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Ligon Duncan dedicou sua vida à busca, tanto do ministério na igreja local, quanto da atividade intelectual cristã na academia. Aos 24 anos ele foi licenciado pastor na Presbyterian Church in America (Igreja Presbiteriana da América – PCA), e de 1996 até 2013 ele serviu como pastor na histórica First Presbyterian Church (Primeira Igreja Presbiteriana) em Jackson, Mississippi. Dois anos atrás, Duncan foi nomeado chanceler do Reformed Theological Seminary (Seminário Teológico Reformado). Ele faz parte de conselhos de vários ministérios eclesiásticos, incluindo o Council on Biblical Manhood and Womanhood (Conselho de Masculinidade e Feminilidade Bíblicos). Ele também é membro do Conselho TGC.

Perguntei a Duncan sobre sua decisão de trocar o pastorado pela chancelaria; como os homens devem organizar sua chamada para o ministério; a rica tradição evangélica do pastor-teólogo; e muito mais.

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É necessário estabelecer uma distinção nítida entre os ofícios de pastor e acadêmico? Um homem pode ser os dois, simultaneamente? Ou cada um deles é tão especializado e rigoroso que seria sábio focar somente em um?

A tradição reformada como um todo (seja Presbiteriana, Congregacional, ou Batista) sempre valorizou um ministério que fosse instruído e, portanto, pastores que sejam capazes de ler, aprender, pensar, escrever e ensinar no mais alto nível. O pastor-teólogo ou pastor-acadêmico está bem enraizado em 500 anos de tradição reformada. Então, sim, isto é possível.

Se você for ser um acadêmico especializado, seu foco num campo específico poderá afastá-lo do papel pastoral em tempo integral. Obviamente, espera-se que isto não o afaste completamente do trabalho pastoral. É bom para todo estudioso cristão estar envolvido na vida da igreja local, trabalhando e servindo de alguma forma. Portanto, sou muito grato por existirem teólogos especializados. Penso em Andreas Köstenberger e dou graças a Deus pelo trabalho especializado que este irmão fez ao longo dos anos. Muitos outros também tem nos abençoado porque se focaram em seu trabalho acadêmico. Isso permitiu a eles realizarem trabalhos que tem servido a milhares de pastores. Estes estudiosos simplesmente não teriam sido capazes de fazer estas coisas tendo as pesadas responsabilidades pastorais.

Reconheço, obviamente, que há uma distinção entre alguém que é, essencialmente, um pastor, e alguém que é, essencialmente, um acadêmico profissional. Ambos podem ser exercidos para a glória de Deus, com intenções voltadas para o evangelho e com foco na igreja, e ainda assim serem diferentes.

Recentemente o senhor fez uma mudança significativa, saindo do pastorado na Primeira Igreja Presbiteriana de Jackson, após 17 anos, para a posição de chanceler no Seminário Teológico Reformado (RTS). Quais foram alguns dos fatores que o impulsionaram nessa direção?

Foi uma decisão difícil. Digo às pessoas que foi como uma morte. Eu amava a igreja, e as pessoas me amavam mais do que mereço. Eu poderia ficar naquele ministério até morrer. Estava completamente contente e feliz; a posição no RTS veio um pouco de repente e me pegou desprevenido.

Uma série de coisas me motivou, sendo a primeira, preparar pastores para o ministério. Não seria possível me tirar do ministério pastoral, exceto para preparar outros pastores para o ministério. Esta foi uma motivação muito significativa. A segunda coisa foi o conselho de amigos. Sinclair Ferguson, que conheço desde que era adolescente, nunca me aconselhou sobre onde servir. Mas, de repente, ele escreveu, dizendo: “Ligon, estou orando para que seja da vontade do Senhor que você se torne o chanceler do Seminário Teológico Reformado (RTS).” Ele terminou sua carta: “Se não agora, quando? Se não você, quem?” Falei com Al Mohler, e antes de sequer ter perguntado, ele me disse: “Lig, você deve fazer isso.” Comecei a explicar e ele disse, enfático: “Não, você tem que fazer isso”. Mark Dever (ninguém se preocupa mais com a igreja local do que ele) disse que entendia por que esse chamado seria importante para mim. Assim, o conselho de bons amigos foi muito importante para que eu tomasse uma grande decisão como esta.

