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Alguns dos melhores conselhos que recebi vieram do meu mentor no seminário. Ele me alertou para não utilizar uma “bolsa de truques” quando entrasse para o ministério. Em tese, entendi o que ele estava dizendo. A maioria dos pastores fica em média de três a quatro anos em uma igreja e depois se mudam. Ele sugeriu que uma das razões para isso é que muitos pastores só têm três anos de sermões, ideias e programas em suas “bolsas de truques”. Quando estes se esgotam, os pastores simplesmente se mudam para outra igreja reciclando-as tudo de novo.

Sem dúvida é bom imitar os outros (1 Co 11.1), não apenas no estilo de vida mas também no ensino (2 Tm 2.2; 3.10). Quando eu era um novo convertido, havia um homem que eu admirava tanto que até peguei um pouco da sua linguagem corporal. Queria ser como ele porque ele conhecia o Senhor profundamente. Espero que você tenha conhecido alguém que vale a pena imitar. Espero que você tenha uma vida que valha a pena imitar.

Porém a mera imitação – ao invés de se apoderar e crer naquilo que se está fazendo – é somente ter a aparência de que algo está profundamente enraizado dentro de nós. Isto sem dúvida se aplica à vida cristã em geral, contudo estou especificamente pensando em liderança pastoral. Ter uma “bolsa de truques” é ser de segunda mão e necessitamos nos resguardar disso.

Aqui estão três sinais de que estamos nos acercando de ser um pastor de segunda mão:

1. Pregamos Igual a Alguma Outra Pessoa

Pregar é um trabalho incrivelmente difícil. É fácil copiar outros pregadores. Eu costumava receber, pelo correio, ofertas para comprar séries de sermões. Não há mais necessidade disso: todos os nossos sermões favoritos estão disponíveis na internet. Nós ouvimos alguns sermões, fazemos um esboço, adicionamos uma história pessoal e já estamos prontos. Infelizmente, é comum que pastores copiem sermões. Nas minhas aulas práticas de pregação no seminário, três pessoas pregaram o mesmo sermão. Nós roubamos e enganamos, enquanto nos apresentamos como pessoas que estudaram e foram moldadas pelo texto.

Tal abordagem não leva sua congregação em conta. O sermão na realidade é uma mímica auto-produzida e não uma exortação produzida pelo Espírito. Fingimos um conhecimento cognitivo e vivencial. Tornamo-nos como Hofni e Finéias, sacerdotes e filhos do sumo sacerdote, mas “execráveis” que “não conheciam o SENHOR” (1 Sam. 3.12-14). Tomara que isto jamais seja dito de nós.

A pregação deve necessariamente incluir tanto o estudo do texto como também das pessoas sob seus cuidados. Há algum problema em pegar emprestado uma ilustração que achamos útil? Não. É correto apresentar um ponto geral de um sermão que ouvimos recentemente? Por favor, faça-o. Mas se, semana após semana, confiarmos tanto nos outros que nossa própria voz é silenciada, estamos a caminho de extinguir o Espírito. Portanto ao invés disso, vamos cultivar uma “língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado.” (Is 50.4).

Há alguns anos, encontrei meus antigos diários da faculdade. Muitos deles continham pensamentos profundos. Fiquei chocado com o que eu sabia na época! Então me ocorreu: eram cópias do comentário de Matthew Henry. Eu os havia copiado, esperando mostrar a alguém meus pensamentos. Estava retratando os pensamentos de um puritano como se fossem meus. Estava apenas enganando a mim mesmo.

2. Paramos de Aprender

Como pastores, quanto devemos ler? Você fica desanimado com o número de livros que os outros consomem? A disciplina da leitura é vital – Paulo continuou a ler durante toda a sua vida e ministério (2 Tm 4.13). Porém o que acontece quando o aprendizado cessa? Nos apoiamos no que aprendemos há 10 anos atrás, ao invés de nos apoiarmos no conhecimento adquirido nos últimos 10 anos. Pode ser que nossos pensamentos sejam os de nossos professores do seminário e não vindos de nossos próprios estudos e conversas. Deixamos também de compreender as tendências culturais ao nosso redor e perdemos importantes parceiros de diálogo disponíveis apenas no papel impresso.

O que significa o aprendizado para pastores que não têm livros? Felizmente, a leitura não é uma varinha de condão, como também o treinamento formal não o é. Contudo, deixamos de avançar em nosso discipulado se não buscarmos o aprendizado o máximo que pudermos.

3. Solapamos a Maneira como Deus nos Programou

Uma das grandes bênçãos em minha vida é conhecer cristãos do mundo todo e observar a demonstração da diversidade criativa de Deus. Nossas personalidades são únicas. Gostamos de coisas diferentes. Nossos modos de comunicação variam. Copiando os outros, solapamos nossos próprios dons. Estar seguro de quem somos em Cristo é da maior importância. E estar seguro em como Deus nos habilitou – e, talvez mais importante, em como não nos habilitou – também importa.

Nós não precisamos nos colocar forçosamente em papéis para os quais não somos feitos. Como escreveu Paulo, a mão não deve ficar com ciúmes por não ser o pé e nem deve tentar ser o pé (1 Co 12.15). Deus nos deu o corpo de Cristo, equipado para boas obras, dotado para servir uns aos outros para o crescimento da nossa mútua alegria. O Salmo 139 não é apenas para o Dia das Mães. É uma afirmação de que Deus nos teceu no ventre de nossa mãe em uma infinidade de maneiras. Vamos aproveitar como Ele nos fez.

Verdade Cobrindo Falsidades

Ministério de segunda mão usa a verdade para cobrir falsidades. Por isso, queime seu saco de truques e nunca mais volte a ele. O ministério de segunda mão flui de um conhecimento de segunda mão de Deus. Ao tomar esse caminho, nos tornamos uma caricatura do que esperávamos nos tornar. Imaginamos saber muito mais do que realmente sabemos. Lembro-me do final do livro Quatro Amores, de C.S. Lewis, em como ele reflete sobre sua própria experiência com Deus:

Deus sabe, não eu, se alguma vez experimentei esse amor. Talvez eu tenha somente imaginado o sabor. Aqueles como eu, cuja imaginação vai muito além de sua obediência, estão sujeitos a uma justa penalidade; imaginamos com muita facilidade condições muito mais elevadas do que qualquer uma que realmente já alcançamos. Se descrevermos o que imaginamos, podemos fazer com que outros e até mesmo nós mesmos, creiamos que já estivemos lá.

À medida que continuamos aprendendo com outros, que possamos ministrar a partir de uma experiência cristã que é totalmente de primeira mão.

Traduzido por Mauro Abner.

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