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 “Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça superior; portanto, qual o sentido de se colocar em um nível mais elevado que o seu próximo?” (João Calvino)

Visto que Nadir e eu temos contato público frequente com muitas pessoas – ela, inclusive, em atividades diárias em ambiente escolar, e que eu tenho tido contato frequente com público nos cultos na igreja e em atendimentos pastorais em gabinete; e visto que tivemos contato, em tais ambientes, assim como em ambientes domiciliares, com pessoas que “testaram positivo” para a covid-19, inclusive alguns com internação e quadro sintomatológico de grande porte; e pensando sobretudo na proteção daqueles com os quais temos contato regular ou frequente, realizamos hoje testes Swab de Nasofaringe (Coronavírus Antígeno Biocredit) e Sangue Total Capilar (Coronavírus Anticorpos IGG + IGM Lepu), e em ambos os testes, tanto os meus quanto os dela, temos os qualitativos “não reagentes” (Negativos).

Também, por conta dos perfis clínicos, bem como a história pregressa de nossos quadros alérgicos respiratórios sazonais em comorbidade com refluxo esofágico, mantemos em casa os instrumentos para verificação de saúde: aparelho para aferir pressão, termômetro, kit de medição rápida de glicose e oxímetro.

Sempre que saímos utilizamos máscaras – quando não as máscaras de uso clínico, usamos as máscaras de pano, sempre higienizadas e lavadas. Fazemos isto em todos os cultos e eu também as uso no gabinete. Além disso, procuramos, dentro do possível, fazer uso dos protocolos recomendados de isolamento social. Deixamos a questão polêmica sobre a eficácia do uso das máscaras para os especialistas; é o que temos para hoje ao nosso alcance. Também, quando chegarem as vacinas, se Deus permitir, pensamos em fazer uso daquela que melhor atender ao nosso discernimento, ou, na pior das hipóteses, a que julgarmos “menos pior” segundo o acervo de informações que dispusermos à ocasião.

Por convicção pessoal (e insisto que toda esta palavra aqui é de convicção inteiramente pessoal), temos evitado dois polos:

(i) O daqueles que operam em negação, como se a doença fora um fato irrelevante ou ignorável. Temos alguns assim em nossas igrejas evangélicas. Temos alguns alinhados a discursos anticientificistas, infelizmente. Não há sabedoria nisto. Desde Adão que nós, seres humanos, precisamos da boa ciência, a qual é Graça de Deus. Naturalmente, teremos neste momento de pandemia muitos erros e muitos acertos – entretanto, a Ciência se perfaz exatamente assim, inclusive pelo método de tentativa-e-erro, e ela expressa inteiramente as falibilidades e contradições humanas. E não é mais possível pensar em desvincular por completo ciência, política e economia… Nem sei se em algum tempo isto foi possível.

(ii) O segundo polo que procuramos evitar é o daqueles que ficam imobilizados pelo medo. Temos também nas igrejas evangélicas irmãos queridos assim. No final das contas, segundo me parece, estes dois polos são apenas a expressão de um mesmo problema fundamental.

Quanto às nossas convicções pessoais, também não achamos que os nossos deveres de culto público ao Senhor sejam secundários; vamos ao hospital, vamos à farmácia, vamos ao supermercado e vamos à igreja, e não necessariamente nesta ordem de prioridades – e nos lembramos da palavra de Cristo que o “Reino dele deve ser buscado em primeiro lugar”, e que devemos amar e adorar a Deus antes de todas as coisas. O culto não é para nós uma questão de conveniência – é claro, procuramos modular a nossa participação nele com prudência… E, em alguns casos, tenho pessoalmente recomendado a alguns irmãos que, em alguns momentos, permaneçam em sua casa. Nada obstante, enquanto casal, consideramos a igreja na qual congregamos um imenso e inestimável dom da Graça de Deus para – certamente reconhecemos que ela não é tudo quanto desejamos, mas estamos inteiramente seguros de que ela é infinitamente mais do que aquilo que mereceríamos… Agradecemos ao Senhor cotidianamente pela igreja.

