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Recentemente, estive conversando com uma amiga. Estávamos tentando descobrir se ela deveria, ou como poderia, abordar alguém com quem não falava há anos, e que havia perdido seu filho de 35 anos de idade. Já se passou um certo tempo desde que ele morreu, e mais tempo ainda desde que ela havia conversado com a amiga pela última vez. Ela estava com receio do constrangimento, de dizer a coisa errada, de fazer sua amiga se sentir triste, pois ela talvez não estivesse mais tão triste naquele momento.

Expliquei a ela que quando perdemos alguém que amamos, é como se um obstáculo se levantasse entre nós e todas as pessoas que conhecemos, e esse obstáculo permanece até que a perda seja reconhecida de alguma forma. Não precisa ser um grande gesto ou uma longa conversa. Não importa se já faz um tempo que a pessoa faleceu. Não precisa ser algo brilhante. Às vezes, um simples “Fiquei sabendo do que aconteceu, e sinto muito”, ou mesmo o gesto não-verbal de uma mão no ombro ou um abraço, irá derrubar essa barreira.

Poucos meses depois da morte de nossa filha, eu estava com o carro estacionado, esperando para pegar meu filho na escola, quando outra mãe, que tinha uma filha um pouco mais velha que Hope, veio até meu carro. Ela me disse que se sentia mal cada vez que me via, uma vez que ela ainda tinha sua filha enquanto a minha havia partido, e que ela não sabia como acabar com o constrangimento. “Você acabou de fazer isso,” eu disse a ela. O simples reconhecimento da barreira já a derruba.

Às vezes hesitamos em abordar alguém porque achamos que, como já faz tempo que seu ente querido faleceu, a pessoa já superou e não quer mais falar sobre isso. Mas é mais provável que o oposto seja verdade. Se já passou um tempo, é provável que as pessoas tenham parado de falar sobre o falecido, enquanto a pessoa enlutada tem um desejo cada vez maior de falar sobre ele.

Então, traga o assunto à tona. E continue trazendo-o ao longo dos meses e até anos por vir. Esse é o presente de um amigo verdadeiro para alguém enlutado. Importa menos o que você dirá do que o fato de dizer alguma coisa.

O Que A Pessoa Enlutada Não Espera De Você

Não cabe a você dizer algo que responda às perguntas significativas que estão fazendo. Leva algum tempo para respondê-las, e se a pessoa enlutada sentir sua vontade de permanecer ao seu lado um pouquinho, em meio às perguntas, em vez de oferecer respostas simplistas, ela estará mais propensa a querer explorá-las com você mais tarde. Não cabe a você recomendar o livro que ela deve ler, o conselheiro que precisa ver, o medicamento que precisa tomar. Você não tem de fornecer o jeito de pensar e lidar com as emoções em meio à perda. Na verdade, você só tem que estar mais presente e falar pouco. O que ela precisa mais do que alguém com um monte de palavras é de alguém com vontade de ouvir sem julgar, alguém disposto a entrar em seu mundo ferido para o longo percurso do luto.

Na verdade, você só tem que estar mais presente e falar pouco. O que ela precisa mais do que alguém com um monte de palavras é de alguém […] disposto a entrar em seu mundo ferido para o longo percurso do luto.

Não cabe a você fazer a dor desaparecer, embora você gostaria muito de ser capaz de fazê-lo. Uma pessoa enlutada não está esperando que você diga algo para lhe tirar a dor. Ela apenas espera que você esteja disposto a sofrer junto com ela. A verdade é que, mesmo que você venha com a coisa perfeita a dizer (como se existisse tal coisa), isto simplesmente não eliminará a dor nem resolverá o problema. Saber disto alivia a pressão? Espero que sim.

Não há nada que você possa dizer que fará a perda doer menos. Isso vai doer por um tempo. Não esperam que você dê sentido à situação, ou que diga algo que não tenham pensado antes, ou algo que tire a dor. Seu propósito em dizer que algo é entrar no sofrimento com eles e fazê-los saber que não estão sós.

O que faz de alguém um grande amigo em meio ao luto é estar disposto a superar o constrangimento de se envolver. A pessoa se aproxima e está disposta, pelo menos por um tempo, a concordar que isso é terrível, inexplicável, o pior. Sem obrigação de ver as coisas pelo lado bom. Pelo menos, não agora. Não sugerir que a pessoa deve ser grata por alguma coisa. Pelo menos, não agora. Que presente é ter um amigo que, com um aceno de cabeça e o sentimento de “Como isso pôde acontecer?”, não tem pressa de ir além do compartilhar aquela sensação de decepção agonizante face à realidade da morte.

