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Nos meses após o censo, José e Maria ficaram em Belém, fazendo de lá a sua casa. Enquanto isso, homens instruídos do Oriente, especialistas no estudo de textos sagrados, ouviram falar que, em algum lugar na Judéia, havia nascido um menino, que seria rei dos judeus. Eles se lembraram do que o livro sagrado dos judeus dizia: “Uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro.”

Então, quando viram uma nova e incomum estrela, que parecia ter sido acesa especialmente para eles, surgir no Oriente, eles a seguiram. Ela os guiou até Jerusalém. Querendo honrar este Rei e prestar homenagem à Sua majestade, eles começaram a perguntar por Ele. Onde Ele estava?

O Governador

Herodes, o Grande, era um sociopata paranóico, uma descrição perfeita pela sua posição como governante da Judéia, sob a autoridade de Roma. Ele construiu seu império para criar a ilusão de que era um homem que poderia estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Além de suas fortalezas em Heródio, Sebastia, Maquero e Massada, ele também construiu palácios em Cesaréia, Jericó e Jerusalém. A qualquer momento, ele poderia ter estado em qualquer um deles, por isso, a todo momento, ele poderia muito bem ter estado em todos eles. Seu interesse por arquitetura era bem conhecido, assim como sua desconfiança obsessiva daqueles que o cercavam.

Só podia haver um governante na Judéia. Este foi o devotado compromisso de Herodes. Os ossos de sua mulher, de vários filhos e de parentes distantes amontoavam o túmulo da família, como resultado de sua convicção de que cada um deles estava envolvido em uma conspiração para matá-lo.

Quando ouviu falar destes homens instruídos e de sua busca, a dissonância das palavras “rei” e “judeus”, sem menção de si, foi demais para ele. Para Herodes, a solução não era assim tão complicada. Se isso significava matar até o último bebê em Israel, então, era isso o que iria fazer. Ele chamou os principais sacerdotes e escribas para lhe contarem tudo o que sabiam sobre este rei, inflamado com a sensação de que eles o estavam rejeitando.

Herodes os convocou, buscando uma lição de teologia, e os sacerdotes lhe deram todos os detalhes, sem confusão ou hesitação: O profeta Miquéias havia dito que o Messias nasceria em Belém, apenas algumas milhas ao sul, onde o amor de Jacó, Raquel, foi enterrado, e onde o rei Davi nasceu. Os principais sacerdotes eram os guardiões do templo e da vida religiosa e cultural dos judeus. Os escribas, ou mestres da lei, eram os guardiões da Palavra de Deus. Eles redigiram cópias das Sagradas Escrituras, estudando cada til e cada vírgula. Conheciam os detalhes minuciosos de cada rolo e de cada livro. E conheciam a tradição. Ainda assim, curiosamente nenhum deles parecia empolgado para ver por si mesmos se os magos estavam certos. Eles deveriam ser os mais desejosos pela vinda do Messias, mas tudo o que estes líderes religiosos exibiram, ao repetir estes antigos detalhes proféticos da vinda do seu rei, foi uma suspeita apática.

Jesus veio para os seus, mas os seus não o receberam. Eles não o procuraram naquele momento e também não iriam procurá-Lo depois. Mesmo depois de crescido e ministrando entre eles, eles se recusaram a acreditar nEle.

Mas Herodes acreditava. Pelo menos, o suficiente para se preocupar. Ele estava suscetível a pecar por excesso de precaução, portanto, era suficiente para ele que os magos tivessem chegado tão longe, carregando tais presentes. E se houvesse mesmo um rei, talvez os magos poderiam levá-lo até lá. Talvez se ele fingisse um desejo de levar um presente seu, os magos confiariam nele e o levariam a este novo rei.

“Quando vocês o encontrarem,” Herodes disse aos visitantes, “voltem e me digam onde Ele está. Eu tenho uma coisinha para Lhe dar.”

