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Atualmente, uma das coisas que percebemos rapidamente em todos os tipos de discipulado (em grupos de todas as idades), é que os “pontos de contato com a igreja” são apenas uma pequena fatia do bolo da formação espiritual. As manhãs de domingo, os encontros no meio da semana, os pequenos grupos–todos são vitais e indispensáveis. Mas, juntos, totalizam três ou quatro horas da semana de um cristão. Enquanto isso, o jovem cristão comum passa cerca de 40 a 50 horas por semana em frente às telas e nas redes sociais. Eles estão no TikTok quase constantemente. E isso os está moldando poderosamente.

Por isso, é crucial que pais cristãos, pastores e aqueles que trabalham com jovens estejam envolvidos nesta parte da vida dos estudantes. Onde os jovens cristãos estão investindo seu tempo? O que estão assistindo, ouvindo, lendo? E como eles tomam essas decisões? Quais parâmetros os jovens cristãos possuem para avaliar, com sabedoria bíblica, se uma “fatia” de mídia será nutritiva ou venenosa para sua alma?

Se você é pai, pastor, líder de jovens ou mentor, aqui estão cinco questões para dialogar sobre as mídias com os jovens.

1. Você está balançando no pêndulo?

Muitos jovens cristãos estão suscetíveis ao “problema do pêndulo”. Talvez tenham crescido relativamente blindados ou com o acesso limitado às mídias que lhes disseram serem as mais apropriadas. Porém, depois de crescidos, frequentemente se ressentem, enxergando a “cautela cristã” como algo legalista ou limitado. Talvez tenham ido para a faculdade e sido “iluminados” para as maravilhas deste mundo enérgico e complicado. Ou talvez estejam simplesmente tentando acompanhar o ritmo dos amigos. Por serem jovens, com uma baixa capacidade de enxergar nuances, começam a balançar rumo ao outro extremo.

Conheço bem esta trajetória pois a vivenciei tempos atrás. Minha criação evangélica não foi blindada ou legalista como algumas (e sou grato por isso), mas na década dos meus 20 anos saboreei a oportunidade de ter acesso a uma maior variedade de mídias–incluindo vários filmes para maiores de 18 anos que eu gostaria de poder “desver”. Eu balancei o pêndulo longe demais na direção oposta–de cuidadoso demais para imprudentemente acrítico.

Hoje, ao final da década dos 30 anos, estou mais estabilizado entre estes extremos. Ainda abordo diversos filmes e programas de TV em meus artigos e livros, mas sou mais cuidadoso com relação ao que escolho assistir e (mais ainda) no que recomendo aos outros. É disso que se trata meu livro Gray Matters [Matérias Cinzentas]. Tento apresentar um paradigma para navegarmos o espaço entre o legalismo e a liberdade.

Quando começar a perceber que o problema do pêndulo está ocorrendo na vida de jovens cristãos, não se desespere. É normal. Acontece em quase todas as gerações. Às vezes, pela graça de Deus, o jovem perceberá por conta própria que foi longe demais, que isso não lhe faz bem, e que talvez seus pais tenham sido sábios em sua cautela com relação às mídias. Mas, às vezes, vale a pena instigarmos um pouco para levá-lo a esta percepção. A próxima questão é uma maneira pela qual podemos fazer isso.

2. Sua dieta de mídias está te deixando espiritualmente saudável ou doente?

Escrevi meu livro mais recente, The Wisdom Pyramid [A Pirâmide da Sabedoria] para incentivar cristãos a pensarem mais sobre o poder formador dos hábitos nas mídias. Da mesma maneira que o que entra em nosso corpo–aquilo que compõe nossa dieta de alimentos e bebidas–nos deixa saudáveis ou doentes fisicamente, o que entra em nossa alma (ideias, imagens, vozes, argumentos) pode nos deixar espiritualmente saudáveis e sábios ou espiritualmente doentes e tolos. A premissa do The Wisdom Pyramid é que a nossa dieta de mídias nos molda. Os filmes que assistimos, podcasts e músicas que ouvimos, os livros que lemos–basicamente, onde investimos nossa atenção e onde gastamos nosso tempo–agarram nosso coração e dão forma aos nossos amores. Se não tomarmos cuidado, eles conduzirão nossos amores por caminhos inúteis.