Em nossa igreja local, pessoalmente temos apoiado, desde março passado, o padrão de planejamento de curto prazo. Penso que, neste período, os planejamentos viáveis são de no máximo para um mês. Por conta disto, só para que os irmãos tenham ideia, faz 17 meses que não visitamos os nossos pais e irmãos… Isto é, vamos agindo como Deus permite.

Novamente, estamos realmente vivendo um momento difícil no mundo. Tanto no inverno boreal quanto no verão austral. Em nosso caso brasileiro, tivemos as festas de fim de ano, o início das férias e viagens, e o padrão brasileiro de congestionar o litoral no veraneio. E temos que levar em conta que, sabidamente, o número de casos positivos em nossa igreja local aumentou. Louvamos a misericórdia de Deus, a qual tem nos preservado de óbitos na igreja até agora… Mas, sim, o momento inspira cautela. E se tivermos que revisar o nosso atual protocolo eclesiástico para a covid, creio que o corpo de pastores procederá com discernimento, tal como tem feito.

Alguns nos solicitam alguma opinião pessoal sobre a covid-19… Temos pouco a oferecer sobre este assunto tão especializado, mas recomendamos uma abordagem a esta altura:

  1. A idade e a estrutura física não nos parecem as únicas variáveis no adoecimento. Pessoas muito idosas, inclusive centenárias, têm superado a doença, e conquanto a doença tem tido menor incidência entre crianças, também crianças têm morrido. Ainda assim, as estatísticas podem oferecer alguma luz sobre a faixa etária mais atingidas pela presente cepa do vírus;
  2. “Pessoas fortes” têm morrido e “pessoas fracas” venceram a doença; e o contrário também é verdade. Na lápide de uma pessoa que se presumia muito forte está escrito: “Ele morreu de gangrena como resultado de uma infecção que teve início no dedo mínimo do pé esquerdo”.
  3. Variáveis genéticas e estruturas fisiológicas, nem todas ainda claramente identificadas, estão presentes no adoecimento ou não. Alguns chamam a atenção para tipos sanguíneos, por exemplo.
  4. Já se sabe que padrões comportamentais rotineiros, inclusive o sono, têm impacto na doença. Quanto ao sono, pelo que alguns têm dito, por conta da metabolização da melatonina. E o que dizer, então, de padrões alimentares, etc,?
  5. Quadros psíquicos, tais como ansiedade e quadros depressivos crônicos, podem acentuar e confluir em sintomas. Não se têm mais dúvidas acerca disto.
  6. A imunidade é uma condição multifatorial. Ela é, sem dúvida, elemento importante, crucial, diante de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), como a covid, mas não é a única.
  7. Acesso a recursos clínicos e protocolos eficientes, bem como a bons recursos hospitalares, farmacológicos e sanitários, assim como em todas as patologias graves, fazem enorme diferença! Em uma infinidade de casos vêm salvando vidas.

… E poderíamos elencar outros pontos. E como isto poderia nos ajudar?

  1. Não é sábio ficar traçando tipologias muito definidas, rígidas e fechadas na covid-19, e acautelar-se de estigmas. Exemplo: “Pessoas fortes”, “pessoas fracas”, “idosos”, “jovens”, etc. “Só pessoas com patologias preexistentes e comorbidades correm risco…” Há que se ter alguma cautela aí.
  2. A covid-19 é uma doença nova e com um vastíssimo leque de estudos e pesquisa ainda em andamento. Só para nos lembrar, os grandes laboratórios mundiais ainda estão submetendo seus imunizantes a estudos e pesquisas.
  3. Como crentes, que precisam exercer uma mordomia lúcida, parece-nos que não será sábio reduzir a nossa abordagem sobre a covid-19 a uma linguagem binária, simplista, preto-e-branco, unilateral e unifatorial… Isto não cumprirá um bom papel didático, sempre bem-vindo a “filhos da luz”.

Como disse, o que escrevo aqui tem caráter estritamente pessoal e resulta de convicção de foro individual. Não tem pretensão de ser algo oficial, muito menos uma expressão institucional; nem, pelo fato de ser eu pastor, representa isto aqui um documento eclesiástico. É algo de irmão para irmão; e de um familiar para outro.

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