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Existem mais de 200.000 palavras no idioma inglês, mas quero propor mais uma.

Ela é formada em torno das belas palavras gregas charis (graça) e chara (alegria), e combina os conceitos de ação de graças (eucaristia) e dons (charismata).

É uma palavra que, a meu ver, resume uma visão teológica para a igreja, na qual todos os dons de Deus são valorizados e celebrados, sejam eles eucarísticos (sacramentos, liturgia) ou carismáticos (profecia, cura); ela convida a igreja a tirar de nosso depósito coisas velhas e coisas novas, para que o povo de Deus possa desfrutar de sua graça no Espírito e nos sacramentos.

Esta palavra é Eucarismático (Eucharismatic).

Bagunça na Adoração

Para muitos de nós, especialmente no Ocidente, isso pode soar como o pior dos dois mundos. Eu entendo. Recordo-me de uma pessoa que conheço que foi inoculada contra o cristianismo aos 12 anos, ao ouvir um homem com uma barba oleosa e um grande chapéu sacerdotal, rodeado de ícones, declamando em tons de extrema solenidade: “Repleto está o meu coração, e meu cálice transborda ” — e simplesmente não acreditou naquilo.

Considero as palhaçadas absurdas de alguns dos pregadores da prosperidade cheios de maquiagem que aparecem em canais de televisão cristãos. Reconheço que muito da nova liturgia da igreja deixa de reconhecer a realidade do pecado e do sofrimento, e que muito da velha liturgia da igreja deixa de reconhecer algo que não seja tal realidade. Lembro-me de quando era criança do tédio extremo de observar as mesmas palavras sendo repetidas da mesma forma para as mesmas pessoas a cada semana, em bancos de madeira para pessoas de madeira; e o embaraço igualmente extremo de, quando jovem adolescente, cantar corinhos alegres e agitados para gradualmente acelerar as melodias judaicas, enquanto mulheres de meia-idade giravam seus vestidos, batiam os pés e balançavam seus pandeiros. Se as igrejas eucarísticas são mortas e as igrejas carismáticas são ridículas, então ser eucarismático deve significar ser morto e ridículo, o que é a única coisa que poderia ser pior do que umas das primeiras opções.

Por outro lado, eu lembro a mim mesmo que as crianças e os adolescentes ficam entediados ou envergonhados por quase tudo — Shakespeare, sexo, Mozart, vinho fino, O Poderoso Chefão — e que mesmo as verdades mais cativantes podem ser apresentadas tanto de forma insípida quanto de forma destruidora de almas. Eu me tranquilizo de que não há nenhuma igreja no mundo cujos cultos semanalmente não façam com que alguns dos presentes se retraiam, resmunguem ou ambos . Reflito sobre o fato de que as formas ruins de fazer as coisas não significam que tais coisas não devam ser feitas, apenas mostram que elas não devem ser feitas de forma ruim. Volto à história da igreja e me lembro das inúmeras maneiras pelas quais transformamos bençãos em maldições, tornando tudo uma bagunça. Então eu estudo a igreja do Novo Testamento e a fé retorna.

A Beleza da Adoração Eucarismática

Depois disso, paro para pensar sobre contextos em que ser eucarismático poderia realmente ajudar.

Existem situações que são obviamente falácias de espantalho. Igrejas contemporâneas que jogaram fora o bebê litúrgico junto com a água do banho da formalidade, mas continuam a se definir orgulhosamente como rebeldes, embora suas reuniões sejam igualmente previsíveis e a água do banho da formalidade já tenha evaporado há muito tempo. Ou ainda, suas contrapartes tradicionalistas, onde ninguém jamais é surpreendido, onde ninguém (exceto o pastor) usa dons espirituais e ninguém sorri.

No entanto são muito mais comuns aquelas igrejas que, combinando história, hábito e querendo evitar os extremos, correm o risco de ficar presas na terra de ninguém das igrejas bíblicas. Desconfiados de qualquer coisa antiga (porque lhes parece uma rotina morta) e de qualquer coisa nova (porque lhes parece um modismo cultural), elas optaram por uma adoração que tem entre 20 e 50 anos de existência, segura, mas anêmica, previsível, mas etérea. Elas estão alegremente livres de qualquer ritual ou emoção, e como resultado acabam não tendo nem corpo nem alma.

Um pouco disso pode ser familiar, ou até mesmo inevitável. Se assim for, convido-o a imaginar tal igreja descobrindo as delícias da adoração incorporada pela primeira vez. Imagine o redescobrimento do poder dos símbolos: da água, do pão, do vinho e do óleo. Pense nelas moldando sua liturgia para incluir elementos bíblicos que perderam, e encontrando profundezas do evangelho que eles quase haviam esquecido. Imagine a bola de neve ganhando ímpeto ao usarem monges para ajudá-los a orar e mártires para ajudá-los a cantar. Eles começam a ler livros escritos por pessoas que já morreram e descobrem que estes têm muito mais vida do que muitos dos livros escritos por pessoas que ainda vivem. Catequizam suas famílias. Alegram-se nos sacramentos. Começam a fazer coisas que fazem coisas.

Agora imagine-as embebidas do Espírito Santo, propensas a explosões espontâneas de louvor e ao tipo de alegria que chega até o rosto. Começam a curar os enfermos. Leem o Salmo 150 — e realmente fazem o que ele diz. Expulsam demônios quando necessário. Usam dons espirituais nas reuniões — não apenas os líderes, mas todos. Eles bradam às vezes e dançam às vezes. Riem como crianças. Oram como se o Leão de Judá estivesse à beira de seu assento, com a cabeça erguida, pronto para atacar. Têm a expectativa de que Deus fale com eles em casa ou no trabalho. Suas reuniões se parecem mais com casamentos africanos do que com funerais ingleses.

Agora ponha tudo isso junto. Imagine um culto que inclui testemunhos de cura e orações de confissão, salmos, hinos e cânticos espirituais, batismo na água e batismo no Espírito, credos que mexem com a alma e os ritmos que mexem com o corpo. Imagine jovens tendo visões, idosos tendo sonhos, filhos e filhas profetizando, e todos eles compartilhando da mesma mesa e depois indo por seus caminhos com alegria.

Você consegue ver isso?

É o que significa ser Eucarismático.

Nota dos editores: Este é um trecho adaptado de Spirit and Sacrament: An Invitation to Eucharismatic Worship [Espírito e Sacramento: Um Convite à Adoração Eucarismática), Zondervan, 2019.

Traduzido por David Bello.

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