Então peça a seus alunos que avaliem sua dieta de mídias e entretenimento–o que tem “alimentado a alma deles”. Se notar uma mudança na saúde espiritual de uma aluna ou perceber que ela está se desviando na direção da “desconstrução”, há grandes chances de que algo mudou em sua ingestão. Procure a fonte disso.

3. Seu consumo de mídias é excessivo?

Se ficar claro que há um rastro de problemas espirituais surgindo de maus hábitos nas mídias, uma pergunta útil diz respeito à quantidade de mídia na dieta desta pessoa. Esta é uma pergunta fundamental, mesmo se desconsiderarmos o tipo de conteúdo consumido.

Sinceramente, muitos de nós somos glutões das mídias. É o que o algorítmo quer. Antes de terminar de assistir um episódio de uma série no Netflix, a opção “Assistir o próximo episódio” aparece para levá-lo a outra coisa. A menos que escolhamos ativamente resistí-lo, o ritmo natural da vida na era do smartphone é que sejamos mediados constantemente. Olhe em volta quando estiver em alguma fila. Olhe para o motorista do carro ao seu lado parado no semáforo. Em quase todas as brechas em nossas vidas, se nosso celular estiver em nosso alcance, nós buscamos por ele. Começamos a rolar o feed. Estamos condicionados. O resultado? Todos os vestígios de nossas vidas estão sendo colonizados por conteúdo. Isso não faz bem à nossa alma.

Quando todos os centímetros de nossas vidas estão preenchidos por conteúdo, não temos espaço para que mais nada que consumimos seja processado para que absorvamos os nutrientes. Nos empanturramos com junk food–somos alimentados pelo Al com balinhas do TikTok desenvolvidas na China; docinhos açucarados do Instagram colocados em nosso paladar por um psicólogo comportamental contratado por Mark Zuckerberg. Não temos espaço em nossas vidas para pensar, fazer conexões, sintetizar, discernir, considerar, ponderar. Apenas consumimos.

Desafie os estudantes, e a si mesmo, a resistir o desejo de ser constantemente mediado. Comece pequeno. Você consegue deixar seu celular no bolso e não olhar para ele enquanto estiver sentado sozinho no ponto de ônibus por cinco minutos? Então aumente um pouco mais. Você consegue passar uma hora lendo um livro ou sentado em silêncio na natureza em vez de fazer algo em um dispositivo? Duas horas? Necessitamos desesperadamente recuperar o espaço para o silêncio, o descanso, a quietude e a oração. A habilidade de deixar de lado nossos dispositivos se tornou uma nova, e essencial, disciplina espiritual.

4. Esta mídia o ajuda a amar mais a Deus?

Dado o excesso de entretenimento e mídia que faz o silêncio não-mediado ser tão difícil, como podemos tomar melhores decisões enquanto cristãos? Se eu escolher me limitar a apenas um filme ou série de vez em quando (e creio que isso seja sábio!), quais insumos devo levar em consideração em minha escolha?

Quero sugerir que, biblicamente, uma ótima maneira de refletir sobre esta questão é considerar os dois mandamentos mais importantes, tal como Jesus os identificou (Mt 22.35–40; Mc 12.28–31; Lc 10.25–28): amar a Deus e amar ao próximo.

Passei anos pensando sobre estas questões e continuo retornando a este simples lembrete: a maioria das escolhas na vida cristã deve ser filtrada pelo parâmetro do maior mandamento. Isso irá ajudar ou prejudicar minha adoração a Deus?

