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Eu trabalho com missões e com educação teológica global. Uma dos diálogos mais difíceis que temos é com homens que, tendo estado no ministério por 20 ou 30 anos, gostariam de lecionar conosco, mas não demonstram o dom de ensinar. Nós frequentemente os afirmamos de outras maneiras mas, por alguma razão, jamais alguém na igreja tratou desta lacuna. Claro que ficam feridos (quem não ficaria?). Mas por que ninguém lhes disse isto antes e por que desejam fazer algo no qual não são competentes?

A resposta é dupla. Primeiro, muitos de nós temos por princípio de que a polidez é igual à piedade. Nos Estados Unidos, este fenômeno parece particularmente evidente no Sul e no Meio-Oeste. Se alguém tem zelo e se sente chamado ao ministério, quem sou eu para impedi-lo? E, como resultado, a comunidade de fé renuncia ao seu papel de chamar e confirmar. Assim, muitos seminaristas chegam ao campus sem dons de pastorear que possam ser moldados.

A outra razão pela qual muitos de nós que desejam ser professores deixam de avaliar nossos dons com precisão é por colocarmos tamanho valor no dom de ensinar. Não há muitos livros sobre heróis cristãos que não sabiam pregar.

Encontre Seu Verdadeiro Dom

No entretempo, perdemos a oportunidade de servir ao corpo de Cristo com os dons que realmente temos. Não somos receptivos a como Deus nos criou, por estarmos demasiadamente preocupados almejando ser como alguma outra pessoa. Precisamos prestar atenção ao que disse o rei Davi:

Pois tu formaste o meu interior,

tu me teceste no seio de minha mãe.

Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste;

as tuas obras são admiráveis,

e a minha alma o sabe muito bem.

O Salmo 139 não é apenas para o Dia das Mães. Uma das grandes bênçãos da minha vida é conhecer cristãos ao redor do mundo e observar a criatividade de Deus em como ele molda as pessoas. Nossas personalidades são únicas. Gostamos de coisas diferentes. Nossos modos de comunicação e a maneira como somos ensinados a lidar com conflitos são incorporados a nós e nutridos pela experiência. Esta singularidade faz parte de ser feito de forma assombrosamente maravilhosa—cada um de nós portadores da imagem de Deus e expressões da obra criativa de Deus.

Isto não significa que dons não devam ser moldados e desenvolvidos. Não significa que nossas personalidades não tenham deficiências. Não é uma desculpa para sermos preguiçosos. Não podemos dizer: “Não vou evangelizar, porque este não é meu dom”. Somos conclamados a fazer discípulos, portanto, devemos fazê-lo da maneira singular como Deus nos criou. Podemos estar seguros por causa de quem somos em Cristo—filhos redimidos com dons para servir ao corpo.

E é necessário utilizar estes dons com humildade (Rm 12.7–8). Não devemos apenas refletir sobre como somos dotados, mas também sobre como usamos nossos dons. Tentar ser quem não somos é orgulho; é dizer a Deus e aos outros que somos dotados de maneiras diferentes de como fomos criados. Estar seguro de quem somos em Cristo é da maior importância. Estar seguro sobre como Deus nos dotou e em como não nos dotou, também é importante. Deus nos teceu no ventre de nossa mãe de múltiplas maneiras. Não é necessário nos colocar forçosamente em papéis que não nos convêm. A mão não deve ficar com ciúmes por não ser pé, nem deve tentar ser pé (1 Cor 12.15). Deus nos deu ao corpo de Cristo, cada membro equipado para as boas obras, dotados para servir uns aos outros, para o aumento de nossa alegria mútua.

Ao Contrário da Percepção Popular

Já ouvi pessoas dizerem (incluindo eu mesmo): “Deus realmente foi glorificado naquela ocasião, pois me usou em algo em que não sou dotado”. Embora isto parece humilde, está errado. Trata-se de uma proclamação em alta voz de 2 Coríntios 12.10, ao mesmo tempo em que ignora todas os outros textos sobre os dons. Sim, a graça é suficiente. Sim, o poder de Jesus é aperfeiçoado na fraqueza. Paulo era fraco. Havia coisas que ele não conseguia fazer. De fato, Paulo se gloriava de sua fraqueza. Fraqueza não significa falta de dons. Fraqueza são limitações e adversidade.

Pode ser que Deus lhe peça para fazer algo além de seus dons, e isso pode acabar abençoando a muitos. Podemos até ter histórias do poder de Deus em ação por meio de filhos sem dons. Mas estas são exceções. A regra é que o Pai enviou o Espírito Santo para nos equipar para servir. E as listas de dons são longas—não apenas os dons espirituais, mas também as maneiras comuns de como somos feitos. O Pai nos criou de certas maneiras para abençoar. É importante identificar nossos dons, com a ajuda de outros, para que abençoemos o corpo de Cristo.

Corra Rápido Ou Desloque-se Lentamente Com Alegria

Qual é o efeito pessoal quando servimos ao corpo de Cristo de acordo com nossos dons? Contentamento. Alegria. Paz. Paramos de nos comparar aos outros. Se um amigo tem dons muito mais fortes do que os meus, posso me alegrar, pois não há hierarquia no corpo de Cristo. Não há necessidade de ser como os cristãos de Corinto triunfalistas, de julgar um amigo ou cônjuge ou filho, considerando nossos dons e personalidades como normativos, ao contrário da maneira como Deus os criou. Se nos pedirem para fazer algo que possa chamar a atenção para nós, mas fora de nosso conjunto de habilidades, diremos que não.

Podemos celebrar aqueles cujos dons são diferentes dos nossos, contá-los como amigos e não sermos tentados à inveja ímpia ou a comparações inúteis.

Tal maneira de pensar representa uma oportunidade para ser livre. Não é necessário fingir que não temos certos dons, por querermos ser humildes. Não é necessário nos esforçar para sermos alguém que não somos. Se Deus o fez veloz, corra e sinta Seu prazer. Se você é lento, desloque-se lentamente com alegria. Grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento.

Traduzido por Thaisa Marques.

 

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