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De Nazaré a Belém foi uma longa jornada. Semanas se passaram, e as pessoas das cidades e dos campos por onde eles passaram ao longo do caminho não sabiam muito sobre José e Maria. Eles podiam ver que ele estava sério e determinado e que ela estava grávida e prestes a dar a luz.

Mas este casal carregava um segredo sagrado, sussurrado em seus ouvidos pelos lábios de um anjo e concebido no calor de seu ventre pelo Espírito sobrepujante de Deus. Soava como uma sinfonia distante, com movimentos e frases crescendo até um clímax que abalaria as fundações do mundo. Mas por hora mantinha-se silencioso, apenas um som pulsando distante no coração do homem e de sua noiva.

Para diversão deles, e desconforto dela, o bebê muitas vezes se virava e chutava. Eles não tinham planejado passar as últimas semanas da gravidez na estrada, mas a vida não parou com a presença deste milagre, como eles bem sabiam. A obra extraordinária de Deus e a rotina de viver sob ocupação romana corriam em paralelo. Desta forma, quando a ordem de se inscrever para o censo romano coincidiu com as últimas semanas da gravidez de Maria, isso significava uma viagem a Belém. Eles tiveram que ir.

O Estábulo

Quanto mais se aproximavam, mais viajantes obstruíam as ruas. Na longa fila de judeus dispersos, todos na mesma missão, parecia que José e Maria estavam entre os últimos.

José procurou, mas não conseguiu encontrar um lugar para ficar, nem mesmo na pousada. Cada quarto estava cheio, com exceção de um estábulo. Não era muito, mas era seco, quente e, pelo menos, tinha o potencial de oferecer a Maria um lugar confortável para dormir. Além disso, eles estavam cansados. O estábulo seria ótimo.

Seus lábios franziam a medida que ela tomava um pouco de ar. Sua barriga esticada como um tambor. Ela parecia preocupada, insegura, como se toda a sua mente e corpo tivessem se tornado estranhos um ao outro. E então, tão rapidamente quanto aumentou, a dor diminuiu. José estava ao seu lado, disposto e ansioso para fazer tudo o que podia, embora não parecesse haver muito para ele fazer.

Com os raios da lua em seu rosto, ela estava linda, jovem, apesar de nem tanto como a menina que era quando se conheceram. Olhando bem, essa menina ainda estava lá, mas suas feições haviam se aprofundado. Assim como sua visão.

Entre os anjos, a gravidez, o casamento e o censo, o tema do ano passado havia sido ouvir a história sobre quem eles eram. Eles não eram mais crianças, mas não chegavam a se sentir como os adultos também. Eles estavam em algum lugar entre o que eles costumavam ser, e o que eles estavam se tornando, e não havia nenhum lugar no mundo onde José gostaria de estar mais do que bem ali ao lado de Maria.

Minutos depois, a dor apunhalou-a novamente, só que desta vez foi pior. Então isso aconteceu de novo. E de novo.

José pensou em fazer alguma coisa, embora ele não tivesse certeza do que ele deveria estar fazendo. Preparar o quarto, pensou. Arrumar algum espaço para ela ter o bebê. Não havia ninguém por perto para orientá-los, ninguém para dizer-lhes que tudo ficaria bem.

Ele segurou-a e orou.

Eles pensaram nos anjos que os visitaram em seus sonhos. Eles pensaram em Adão e Eva tomando do fruto proibido, e em como uma das consequências desse ato de rebelião estava atravessando Maria da cabeça aos pés, a cada três minutos agora.

Não foi uma noite silenciosa. Ela se esforçou e gemeu e lutou por cada respiração. Ela empurrou com gotas de suor na testa. José enxugou-lhe a testa e disse uma centena de vezes que ele a amava, ele a amava, ele a amava.

O nascimento

Varrida por ondas de dor e contrações, Maria continuou a empurrar e respirar e se esforçar, enquanto o tempo passava. Eventualmente, como que conquistando o cume de uma montanha, seu trabalho deu lugar a entrega, e seu gemido deu lugar ao som dos gritos e os assobios de pequenos pulmões respirando o ar da terra pela primeira vez.

José colocou o bebê no seio de Maria, para o espanto do homem impotente e o alívio da mulher cansada, eles viram que, embora sendo Ele o Filho de Deus, era também um frágil bebezinho.

O pequeno estranho não era nada como Maria imaginou – não porque ele parecia diferente de outros bebês, mas porque o rosto de um recém-nascido tem pouco espaço para características distintivas. Isso seria um pouco antes dos olhos arregalados desta criança olharem para os dela ou mesmo de olhar para as dobrinhas de gordura preenchendo seu pescoço e coxas.

Mas uma coisa era certa. Ele era lindo.

Ela amou tudo nele, seu pequeno nariz, seus tufos de cabelo escuro, seus perfeitos pequenos dedos das mãos e pés. O som do seu primeiro choro era a melodia mais linda que ela já tinha ouvido. Era como se o bebê tivesse deixado de ser seu fardo e se tornado seu médico, curando o peso de sua gravidez, simplesmente deitando em seu peito, absorvendo seu calor.

Juntos, Maria e seu marido o limparam e envolveram seus bracinhos e perninhas em tiras de pano para mantê-lo aquecido. Quando deitaram-no numa manjedoura, e finalmente respiraram aliviados, deram-lhe o nome de Jesus. E ambos lembraram o por quê.

O bebê

A encarnação do Salvador do mundo poderia ter acontecido de diversas maneiras Mas Deus, em sua infinita sabedoria, escolheu este casal para esta noite neste abrigo. Este menino, o anjo lhes havia dito, seria o herdeiro do trono de Davi. Ele seria o maravilhoso conselheiro, seu poderoso Deus, seu Pai eterno, o seu Príncipe da Paz. O governo estaria sobre os seus ombros.

Mas não havia nada particularmente complexo ou real sobre este momento no estábulo fora de Belém. Não houve arautos nas ruas anunciando o nascimento de um rei. Ao que tudo indica, foi um caso humilde, simples, aparentemente alheio a tudo o mais acontecendo na cidade de Davi naquela noite.

Mas não foi inconsequente. Foi o momento mais significativo na história do mundo. Na fronteira de Belém, uma criança nasceu. Um filho foi dado. E o zelo do Senhor dos Exércitos fez isso.

Note do Editor: Este trecho foi extraído do livro Behold the Lamb of God: An Advent Narrative por Russ Ramsey [Eis o Cordeiro de Deus: Uma Narrativa do Advento]. Usado com permissão da The Rabbit Room Press.

Traduzido por Nathanael Baldez

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