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O segundo domingo de meu trabalho como pastor em tempo integral caiu cinco dias depois que o pior tornado da história norte-americana atingiu nossa cidade e arredores. Eu preguei sobre Jó 1-2, e colocamos o título do sermão no nosso letreiro: “Onde Estava Deus?” A número de congregantes dobrou naquele domingo e alguns representantes da mídia, intrigados pela questão existencial em nosso letreiro, me entrevistaram.

Desastres naturais e tragédias, especificamente aqueles que caem sobre nós como um raio, provocam pensamentos sobre a morte, as realidades eternas e sobre Deus, em todos os tipos de pessoas, sejam elas religiosas ou não.

Muitos de nós nos lembramos do rescaldo do 11 de setembro de 2001. Realizaram um grande culto ecumênico de oração no Yankee Stadium alguns dias após o ataque, enquanto uma sombra de medo cobria o nosso país. Da mesma forma, o assassinato de líderes nacionais tais como Martin Luther King Jr. e John F. Kennedy geraram uma miríade de reuniões solenes para oração e reflexão sobre as realidades mais importantes.

Em Lucas 13.1-7, Jesus se defrontou com uma multidão de pessoas que buscavam o significado de dois acontecimentos trágicos — um foi uma atrocidade que lembra algumas das atividades indescritivelmente malignas da Alemanha nazista; o outro evoca as imagens angustiantes das torres desmoronando naquela manhã de setembro de 2001.

No primeiro evento, Pilatos demonstrou sua brutalidade ao assassinar galileus no meio da adoração e depois mesclar o sangue deles com o dos sacrifícios, um ato cruel e blasfemo. A pergunta tácita da multidão para Jesus era: O que eles fizeram para merecer tal destino? Jesus sabia disso, perguntando-lhes: “Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas?”

No segundo evento, uma torre em Siloé (uma área ao sul de Jerusalém perto do tanque de Siloé) desabou matando 18, e, provavelmente, ferindo outros mais. A pergunta tácita era a mesma: Aquelas vítimas de alguma forma mereceram o seu destino? Eram eles pecadores particularmente abomináveis? Jesus colocou isto assim: Vocês acham que eles “eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém?”

Arrependa-se ou Pereça

Jesus respondeu às duas situações com a mesma resposta direta e sensata: “Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” Em outras palavras, os galileus foram assassinados no altar, o qual eles sem dúvida viam como um lugar sagrado, mas não tiveram tempo para se arrepender. Da mesma forma, aqueles em quem a torre caiu foram tirados deste mundo em um piscar de olhos, sem aviso, sem tempo para se arrepender.

A advertência de Jesus pode parecer um pouco áspera, até um pouco dura, mas é uma palavra de graça: Volte-se para o Senhor enquanto ainda há tempo. O ponto é simples, mas se o ignorarmos corremos grande perigo.

Aqui estão quatro outras aplicações que podemos aprender do breve encontro de Cristo com aquela multidão.

1. “Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?” não é a pergunta correta a ser feita.

“Por que coisas boas acontecem a pessoas más?” talvez seja a pergunta melhor. Jesus não negou a conexão entre eventos catastróficos e a perversidade humana, e é verdade que tais eventos ocorrem por causa da queda da humanidade no pecado. No entanto, Jesus foi claro: “se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”.

Todo ser humano nascido depois de Adão, exceto Jesus, é um rebelde contra o seu Criador. O fato de Deus verter copiosamente sua misericórdia sobre pecadores indignos como nós, então, deve nos mistificar tanto quanto — se não mais — do que o fato de coisas ruins acontecerem a pessoas “boas”. Somos todos pecadores abomináveis. Todos nós necessitamos de graça.

2. Hoje é o dia para o arrependimento.

Jamais sabemos o que um determinado dia trará. Ninguém tem garantia de que terá tempo para se preparar para a morte. Aqueles sobre os quais a torre de Siloé caiu presumivelmente cuidavam de seus afazeres quando a tragédia, de repente, ocorreu. Os trabalhadores das Torres Gêmeas de Manhattan, bem como os bombeiros e oficiais de resgate, tinham a expectativa de um dia normal de trabalho. Mas o Pregador de Eclesiastes explica assim:

“… tudo depende do tempo e do acaso. Pois o homem não sabe a sua hora. Como os peixes que se apanham com a rede traiçoeira e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enredam também os filhos dos homens no tempo da calamidade, quando cai de repente sobre eles. (Ec 9.11-12)

Na estrada da vida, a morte espreita como uma sombra maligna escondida atrás da próxima curva. Isto é verdade tanto para o cristão quanto para o ateu. Será que hoje é o seu dia?

