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Em um dos maiores eufemismos da Bíblia, Deus disse à primeira mãe: “em meio de dores darás à luz filhos”. Com certeza, nenhum pai ou mãe contestaria essa afirmação. Obviamente, ela não se refere apenas à dor física do trabalho de parto – nesse ponto, a dor está apenas começando – mas também à dor dos ossos quebrados, corações partidos e sonhos desfeitos. A dor das discussões e dos vícios. De dar à luz um filho e criá-lo em um mundo corrompido pelo pecado.

Não há anestesia peridural que supere a dor envolvida na tarefa de ser pai ou mãe.

Exemplo de Esperança no Evangelho

No entanto, felizmente, a questão não se encerra nessa primeira passagem das Escrituras sobre ser pai ou mãe. Algo maravilhoso aconteceu ali mesmo, no Jardim. Em meio a um julgamento terrível, Adão e Eva ouviram uma proclamação de esperança: Deus prometeu que um de seus descendentes esmagaria a cabeça da serpente maligna que trouxera tanta dor ao mundo.

Adão e Eva creram nisso. Adão deu à sua esposa o nome de Eva, que significa “mãe de todos os vivos”, demonstrando sua esperança na graça prometida por Deus. Desde então, inúmeros pais e mães têm encontrado esperança na graça do Evangelho em meio à dor de criar filhos.

Contudo, tenho que admitir que nem sempre fui uma dessas mães. Na verdade, passei muitos anos com uma compreensão profundamente equivocada sobre o que significa, para uma mãe, apegar-se ao Evangelho. Sempre agi como se meu filho precisasse mais do Evangelho do que eu.

Para mim, criar filhos com base no Evangelho significava: “Como faço para que meu filho creia no Evangelho, viva para Cristo, fique longe de problemas e esteja realmente envolvido na igreja?”. Mas isso mudou. Agora, significa: “Como posso viver de forma a demonstrar ao meu filho que toda minha esperança está no Evangelho?”.

Se realmente cremos no Evangelho, temos liberdade para apontar nossos pecados e confessá-los diante dos filhos de maneira apropriada à idade deles. Não há por que temer ferir nossa credibilidade ao permitir que os filhos vejam nossas falhas. Pelo contrário, quando passamos a ideia de que a vida cristã se resume a lutar pela conduta perfeita, em vez de receber o perdão disponível em Cristo, é que podemos prejudicar sua compreensão do Evangelho.

Quando realmente cremos no Evangelho, colocamos nossa fé em Deus, e não em nosso próprio exemplo, em nossas táticas de manipulação ou em nossa capacidade de fazer os filhos zelarem pelo Reino. Confiamos que Deus chamará, convencerá, condenará, regenerará, salvará e santificará. Reconhecemos que essas coisas não dependem de nós e, simplesmente, não estão nas nossas mãos. Quando cremos de verdade, ficamos livres da montanha de culpa e arrependimento ao vermos que essas coisas não estão acontecendo na vida dos filhos. Quando não percebemos o agir de Deus ou quando o progresso é mais lento do que desejamos, em vez de sucumbir ao desespero, confiamos em Deus para fazer o Seu trabalho no Seu tempo.

O Mais Importante

A criação de filhos centrada no Evangelho ajuda-nos a zelar pelo que é mais importante: a conexão deles com Cristo. Não significa que outras coisas não incomodarão ou nunca nos farão perder o sono, mas que nossa confiança em Cristo moldará nossa perspectiva sobre todo o resto. Um boletim com notas ruins, uma tatuagem surpresa ou um namoro indesejável não terão o poder de nos desequilibrar. Quando decidirem morar com alguém, em vez de se casar, quando se divorciarem ou forem presos ou demitidos, seremos capazes de zelar pelo que é mais importante nas nossas reações e orações: se o filho está espiritualmente vivo ou morto. Tudo começa a partir disso. Tudo é consequência disso.

Como pais, amamos consertar as coisas. Quando vemos um problema na vida do filho, procuramos na nossa caixa de ferramentas uma nova estratégia para cumprir nosso papel: um bom conselho, um estoque de intervenções nos bastidores, um novo conjunto de regras – qualquer coisa que resolva o problema. Claro que não há nada de errado com essas ferramentas. Contudo, confiar diretamente nesses métodos faz com que tomemos as necessidades dos filhos em nossas próprias mãos, em vez de confiá-las a Deus. Se toda nossa esperança está nEle, em vez de nos desesperarmos, criarmos estratégias e nos preocuparmos, oraremos. Oraremos de verdade.

  • Oraremos para que os filhos conheçam a Cristo de maneira genuína e transformadora.
  • Oraremos para que abram a Palavra de Deus por conta própria.
  • Oraremos para que Deus lhes dê companheiros de busca pela santidade.
  • Oraremos para que Ele seja gracioso com nossos filhos, tanto na solteirice como no casamento.
  • Oraremos para que Deus os convença do pecado e os capacite a abandoná-lo.

E continuaremos orando para que Aquele que começou boa obra nos filhos seja fiel para completá-la até o dia de Cristo Jesus. Podemos ter certeza de que, naquele dia, a dor de criar filhos finalmente desaparecerá para sempre.

Traduzido por Juliana Reimer.

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