Não há nada que você possa dizer que fará a perda doer menos. Isso vai doer por um tempo.

O Que A Pessoa Enlutada Mais Quer

Recentemente, realizei uma pesquisa on-line com pessoas enlutadas por um ente querido. Perguntei-lhes qual foi a coisa mais útil ou significativa que ouviram ou que lhe fizeram, e o que elas gostariam que os outros entendessem a respeito do luto. Incluí muitas das respostas que recebi em meu novo livro, What Grieving People Wish You Knew About What Really Helps (and What Really Hurts) [O Que Pessoas Enlutadas Gostariam que Você Soubesse Quanto ao que Realmente Ajuda (E O Que Realmente Machuca)].

Nas respostas que recebi, notei duas coisas em particular que pessoas enlutadas realmente gostariam que os outros lhe dissessem:

1. Pessoas enlutadas desejam ouvir o nome do falecido.

Ah, ouvir o nome daquela pessoa… É como bálsamo para uma alma dolorida; música a um coração que perdeu sua canção. Muitas pessoas se sentem constrangidas para se referirem ao falecido pelo nome, temendo que isso possa levar a conversa a uma direção desconfortável. Porém, quando alguém fala repetidamente, com lembranças alegres, de alguém que você amou, isto traz um benefício único. Não precisa ser algo grandioso, ou uma conversa emotiva. Quanto mais natural, melhor. Podemos dizer coisas como:

  • “Pensei no Bob outro dia, quando estávamos comendo churrasco. Sempre gostei da maneira dele fazer churrasco. Gostaria que ele tivesse me ensinado seus segredos.”
  • “Toda vez que passo por um ciclista na estrada, penso na Cheryl e em como ela sempre me surpreendia com suas histórias de ciclismo. Isto me faz sentir falta dela.”
  • “Outro dia, estive pensando na Barb e imaginando como é sua vida agora no céu. Aposto que ela está curtindo a beleza de lá. Ela sempre teve um olho bom para identificar coisas belas.”
  • “Lembra-se dos cachinhos do David? Sempre senti uma certa inveja do cabelo dele”.
  • “Gostaria que o Todd estivesse aqui no jogo com a gente. O que você acha que ele diria sobre o árbitro?”
  • “Quando as crianças se levantaram para cantar na igreja nesta manhã, não pude deixar de notar que estava faltando alguém. É uma pena que a Allison não esteja aqui.”

2. Pessoas enlutadas desejam ouvir histórias sobre o falecido e coisas específicas que ele disse ou fez que sejam significativas e memoráveis.

Pessoas enlutadas querem ouvir algo específico, em vez de genérico. Querem ouvir algo além de que “Ela era uma pessoa especial.” Querem ouvir ou ler sobre uma experiência específica que você teve com o falecido que o torna alguém especial para você. Em vez de ouvir que ele “sempre o ajudou” a pessoa enlutada quer saber de uma situação específica em que ele o ajudou.

Se você puder escrever as memórias que tem em relação ao falecido, a fim de que a pessoa enlutada possa lê-las agora e guardá-las para mais tarde, sua sensibilidade se tornará num presente que se renova. Se a pessoa enlutada é ativa nas redes sociais, publicar sua memória na internet e convidar outras pessoas para compartilharem histórias semelhantes é uma ótima maneira de unir amigos em alegre recordação.

Quando você supera o constrangimento de se envolver, recusando-se a achar que pode corrigir a situação com suas palavras, recordando memórias e pronunciando o nome da pessoa que morreu, é provável que a pessoa enlutada chore. Mas não pense por um momento que foi você que a fez chorar. Não precisa se desculpar. Você simplesmente trouxe à superfície o que já estava lá e que precisava ser liberado.

Você foi corajoso e gentil o suficiente para falar sobre o que outros possam ter evitado. Você agiu como um bom amigo de alguém que está sofrendo.

Nota do editorNa seguinte vídeo, Nancy Guthrie compartilha sua própria batalha com o luto pela morte de dois filhos e como Deus realizou Sua obra, em meio à incrível dor de sua família. Nancy Guthrie: História De Esperança Em Meio Ao Sofrimento — por Crossway, no Vimeo.

Traduzido por Daila Fanny Pinho Eugênio.

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