Na verdade, só tive três grandes decisões vocacionais na minha vida. Em cada uma, confiei em irmãos mais velhos e mais sábios, cujo conselho e sabedoria eu valorizei, e em cujo julgamento eu confiei mais do que no meu. Os presbíteros da igreja também foram excepcionais neste processo de decisão. Fui até eles e disse: “Preciso do conselho de vocês sobre isso”, e a resposta deles foi unânime: “Ligon, não queremos que você saia, mas achamos que este é um ministério importante.” Esta resposta ratificou minha decisão.

Como o senhor aconselharia um seminarista, ou um estudante universitário da Bíblia, que tem o dom acadêmico, ama a sala de aula e a pesquisa, mas que também deseja pregar a Palavra e pastorear o rebanho?

Meu caminho não é necessariamente o caminho certo a se seguir. Já pensei várias vezes que fiz o caminho inverso. Eu ensinei em tempo integral no seminário durante seis anos, ao mesmo tempo em que trabalhava meio-período numa igreja local. Depois, servi em tempo integral na igreja por 17 anos, enquanto trabalhava meio-período num seminário. E certamente posso dizer que agora, depois de 25 anos de ministério vocacional, sou mais útil aos meus alunos por causa da minha experiência no ministério pastoral. Sei de coisas que vão ajudá-los que não sabia naqueles primeiros cinco anos de ensino no seminário.

Eu fazia parte de uma equipe da igreja aos 23 anos, e fui licenciado aos 24, então tive muita experiência na igreja. Mas uma coisa é ter experiência; outra bem diferente é ser aquele sobre quem se coloca o dever pastoral definitivo de uma congregação. Ter esta experiência me ajudou a servir melhor os homens. Meus primeiros seis anos como professor foram, na verdade, uma preparação adicional para o ministério pastoral. E então, depois de 17 anos de ministério pastoral, eu estava realmente pronto para me voltar completamente aos estudantes.

Portanto, a primeira coisa que eu diria aos jovens que tem o dom acadêmico é: Deus seja louvado! Seja profundamente agradecido ao Pai por esse dom que Ele te deu. A igreja precisa disto, outros pastores precisam disto e sua congregação vai precisar disto.

Mas também diria que é preciso pensar primeiro em relação à preparação para o ministério pastoral, e depois ver o que se abre, em termos de ensino no seminário, a menos que você esteja se preparando para tornar-se um professor universitário. Homens que se sentem chamados a serem professores de seminário devem pensar no ministério pastoral em tempo integral, antes de darem aulas a nível de seminário, mesmo se eles terminarem seus estudos antes de se lançarem no ministério pastoral em tempo integral.

Pastores devotos estão liderando muitos seminários hoje, mas já vi muitos seminários no passado contratarem jovens acadêmicos que têm credenciais acadêmicas, mas não têm experiência pastoral. E, francamente, falta neles instinto e atitudes pastorais. Alguns podem ter uma atitude quase condescendente em relação a assuntos relacionados ao ensino, pregação e liderança pastoral. Eles podem ter uma visão pouco prática de como é liderar uma congregação semana após semana. Frequentemente tais acadêmicos se perdem, e levam pastores a se perder em expectativas e preparação.

No RTS valorizamos docentes que tem uma experiência pastoral significativa. Não basta que sejam acadêmicos de alto nível. Queremos acadêmicos assim, e pela graça de Deus, os temos. Mas eles também tem de ter uma experiência pastoral significativa; pensamos que isto é necessário para preparar as pessoas para o ministério.

O que os seminários deviam estar fazendo para ajudar estes homens a resolver esta questão?

