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Em 2018, Judah Smith anunciou o lançamento do app Churchome Global. O novo local de sua mega-igreja multisite é o celular que está no seu bolso. Ao contrário dos aplicativos tradicionais que as igrejas têm, que oferecem mensagens e informações, a Churchome Global oferece guias para a formação de grupos de interesse on-line, para dar ofertas para causas globais e para se reunir com outros antes do culto em uma sala virtual. Na aba de oração, colocando dois dedos na tela, você pode sinalizar que está orando por uma solicitação específica em tempo real. O tweet original de Smith recebeu mais de 250 comentários, muitos críticos desse “novo caminho para a igreja”.

Esses debates sobre como e por quê utilizar as novas tecnologias não são novos. A invenção da imprensa, da eletricidade e da web ajudaram o Evangelho a se espalhar mundialmente. No entanto, muitos temem que a internet, em particular, represente uma ameaça ao ministério encarnado. Um crítico perguntou qual botão lhe serviria a Ceia.

A tecnologia pode, ao mesmo tempo, estimular a alma ou assustar a consciência com suas possibilidades aparentemente infinitas. Precisamos encontrar uma posição de equilíbrio entre abraçar a tecnologia ou rejeitá-la. Mas primeiro, necessitamos entender o que a tecnologia é e o que não é. Depois, necessitamos saber como a Palavra de Deus nos leva a responder a isto.

A Tecnologia É Amoral

A tecnologia não é a raiz de todos os males. Da mesma forma que podemos usar o dinheiro para fins altruístas ou egoístas, novas formas de comunicação e interação entre as pessoas não têm um valor moral em si mesmas. A tecnologia contém a energia potencial tanto para a esperança quanto para o horror e nós é que manipulamos essas engrenagens.

Normalmente, os avanços tecnológicos nos proporcionam três conveniências:

1. A tecnologia torna o comércio mais funcional.

Carros montados por robôs, compras feitas e pagas pela internet, dinheiro eletrônico (bitcoins) sendo trocado mais e mais, tudo isso mostra que a tecnologia torna os mercados mais eficientes. Isso pode reduzir as barreiras à entrada, aumentar a concorrência e ajudar os consumidores a terem uma melhor qualidade de vida Mas também pode substituir os trabalhadores e resultar em fraudes.

2. A tecnologia torna os deslocamentos mais funcionais.

Viagens automotivas e aéreas tornam o mundo menor. As pessoas podem visitar parentes que moram longe, supervisionar projetos do outro lado do mundo e explorar a criação de novas formas de produção. Da mesma forma, as facilidades em se viajar facilitam o tráfico sexual, acidentes horríveis com automóveis e aviões e o aumento da poluição.

3. A tecnologia torna a comunicação mais funcional

O Facebook recentemente introduziu o Portal, um novo sistema de mensagens de vídeo integrado com o Alexa da Amazon. O slogan — “Se você não pode estar lá, sinta-se lá” — simboliza a esperança de que a intimidade humana possa aumentar à medida que a tecnologia aumenta. No fundo, esse é o desejo da Churchome também. Contudo, por ser fácil se “sentirem lá”, ficarão as pessoas menos motivadas a aparecer quando puderem?

A energia potencial da tecnologia não pode ficar somente como potencial para sempre. À medida em que agentes morais a utilizam, estamos dando carga moral a ela.

Usamos a Tecnologia Moralmente

O texto de Romanos 6.13 adverte todos os crentes a apresentarem seus “membros” — cada parte de si mesmos — para Deus e não mais para o pecado. Como o uso da tecnologia se torna uma extensão do usuário, há necessidade de uma teologia da tecnologia. Repetindo, a tecnologia é amoral, tal como o dinheiro. Mas assim que a usamos, estamos honrando o reino de Deus ou impedindo-o. Ou estamos adorando a Deus ou adorando a nós mesmos.

Será que estamos passando longe do viajante despojado e ferido por estarmos obcecados com a repercussão de nossa última postagem? Será que estamos dando o dízimo eletronicamente para evitar a responsabilidade pessoal aos domingos? Será que estamos consumindo “conteúdos totalmente novos a cada dia” ou estamos nos submetendo à Palavra operando no contexto da comunidade?

Como Devemos Então Entrar no Sistema?

A Churchome Global é apenas a ponta do iceberg tecnológico. Precisamos de uma resposta eclesiológica à realidade virtual e precisamos dela urgentemente.

Dito isso, devemos ser proativos, e não reativos, ao formular nossa teologia da tecnologia. Cultos transmitidos ao vivo, por exemplo, podem ser uma bênção para missionários solitários. Mas podem ser uma maldição para pais que deixam de despertar seus filhos e, em seguida, introduzem um fone de ouvido como um substituto para a comunidade.

Portanto, quais interesses devemos ter em mente quando nós e nossas igrejas tomamos decisões relacionadas à tecnologia? Aqui estão três diretrizes úteis para formular uma teologia da tecnologia.

1. Priorize a compaixão, não a conveniência.

O uso da tecnologia em sua igreja amplifica a empatia e a ação a favor das viúvas, dos órfãos e dos estrangeiros? Pastores, vocês estão fazendo um podcast de sermões por que querem deixar um legado, ou por que o seu coração sofre pelos doentes e idosos impossibilitados de estarem presentes?

Embora a tecnologia seja um meio incrível de propagação da Palavra tanto local quanto globalmente, faríamos bem em nos concentrarmos em ser as mãos e os pés de Cristo para o ferido, em vez de apenas o vídeo e o áudio para o saudável.

2. Priorize a presença, não a proximidade.

Se o próprio Cristo considera uma prioridade estar entre o seu povo, então devemos também priorizar a presença entre eles (Mt 10.18; 28.20). Pastor, os membros da sua igreja estão lendo suas postagens e ouvindo os seus sermões por que se sentem parte da igreja ou por que eles querem se sentir incluídos sem um compromisso pactual? O uso da mídia social por sua igreja está incentivando as pessoas a participarem dos estudos bíblicos, reuniões de adoração e tempos de comunhão ou você está promovendo as postagens para aumentar o público nos cultos e as fontes de receita?

A intimidade melhora frente a frente. É muito mais fácil esconder nossa fragilidade e vergonha por detrás de um aplicativo de mensagens do que numa mesa de jantar. Queremos olhar nos olhos das pessoas agora, porque queremos que elas olhem para Jesus — e se pareçam com ele — no último dia (1 Jo 3.1–3).

3. Priorize a comunidade, não o conteúdo.

Certa vez ouvi falar de um pastor que relegou a Ceia a uma vez por trimestre no culto noturno menos frequentado porque ele “se sentiu chamado a priorizar seu ministério de televisão”. Ele estava mais preocupado em ter seus sermões dominicais transmitidos pela estação de TV local do que com um povo unido, recebendo o sinal e selo da morte de Cristo e a promessa de seu retorno. Cristo promete edificar sua igreja e entregá-la a si mesmo em esplendor (Mt 6.18; Ap 21.2), não para pregar o sermão ou a série de sermões perfeita. Devemos crer em sua Palavra e investir um no outro.

A conveniência, a proximidade e o conteúdo são coisas boas que podem ajudar a levar almas à justificação e à santificação. Mas não há nenhum substituto artificial para a compaixão, a presença e a comunidade. As prioridades de Jesus devem ser as prioridades de Sua igreja.

Traduzido por Marcos D. Muhlpointner.

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