer’ é um destes conceitos… Para aquele que tem um amor inalterado pelo seu próximo e por seu trabalho, a vocação se torna flexível e adaptável. Para aquele que na verdade ama somente a si mesmo, a vocação se torna rígida, inflexível e coercitiva”.

Seu Chamado É Exclusivo

“Quando o propósito dos esforços dos homens é que eles sirvam aos outros, sirvam a todas as pessoas, acontece naturalmente que as suas obras serão muito diferentes. As diferenciações são desejadas pelo próprio Deus como uma riqueza de dons que se espalham pelo sistema das vocações terrenas”.

Seu Chamado Envolve Sofrimento

“Nenhuma pessoa que deixe o trabalho de sua vocação seguir adiante sem relutar evitará problemas, ódio e perseguição… O ser humano que, em sua vocação, serve a seus semelhantes, cumpre a sua tarefa por amor a Cristo e recebe a mesma medida de pouca gratidão que Cristo recebeu”.

“A vocação pertence à situação do homem antes da ressurreição, onde há dois reinos, terra e céu, dois poderes contendores, Deus e o Diabo, e dois componentes antagônicos no homem, o velho e o novo, relacionados à batalha constante pelo homem. O velho homem deve carregar a cruz da vocação enquanto durar a vida na terra e a batalha contra o diabo continuar. Enquanto ele continuar em sua vocação terrena, não haverá fim para a luta. Após a morte vem um novo reino livre da cruz; o céu tomou o lugar da terra, Deus conquistou o diabo e o homem ressuscitou dos mortos. Então a luta do homem chega ao fim”.

Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos.

 

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