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As Escrituras requerem que amemos nosso próximo, incluindo aqueles que são inconvenientes para nós. Mas o trabalho diário da maioria das pessoas ocorre em um mercado agressivo. As empresas estão sob enorme pressão para vencer seus concorrentes. Os cristãos podem amar seus próximos ao mesmo tempo em que se esforçam para superá-los?

Talvez surpreendentemente, a resposta é “sim”. Mas isso só acontecerá se os cristãos estiverem determinados a enxergar seu trabalho e a economia através das lentes da Palavra de Deus. E isto significa que os pastores e as igrejas desempenham um papel essencial em ajudar as pessoas a refletirem sobre o trabalho.

Todo Trabalho é Competitivo

Nossa cultura nos ensina que a competição significa uma disputa de sobreviência dos mais fortes para obter o máximo que pudermos para nós mesmos às custas de todos os outros. É por isso que há tanto mal e tanta destruição no mercado competitivo. Foi-nos dito que em nosso trabalho diário, o dia inteiro e a cada dia, estamos essencialmente jogando um gigantesco jogo de Monopólio, no qual o objetivo é apoderarmos-nos de todo o dinheiro para nós mesmos e deixar todos os outros desamparados. (Se desejarmos um modelo ruim de economia, o jogo Monopólio é o mais impiedoso de todos).

Mas é possível competir sem ser egoísta e destrutivo. Necessitamos somente de uma melhor compreensão do que é a concorrência.

Por mais simples que isto pareça, tudo começa com o fato de que não somos Deus. Somos finitos. Deus nos criou com muitas limitações – de espaço, de tempo, de força, de informação. Tais limitações nos obrigam a investir quase todos nossos momentos acordados, escolhendo entre opções concorrentes. Devo passar a próxima hora lendo ou orando? Devo comprar um carro novo ou continuo gastando dinheiro na manutenção do que tenho?

Esta é a verdadeira razão pela qual competimos. Todo o trabalho ocorre em uma economia, onde as pessoas fazem trabalhos uns para os outros. E todas as economias, independentemente de sistema, envolvem concorrência. Compradores e vendedores oferecem oportunidades recíprocas para transações. As pessoas selecionam as transações que consideram mais atraentes e, ao mesmo tempo, recusam as alternativas.

O negociante de carro que quer lhe vender um carro novo e o mecânico que quer lhe vender serviços de manutenção para seu carro velho estão, inevitavelmente, em competição um com o outro. Se você comprar um carro novo, o mecânico perde você como cliente. Se não comprar o carro novo, o vendedor de carros não ganhará com o negócio.

Esta rede social de trabalho competitivo é inerente à decisão de Deus de criar mais de uma pessoa (“Não é bom que o homem esteja só”, Gn 2.18). É por isso que Deus está intensamente interessado em aplicar a justiça e a misericórdia às transações econômicas em todos os lugares, desde a lei e os profetas do Antigo Testamento até os códigos domésticos e as parábolas que se desenrolam em locais de trabalho no Novo Testamento. Deseja que nossa concorrência seja cheia da graça e honesta.

Por mais desagradável que seja, a competição é inerente à nossa natureza finita. Para ter uma economia sem competição, necessitaríamos dos poderes infinitos e da autonomia radical do próprio Deus.

Concorrência como Cooperação

Com a Palavra de Deus como nosso alicerce, podemos ver nosso trabalho diário como nosso serviço a Deus, obedecendo ao mandato da criação (“sujeitá-la e ter domínio”, Gn 1.28) e apontando para a volta de Cristo à luz do nossas boas obras. Para a maioria das pessoas que trabalham no mercado competitivo, isto significa uma nova maneira de competir.

As pessoas que competem de maneira piedosa não estão tentando superar e destruir seus concorrentes. Em vez disso, estão tentando atender os clientes da melhor maneira possível. O vendedor de carros piedoso não quer destruir o mecânico; ele quer vender a seus clientes os carros certos para eles, com o melhor preço que ele possa oferecer de forma sustentável. O mecânico piedoso não quer destruir o negociante de carros; ele quer fazer um bom trabalho para colocar carros quebrados de volta na estrada com o melhor preço que ele pode oferecer de forma sustentável.

O revendedor e o mecânico ainda estarão competindo pelos clientes. Mas agora eles podem considerar um ao outro como partes necessárias de um bem total. O negociante pensa: O mecânico está me ajudando a buscar a excelência – porque se eu não fizer um bom trabalho, as pessoas podem ir até ele. E da mesma maneira, eu o ajudo a fazer seu melhor. O mecânico raciocina da mesma maneira, mas ao contrário.

Na verdade, eles estão cooperando um com o outro. Eles estão ajudando um ao outro a produzirem uma economia geral em que os clientes ficam bem servidos. E estāo se responsabilizando mutuamente a altos padrões de excelência.

Difícil Tarefa de Amar os Concorrentes

É claro, sabemos que este é um mundo caído. Mesmo entre o povo de Deus, o poder do pecado permanece substancial. Seria ingênuo pensar que participar da competição como cooperação é fácil.

Pelo contrário, evitar cair no modo de competição salve-se quem puder é dispendioso.

Envolve investimento diligente do nosso tempo e recursos em disciplinas espirituais. As pessoas que perderam a intimidade com Deus geralmente não vão aparecer no trabalho com um espírito de amor cooperativo em relação aos seus concorrentes econômicos. Portanto, o tempo que passamos na Palavra e em oração, junto com outras disciplinas, é essencial para podermos viver este modo de vida. Se quisermos um desafio espiritual realmente difícil, que trará frutos em nossas vidas, devemos tentar orar por nossos concorrentes!

A concorrência piedosa também envolve ser honesto nos negócios – mesmo quando seus concorrentes não competem de forma justa. O custo econômico da boa ética pode às vezes ser superestimado. As empresas que se comportam eticamente gozam de boa reputação e têm clientes fiéis, além de economizar dinheiro com os custos de litígios No entanto, agir eticamente envolve sacrifícios reais. Às vezes custa todo o negócio. Em um mundo caído, os bons nem sempre saem por cima – pelo menos, não visivelmente e na era atual.

Finalmente, competir de maneira piedosa envolve cultivar uma cultura corporativa de amor ao próximo. As pessoas em seu local de trabalho falam e agem como se o objetivo do negócio fosse ganhar dinheiro, ao invés de servir aos clientes? Se assim for, é hora de mudar de direção. Se referem aos concorrentes de maneiras degradantes e destrutivas? Se assim for, é necessário domesticar a língua. Isso é especialmente responsabilidade dos líderes empresariais, cujo poder de moldar a cultura corporativa é desproporcional; mas, no final das contas, é responsabilidade de todos fazer parte da solução.

A longo prazo, viver uma vida honrando a Deus, exige que vejamos o mercado como uma oportunidade de competir de maneira piedosa. Nossa cooperação ao servirmos uns aos outros, reflete a imagem de Deus, à qual Cristo está nos restaurando. E nosso futuro é aquele em que todas as nações do mundo trarão seus diversos produtos culturais para a Nova Jerusalém e os dedicarão a Deus.

O que você está contribuindo hoje que aponta para aquele futuro incrível?

Traduzido por Pedro Henrique Aquino.

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