3. Necessitamos comunicar somente aquilo que Deus falou.

Tentar decifrar a providência é imprudente e perigoso. Tal como temos a tendência de fazer, a multidão a quem Jesus se dirigiu, aparentemente tinha chegado a um juízo sobre por que Pilatos cometeu tais atrocidades e por que a torre caiu. Após o 11 de setembro, alguns atreveram-se a falar em nome de Deus, assegurando seus ouvintes que os ataques terroristas haviam sido uma retribuição divina pelos pecados nacionais, incluindo o aborto e a homossexualidade. Pode ter sido verdade? Deus é quem sabe. Nós simplesmente não sabemos, porque Deus não nos contou. E qual seria a nossa condição se cada um de nós recebesse aquilo que os nossos pecados merecem? Se Cristo não tivesse assumido a minha dívida, eu estaria no inferno.

Em seu livro provocativo God’s Judgement: Interpreting History and the Christian Faith [O julgamento de Deus: Interpretando a História e a Fé Cristã”], Steven J. Keillor argumenta que os eventos temporais podem de fato ser atos de julgamento divino por pecados públicos. No entanto, Deus não se dispôs a nos dizer quais tragédias específicas resultam de quais transgressões nacionais específicas. Os cristãos geralmente acabam parecendo tolos quando fazem previsāo de datas específicas para o retorno de Jesus, bem como quando tentam decifrar a providência. As palavras de Jesus em Lucas 13 demonstram a insensatez desta última abordagem.

4. Desastres naturais são pregadores poderosos.

Em 31 de agosto de 1886, o terremoto mais poderoso que já atingiu a costa leste dos EUA atingiu a cidade de Charleston, na Carolina do Sul, matando 150 pessoas e reduzindo a entulhos quase 90% dos edifícios da histórica cidade. Mais de dois terços dos 40.000 habitantes da cidade ficaram desabrigados. O pastor-jornalista batista H. H. Tucker contou aos leitores do jornal Christian Index que o terremoto era um pregador enviado por Deus para, de acordo com as palavras de Jesus aqui em Lucas 13, despertar uma cultura espiritualmente sonolenta. Ele disse que o terrível evento pregava sobre várias doutrinas, incluindo a soberania de Deus, a responsabilidade moral e a culpa do homem, a incerteza da vida, o valor da oração e a necessidade de arrependimento. Tucker escreveu:

Quando o continente tremeu, milhões de pessoas se lembraram de Deus. Uma grande parte delas faz parte da classe dos que não pensam em Deus no dia a dia. Milhões de pessoas ficaram marcados pelo sentimento de desamparo e da insignificância humana… No auge da prosperidade, os homens inventam argumentos para refutar [a existência de Deus], mas quando um perigo terrível vem de repente sobre eles, eles esquecem os argumentos e lembram-se [de Deus], mostrando que no fundo do coração humano há uma intuição que reconhece a Deus, e reconhece as nossas relações adequadas com ele.

Jesus aproveitou a oportunidade de usar uma atrocidade humana e um desastre natural para pregar tanto o perigo da vida em um mundo caído quanto a necessidade do arrependimento. Devemos, sóbria e humildemente, procurar oportunidades para fazer o mesmo. Deus não nos deve o amanhã.

O Tempo É Curto

Acima de tudo, a breve advertência de Jesus em Lucas 13 deve nos lembrar que temos uma mensagem da qual o mundo inteiro necessita desesperadamente. Até que Jesus retorne em glória, desastres naturais acontecerão. Haverá uma temporada de tornados pior do que a que já vivenciei. Haverá atrocidades, porque sempre haverá líderes despóticos. Torres desmoronarão nas mãos de terroristas.

E pelo fato de que o homem não sabe a sua hora, é apropriado que, em todas as estações e ocasiões, os cristãos conduzam gentilmente os incrédulos de “Por que eu?” para “Por que não eu?” e transmitam amorosamente as palavras de Jesus: “se não se arrependerem, todos igualmente perecerão”.

Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos.

 

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