Os seminários são o local perfeito para um jovem resolver isto. O principal ponto é que ele precisa ter um bom relacionamento com os professores desta matéria. Provavelmente a maioria deles já terá lidado com tais questões, então poderão estar bem preparados para aconselhar alguém do mestrado que esteja considerando sobre isto. Ou talvez ele já tenha começado seu PhD, mas está tentando decidir o que fará em seguida. Os recursos humanos de um seminário já tiveram, eles mesmos, de tomar estas decisões e podem realmente dar bons conselhos aos estudantes.

Os alunos precisam se relacionar com os professores e deixar que estes conheçam seus dons, pontos fortes, pontos fracos e tendências. Acadêmicos tendem a querer se esconder e estar com seus livros, mas no ministério pastoral isto não é possível. E honestamente, também não dá para fazer isso quando se está dando aulas num seminário. Não são apenas seus estudos ou seus escritos que ajudam os alunos; são, também, seu caráter e a maneira como se mostra dedicação a eles. Isto exige um trabalho relacional considerável. Veja João Calvino, por exemplo. Ele queria se esconder e ser um acadêmico, mas Guilherme Farel fez dele um pastor. Pense o quanto ainda somos abençoados porque Calvino fez algo para o qual achava que não tinha aptidão ou estímulo para fazer. Ele acabou sendo um grande pastor e líder, e o mundo é melhor por causa disso.

O ministério pastoral requer muito trabalho, desde preparação de sermão e aconselhamento, até visitas hospitalares e reuniões. O acadêmico, numa área especializada, tem necessidade de muitas horas de intensas leitura, pesquisa e escrita. É possível fazer as duas coisas bem?

Sim, claro. Isto já foi bem feito ao longo dos últimos cinco séculos por vários homens (por exemplo Calvino, Jonathan Edwards, James Montgomery Boyce). Há vários pastores na tradição protestante que foram capazes de fazer contribuições significativas para o mundo do pensamento e da teologia, enquanto, ao mesmo tempo, se concentravam no ministério pastoral.

Se você está se especializando como um historiador, por exemplo, há um trabalho técnico que exige uma quantidade enorme de tempo em fontes primárias e secundárias. Seria quase impossível para um reles mortal fazer isto sendo um pastor em tempo integral. Então somos gratos porque um Tom Nettles trabalhou duro para escrever a história dos batistas, como professor de seminário. Somos gratos pela concentração de um Michael Haykin nas atividades acadêmicas. Mas nenhum destes homens é desinteressado da vida da igreja local. Na verdade, eles tem constantemente se dedicado às suas congregações. Mas o seminário proporcionou-lhes um ritmo e uma estrutura de vida particular que se encaixa na produção de seus trabalhos acadêmicos. É necessário reconhecer as limitações de uma situação específica. Eu continuei a escrever artigos acadêmicos enquanto era pastor na Primeira Igreja Presbiteriana (em Jackson). Continuei tentando ler os periódicos. Continuei dando aulas no seminário, às vezes quase com carga horária completa, enquanto pastoreava uma igreja de 3000 membros. E a única maneira possível de se fazer isso foi com o apoio dos meus presbíteros. Eu tinha uma excelente equipe ao meu redor que me possibilitou fazer estas coisas, e também uma congregação compreensiva. Não dá para fazer estas coisas e visitar a todos.

Parte da resposta está no que uma determinada congregação está disposta a suportar. Algumas têm uma perspectiva que inclui seu pastor sendo usado no ministério acadêmico, ao mesmo tempo em que serve como pastor. Outras querem um pastor que seja um capelão pessoal para a congregação. Para estas, não há interesse em ​​que seu pastor edite uma obra de vários volumes, dê aulas em um seminário, ou fale em conferências. Cada congregação é diferente. Mas é ótimo que existam pastores evangélicos que sejam capazes de contribuir com as atividades intelectuais e ensinar em faculdades e seminários. Esta é apenas uma outra maneira para que o evangelho se infiltre na cultura educacional à nossa volta. Isto é uma coisa boa para a igreja e para o evangelho.

Traduzido por Kellvyn Mendes.

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