Em seu livro The Vanishing American Adult [O Desaparecimento do Adulto Americano], Ben Sasse argumenta a favor de criar crianças resilientes. Ele fala sobre o valor da perseverança, do trabalho árduo e de aprender a sofrer. Ele tenta combater a adolescência prolongada que observou em seu trabalho como presidente de uma universidade, enquanto oferece um caminho a ser seguido para a próxima geração dos Estados Unidos.
Embora provavelmente concordemos com Sasse que é importante ajudar as crianças a desenvolverem resiliência, isso é mais fácil falar do que fazer. Visar a resiliência inevitavelmente traz questões sobre como ajudar as crianças a navegar suas emoções, e existem dois equívocos nos quais podemos facilmente cair.
Um é proteger as crianças de qualquer coisa difícil; o outro é desencorajar as crianças de expressarem seus sentimentos. Por um lado, os pais não querem ver seus filhos machucados pela fragmentação deste mundo, então os protegem de coisas difíceis a qualquer custo. Por outro lado, os pais não querem que seus filhos sejam governados pela fragmentação dentro deles, então inadvertidamente os encorajam a reprimir emoções.
Existe uma maneira mais biblicamente fiel de criar crianças emocionalmente resilientes. Podemos usar os salmos para ensinar as crianças como sentir—tanto nos bons tempos quanto nos ruins.
Sentimentos São Bons
Deus nos criou como seres sentimentais. Sentimos alegria. Sentimos dor. Sentimos tristeza. Sentimos excitação. Todos esses sentimentos nos dizem algo sobre o mundo que vivenciamos. Às vezes, nossos sentimentos nos direcionam a fazer algo—tal como quando nos sentimos assustados por um cachorro grande e nos afastamos dele. Às vezes, nossos sentimentos revelam nossos desejos— tal como quando sentimos amor pela família e amigos. Às vezes, nossos sentimentos nos lembram de nossas limitações—como quando nos sentimos ansiosos ou sobrecarregados. Podemos ajudar as crianças a reconhecerem a bondade de seus sentimentos apontando para o Deus que as criou para sentir.
Quando uma criança diz: “Estou triste”, em vez de tentar imediatamente animá-la, aponte-a para os salmos, nos quais outros cristãos se sentiram tristes, mas encontraram em Deus um ouvido amigo e fiel em sua tristeza. Os salmos muitas vezes são paralelos aos eventos narrativos do Antigo Testamento, nos permitindo vislumbrar as almas dos personagens bíblicos.
Vemos Davi lidando com a traição (Sl 55), Moisés nos lembrando da brevidade da vida (Sl 90), e Heman, o ezraíta, passando por dúvida e desilusão (Sl 88). Os salmos são os crentes do Antigo Testamento expressando e orando seus conflitos, sentimentos, provações e dúvidas a Deus.
Em uma variedade de situações, os pais podem levar as crianças aos salmos como modelo de como processar seus sentimentos diante do Senhor.
Sentimentos Não São Uma Licença para Pecar
Não devemos ignorar os sentimentos, mas também não devemos necessariamente ceder a eles. Às vezes, nossos sentimentos são um indicador de nosso pecado. Por exemplo, uma criança pode sentir inveja do novo brinquedo ou do sucesso esportivo de um amigo. Não finja que o sentimento não existe; reconheça-o e mostre à criança como ele pode levar ao pecado em nossas vidas (cobiça). Sentir inveja não deve ser tratado da mesma forma que sentir tristeza ou felicidade.
O Salmo 4.4 diz: “Perturbai-vos e não pequeis; falai com o vosso coração sobre a vossa cama e calai-vos”. O salmista não está nos ordenando a não sentir raiva; ele está nos ordenando a não pecar em nossa ira. Há uma maneira de estar com raiva sem dar licença ao pecado—uma maneira de sentir sem pecar. O salmista presume que nossos sentimentos não são uma desculpa para pecar. Quando seus filhos têm sentimentos exagerados, seja de raiva ou outro qualquer, ensine-os a perguntar se seus sentimentos os estão levando ao pecado e, se sim, a se arrependerem e encontrarem perdão. O Salmo 51 fornece um modelo de arrependimento.