Como uma porção de mídia ou entretenimento pode nos ajudar a amar mais a Deus? Eu poderia lhe oferecer diversos exemplos da minha vida pessoal, mas não vou aborrecê-lo com isso. Todos nós já vivenciamos aqueles momentos de transcendência em que nos arrepiamos assistindo a um filme, um show ou até mesmo um evento esportivo (para mim, os jogos de futebol americano do KC Chiefs e de basquete do Kansas Jayhawks). Para o individuo secular, essas experiências vagamente espirituais terminam em si mesmas: prazeres momentâneos que mexem com nossas emoções e talvez com nossa alma. Para os cristãos, no entanto, os arrepios apontam para o fato de que este mundo não é aleatório e sem sentido. É a criação ordenada de um Criador (Sl 24.1). Tudo que é belo e significativo neste mundo testifica para este fato–e pode nos levar a adorar a Deus.

Lembre seus alunos que história e beleza foram ideias de Deus. Ele escolheu se revelar a nós nas Escrituras, não através de um lista de 2.000 páginas de pontos-chave, mas através de beleza e história: heróis e vilões, tensão e resolução, poesia e parábolas, metáforas e canções. E Ele nos criou não para sermos apenas cérebros ambulantes, mas criaturas completas com sentidos e emoções.

É por isso que arte, beleza e entretenimento podem nos ajudar a ama-Lo.

5. Esta mídia o ajuda a amar o seu próximo?

Existem muitas implicações sobre como a consideração do “amor ao próximo” compõe nossas escolhas de entretenimento. Uma delas é simplesmente o conteúdo do entretenimento. As pessoas na tela diante de mim são respeitadas e tratadas como seres humanos, ou são exploradas e diminuídas meramente para o meu prazer? O filme ou série que estou assistindo leva a sério as diversas texturas da existência humana de maneiras que parecem verdadeiras, ou as generaliza e trivializa de maneiras que parecem falsas? Como espectador da vida de muitas pessoas que não conheço–sejam elas estrelas no TikTok ou dançarinos num clipe musical–estou crescendo em empatia e amor por eles, ou são apenas produtos para o meu consumo?

Escolha mídias que dignificam as pessoas e o ajudam a apreciar, entender e amar aos outros como preciosos portadores da imagem de Deus, que possuem lutas reais, talentos reais e vidas reais.

O “amor ao próximo” deveria nos ajudar a fazer escolhas de mídia tendo em mente a edificação coletiva de nossa comunidade. Podemos decidir não assistir algo por causa da maneira que isso afeta não apenas a mim, mas aos outros em minha comunidade (ver 1Co 8). Otimisticamente, talvez possamos ver o entretenimento como uma experiência comunal, mais do que uma experiência isolada, onde sou só eu e meu dispositivo. Vá a shows musicais com grupos de amigos. Comece um clube de discussão de filmes. Resista à atração egocêntrica do mundo. Aprecie a beleza do mundo com outras pessoas.

Por fim, o “amor ao próximo” deveria nos estimular a ver nossos hábitos de entretenimento através das lentes da missão. Nossas escolhas comprometem nosso testemunho e diluem nossa credibilidade de um povo “santo”? Como podemos pensar criativamente sobre o entretenimento como uma oportunidade para o evangelismo? Um ponto positivo de ser um observador atencioso e crítico da cultura pop enquanto cristão é que aprendemos muito sobre as perguntas, anseios, confusões e ídolos da nossa era secular. Isso pode levar a diálogos frutíferos com o nosso próximo que o leve a pensar sobre questões espirituais que, de outra forma, ignoraria. Alguém que não aceitaria imediatamente um convite para ir à igreja, poderia aceitar assistir um filme do Terrence Malick ou passar horas falando sobre O Senhor dos Anéis com você–abrindo portas para um diálogo teológico que, de outro modo, estariam fechadas.

Traduzido por Caroline Ferraz.

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