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Como pode uma mãe, que crê que Deus é soberano sobre a salvação, encontrar alguma esperança para seus filhos? Como poderá ela não viver diariamente com medo, pelo estado de suas almas ? Se apenas os escolhidos por Deus encontram a vida eterna nele, como poderá ela dormir à noite, se nenhum deles ainda professou fé?

Em uma entrevista recente sobre o Calvinismo, Andy Stanley — pastor sênior da North Point Community Church em Atlanta, EUA — levantou várias questões ao analisar criticamente o Calvinismo por vários ângulos. Em um segmento em particular, ele falou especificamente sobre as mulheres, e que de seu ponto de vista, as mulheres falam menos sobre sua crença na soberania de Deus na salvação, pelo fato de que lhe parece (a ele) severa demais. Ele disse que as mães teriam dificuldade em reconciliar seu instinto maternal de proteger, cuidar e prover para seus filhos, com uma visão de salvação que, pela ótica dele, fornece poucas garantias de que eles serão salvos.

Mães Fortes, Deus Mais Forte

Stanley está correto em apelar ao instinto maternal. O coração de mãe a impulsiona de maneiras poderosas. Por que não o faria? Ela foi criada à imagem de Deus, um Deus que citou uma mãe que amamentava quando ele queria mostrar a Israel o quanto eles poderiam confiar nele (Is. 49.15) Se uma mãe que amamenta não pode se esquecer de seu filho, quanto mais Deus, cuja imagem ela ostenta? Mesmo se ela o fizer, diz Isaías, Deus não se esquecerá de você.

Quando Jesus ansiava que seu povo se arrependesse e cresse, ele disse isto:

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Lc 13.34).

Até mesmo o apóstolo Paulo usou imagens de uma mãe que amamenta para falar sobre seu terno cuidado pelos tessalonicenses (1Ts 2.7).

O instinto materno é forte. Ele nos faz fazer coisas que nunca pensamos que faríamos ou poderíamos fazer. É semelhante aos atributos de Deus.

Portanto, confio a Deus o cuidado dos meus filhos, porque Ele é bom, e deu a mim (Sua imagem) aos meus filhos, para comunicar ao mundo como Ele é.

E o Que Dizer da Graça de Deus?

Mas apenas dizer aos meus filhos como Deus é, não os salva, e mesmo assim não sou uma perfeita portadora de Sua imagem. Às vezes, demonstro aos meus filhos como Deus não é. Mas há outro que demonstra a imagem de Deus perfeitamente. Jesus é Deus feito carne, tudo aquilo que Deus queria dizer sobre si mesmo em uma pessoa (João 1.1-3, 14; Col. 1.15), tal como escreveu Sally Lloyd-Jones tão proveitosamente. Quando Jesus veio, ele não apenas nos disse como Deus é. Ele nos contou como Deus salva — e talvez em nenhum lugar mais proveitosamente do do que no Evangelho de João.

Em todo o Evangelho de João, vemos a Jesus explicando quem ele é e o que ele se propôs a fazer. Mas os discípulos (e todo o povo judeu) não entenderam. No entanto, Ele não os deixa neste estado de incompreensão. Ele disse a eles porque eles não entendiam. Ainda não tinham o Espírito Santo (João 16.4–15). Os discípulos entenderão um dia, mas somente quando Jesus tiver enviado o Espírito Santo, somente quando ele disser que é hora de entender. Os discípulos perseverarão até o fim, mas somente porque o Pai os deu ao Filho, e ninguém pode arrebatá-los de Suas mãos (João 10.25–29).

A clareza das palavras de Jesus é impressionante e sóbria. Ele tem controle total, tanto dos meios de salvação quanto da graça sustentadora, que nos preserva até o fim. Talvez isto seja aterrorizante, como afirma Stanley, se não conhecemos o caráter daquele que nos conta como tudo isto vai acontecer. Mas nós conhecemos o caráter de Deus, que preservou seu povo através de muitas tribulações e suportou o julgamento final por nossa conta. Podemos confiar nele com nossas próprias vidas e com a vida de nossos filhos amados.

Que Esperança Podemos Ter?

Como mãe calvinista, observo esta teologia ensinada por Jesus demonstrada a cada dia. Meus filhos sabem instintivamente que não há nada que possam fazer para se forçarem a obedecer. Eu também sei disto. Portanto, continuo contando a eles sobre a esperança de que Jesus possa fazê-los obedecer, retirando seus corações partidos e tornando-os novos outra vez (Ez 36.25-26).

Oro por eles com fé, não porque Deus tenha favoritos na eleição. Em vez disso, oro a um Deus que nos criou à sua imagem, que deseja que nós o glorifiquemos, e que criou um caminho para sermos justificados perante ele, quando nós não queríamos nada com ele. Ele ama o mundo que criou (João 3.16). Ao mesmo tempo, ele é santo e justo (1Sa 2.2). Deus nos ama e é perfeito em justiça e santidade. Ele é impelido a salvar e também a julgar o pecado (Ro 3.21-26).

Oro por eles com fé, não por ter “instinto maternal”. A Palavra de Deus, em última análise, guia como crio meus filhos. E a Palavra de Deus me diz que o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6.23). Deus não elege todos para a salvação. Mas é um milagre que ele salve um sequer, porque sem a intervenção divina, nossos corações tolos escolheriam o pecado e a destruição todas as vezes (Rm 1.18-32). Deus oferece a salvação livremente, mas somos pecaminosos demais — curvados para dentro, como Agostinho e mais tarde Martinho Lutero diriam — para aceitá-lo sem seu trabalho preparatório em nossos corações.

Oro pelos meus filhos com fé, não por compreender sempre Seus caminhos. Conheço o Seu caráter. Deus é soberano e ele é bom (Sl 25.8). Deus é cheio de graça e é justo (Sl 145.8). Deus é misericordioso e ele é santo (Lv 11.45; 20.7). E confio nele para a vida eterna de meus filhos.

Portanto, como ora uma mãe calvinista? Ela ora como a Escritura nos ensina: quebrantada pelo pecado, alicerçada na soberania de Deus, implorando pela misericórdia do Espírito e confiante nas promessas do evangelho de que, quando Jesus salva, ele salva para sempre.

Nota dos editores: Por mais importante que seja entender o evangelho e defendê-lo, não é menos importante proclamá-lo. Não se deve apenas articular o evangelho fielmente, é necessário “evangelizar”. Uma das melhores maneiras de preservar o evangelho é compartilhá-lo. Deus nos livre de recuar para santos grupos de reflexão teológica que nunca arderão com um zelo sagrado para espalhar as boas novas — individualmente, através de nossas igrejas locais, de maneira transcultural, em casa e até os confins da terra.

Traduzido por Pedro Henrique Aquino

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