Sentimentos Podem Ser Compartilhados
Enquanto o Salmo 4.4 nos diz para ponderar a raiva em nossos corações e ficar em silêncio, outros salmos falam sobre derramar nossos corações ao Senhor. A maioria dos salmos são clamores por ajuda na angústia. Muitas vezes os salmos são orações a Deus, mas muitos são dirigidos à congregação. A premissa é que o povo de Deus clamaria junto, derramando seus sentimentos sobre seu sofrimento juntos como uma congregação.
Não é sempre sábio dar vazão total aos nossos sentimentos quando estamos frustrados, mas o impulso de falar sobre como nos sentimos com outros é um impulso bíblico, mesmo que façamos restrições a quem contamos. À medida em que conversamos com as crianças sobre seus sentimentos, é importante que saibam que queremos ouvir como se sentem e que também podem compartilhar seus sentimentos com amigos de confiança. Cristãos devem se sentir livres para conversar sobre sentimentos e levá-los juntos perante o Senhor.
Sentimentos Nem Sempre São Confiáveis
No Salmo 73, o salmista olha para a prosperidade dos ímpios e é tentado a duvidar da bondade e do cuidado de Deus. Ele é tentado a se entregar à inveja e à cobiça. E é um sentimento forte (v. 22). Ele quase escorrega (v. 2), o que significa que quase perde o equilíbrio em andar fielmente. Mas vemos que quando ele leva seus sentimentos ao Senhor, seu coração e perspectiva são mudados.
Quando seus filhos são tentados a confiar em seus sentimentos, leve-os a salmos como o Salmo 73. Ensine-os a negar a ideia de que escaparão dos efeitos deste mundo caído, mas também a combater a noção de que seus sentimentos são o impulso governador em suas vidas. Frequentemente ouvimos pessoas falarem sobre “sua verdade” ou dizerem coisas como “não posso evitar, é assim que me sinto”. Queremos honrar os sentimentos das pessoas, mas precisamos lembrar que o coração é enganoso (Jr 1.9-10). Se confiarmos nos sentimentos, eventualmente seremos levados ao erro porque nossos sentimentos nos enganarão.
Ensine as crianças que os sentimentos não são o padrão da verdade—Deus é. Até mesmo nossos sentimentos se submetem a Ele e à sua vontade. Haverá momentos em que nossos sentimentos nos trairão. Para saber se nossos sentimentos estão nos enganando, nós os confrontamos com as Escrituras. Se eles traírem a Palavra de Deus, estão nos traindo.
Mostre às Criança um Caminho Melhor
Em momentos de emoção intensa, os sentimentos podem parecer a única coisa real para nossos filhos. Portanto, não podemos começar com a ideia de que os sentimentos não são confiáveis. Queremos levar as crianças ao ponto em que possam reconhecer tanto a bondade de serem criadas como seres sentimentais quanto a realidade de serem seres sentimentais caídos.
Depois de conversarmos sobre nossos sentimentos, reconhecendo seu lugar em nossas vidas, e resistido à vontade de pecar, então podemos olhar com nossos filhos para seus corações para discernir a validade de seus sentimentos.
Nossa cultura parece oferecer duas opções para os sentimentos: confie sempre em seus sentimentos ou negue completamente seus sentimentos. Nenhuma dessas levará as crianças a serem verdadeiramente resilientes. Em vez disso, ajude as crianças a reconhecerem a dificuldade deste mundo e a encontrarem maneiras saudáveis de expressar sentimentos. Usando os salmos como seu guia, mostre às crianças um melhor caminho para lidar com as emoções—um caminho guiado pelo Deus que nos criou como seres sentimentais e nos deu um livro inteiro da Bíblia para nos ensinar a sentir da forma correta.
Traduzido por Rebeca Falavinha.