Os Magos

Depois de ouvi-lo, os magos partiram para Belém. Não demorou muito antes de sua familiar estrela aparecer novamente, guiando-os, como um pastor conduz suas ovelhas, para uma casa na periferia da cidade.

Quando encontraram o rei, não era de admirar que Ele era nada mais do que um rumor em Jerusalém. Eles entraram no lugar onde Ele estava, e viram uma criança nos braços de uma moça, praticamente ainda uma menina. Não houve coroa ou majestade que os atraíssem para Ele, nenhum milagre que pudessem ver, nenhum sinal de grandeza. Apenas uma mulher e seu filho. Mas havia algo sobre esse momento que só a mulher, o marido, os magos e a criança sabiam, algo que fez estes estudiosos ajoelharem-se, numa postura de adoração, quando O viram.

Um dos magos foi adiante e ofereceu uma bolsa de ouro, colocando-a aos pés da criança. Outro trouxe um frasco de mirra, e outro, uma caixa de incenso. Sem saber que estavam financiando uma viagem apressada para o Egito, exigida pela paranóia de Herodes, eles deram estes presentes por nenhuma outra razão além de honrar ao nascido Rei dos judeus.

Ele nem mesmo era o rei deles. O Deus de Israel não era o Deus de seu povo. No entanto, eles tinham vindo porque o pensamento de um Deus de misericórdia, trazendo cura sob Suas asas, despertou neles o desejo de estar perto dAquele através do qual a cura viria. Eles seguiram a estrela e, depois de uma delongada jornada, encontraram o Rei.

Foi uma grande façanha. Eles iriam descansar bem.

O Sonho

Mas naquela noite, ao caírem em um gostoso sono profundo, um anjo, desconhecido deles, mas bem conhecido de Maria, adentrou em seus sonhos e retratou a eles a verdade sangrenta de quem era realmente Herodes, e o que ele pretendia fazer com este bebê. O anjo os advertiu a fazer outro caminho de volta para casa.

Os motivos de Herodes eram homicidas. A história se lembraria dele encharcado, não só com o sangue de suas próprias esposas e filhos, mas com o sangue de inúmeros outros, a maioria deles, meninos com idade inferior a 2 anos.

Mas não este menino Rei. Herodes não iria tirar Sua vida.

Os magos, então, partiram para casa em segredo, evitando a área ao redor de Jerusalém.

Para a maioria dos moradores de Belém, o nascimento de Jesus passou despercebido, mas os céus e a terra convergiram neste pequeno lugar da Terra Prometida, para o nascimento mais importante da história. Os anjos orquestraram o encontro improvável dos pobres, dos deslocados e dos curiosos para anunciar a vinda do Salvador do mundo. Para alguns, eles apareceram em sonhos. Para outros, falavam do céu. Para outros ainda, talvez eles brilharam como uma estrela, que levou os magos até o local onde a criança nasceu. Através de tudo isto, os anjos do exército celeste tinham os olhos fixos nesta aldeia, ao sul de Jerusalém.

A Promessa

Desde a queda do homem, a promessa de Deus de redimir e restaurar permeou o ar e encontrou seu caminho em canções de reis e criminosos. Foi o hino do desamparado, do cego, do coxo e do cheio de culpa: uma canção de esperança no meio da noite, chegando de algum país distante, com o traço de uma melodia conhecida de cor.

Nos pastos fora de Belém, esta canção subiu como uma orquestra celestial, batendo, cantando, soando com a música, sem nada esconder. Então, de repente, como o fechar de uma cortina, a noite ficou em silêncio, e o público voltou para casa. Belém voltou a ser a cidade comum que havia sido por tanto tempo quanto qualquer um poderia se lembrar.

Mas o mundo nunca mais seria o mesmo.

Note do Editor: Este trecho foi extraído do livro Behold the Lamb of God: An Advent Narrative por Russ Ramsey [Eis o Cordeiro de Deus: Uma Narrativa do Advento]. Usado com permissão da The Rabbit Room Press.

Traduzido por Alessa Mesquita do Couto.

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