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Estima-se que mais de 4 bilhões de pessoas tenham assistido ao funeral da Rainha Elizabeth II. Enquanto os carregadores do caixão o erguiam sobre seus ombros, me ocorreu o quão aterrorizante aquilo deve ter sido para eles. Fazer qualquer coisa diante de uma audiência global daquele tamanho já seria intimidante o suficiente, mas eles estavam erguendo não apenas a falecida monarca, como também a coroa imperial, o orbe e o cetro. É difícil imaginar uma carga mais valiosa para se carregar.

Mas existe uma carga ainda mais assustadora: a responsabilidade de pastorear o povo de Deus. O peso disso pode alimentar nosso orgulho ou nos deixar completamente apavorados. Refletir sobre o que significa Jesus ser o Bom Pastor pode nos trazer humildade e encorajamento. Sua presença como o líder perfeito do povo de Deus fornece três percepções essenciais para um pensamento saudável sobre liderança.

As Ovelhas Pertencem à Deus

Em Ezequiel 34, Deus repreende os líderes perversos de seu povo. No versículo 6 ele chama o seu povo de “minhas ovelhas” e continua a fazê-lo pelo restante da passagem. Isso é essencial para um ministério saudável. Normalmente, nos referimos a uma igreja específica de uma maneira conveniente e curta como “a igreja do Pastor Fulano de Tal”. Afinal, o próprio Paulo fala repetidamente sobre “meu” (Rm 11.13, 2 Tm 4.11) ou “nosso ministério” (2 Co 3.3, 6.3), mas as pessoas sob a liderança de um pastor não são, em última análise, “seu” povo, mas de Deus. Cada crente que encontramos pertence a Deus.

Paulo enfatiza esse ponto quando ele encarrega os anciãos de Éfeso a “pastorearem a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28). Paulo enfatiza não apenas a propriedade de Deus sobre o rebanho, mas também o alto preço que foi pago para obtê-lo. A igreja é extremamente valiosa para Deus.

Não é surpresa, então, que Paulo também reconheça que o ministério em si pertence a Deus. “Desde que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus” (v. 24). Mais uma vez, precisamos ter cuidado com nossa perspectiva. A obra é do Senhor.

Os Pastores São Subpastores

Pedro convoca os líderes da igreja para “pastorear o rebanho de Deus que há entre [eles]” lembrando-os também de que o próprio “Supremo Pastor” um dia voltará (1 Pe 5.2-4). A autoridade pastoral de um líder de igreja não é suprema. Ele está lá para servir subordinado ao verdadeiro Pastor. Apesar do que o organograma da igreja possa dizer, Jesus é o pastor titular da congregação.

Se isso nos ensina humildade, também nos traz alívio. Se Deus é o Pastor supremo, eu posso ficar tranquilo. Os pastores têm uma responsabilidade importante, mas não uma responsabilidade suprema. O melhor que posso fazer como pastor é levar as ovelhas a ouvirem a voz de Jesus. Ao guiar as pessoas de acordo com a Palavra de Deus, posso ter certeza de que estou sendo fiel.

Uma parte significativa dessa fidelidade é garantir que meu estilo de liderança reflita o dele. Se Jesus é o Bom Pastor, nós, como subpastores, devemos liderar como ele lidera. Fidelidade não se resume apenas a passar o conteúdo correto em nosso ensino, mas também à postura, ao tom e ao comportamento adequados.

O pastor é um ponto de referência de como o próprio Jesus é. A impressão das pessoas sobre o amor de Cristo por elas provavelmente será influenciada pela forma como percebem o amor do seu pastor por elas. Pelo que conhecem de nós, as pessoas assumiriam que Jesus é “manso e humilde de coração”, ou “exigente e distante”, ou “irritável e exasperado”?

Pastores são Tanto Líderes como Ovelhas

O pastor também é uma ovelha. Diferente dos pastores de rebanhos, o pastor de igreja não é de uma espécie diferente das ovelhas. Ele é uma delas. Embora o pastor tenha autoridade sobre o rebanho (1 Ts 5.12), essa não é a sua única relação com ele. Pedro escreve: “pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês” (1 Pe 5.2). Este rebanho não está apenas “sob seu cuidado”, mas “entre vocês”; o pastor está tanto sobre eles, enquanto autoridade, quanto com eles.

Como o pastor é uma ovelha, ele também continua a crescer em sua vida espiritual. Paulo, então, diz a Timóteo, “Não seja negligente para com o dom que você recebeu, o qual lhe foi dado mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medite estas coisas e dedique-se a elas, para que o seu progresso seja visto por todos” (1 Tm 4.14-15).

Timóteo ainda precisava progredir. O próprio Paulo diz, “Não que eu já tenha recebido isso ou já tenha obtido a perfeição, mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3.12). Sua santificação ainda não estava completa, então ele continuou “prosseguindo”. Todos os verdadeiros discípulos sabem o quanto ainda precisam progredir—inclusive os pastores. Esse desenvolvimento contínuo do pastor deve ser transparente para a igreja. Eles precisam ver que o pastor também está em constante evolução e não é uma obra acabada. Ele está aprendendo e se desenvolvendo, tanto em sua vida pessoal quanto em sua formação doutrinária.

Isso significa que o pastor precisa demonstrar arrependimento constante. Um pastor que conheço certa vez confessou em um sermão o quão irritado ele estava enquanto dirigia para a igreja naquela manhã—ele se sentiu admoestado pelo texto que estava pregando. Outro pastor—que era solteiro naquela época—confessou que, quando seu amigo teve relações sexuais antes do casamento, ele ficou com o coração partido pelo amigo, mas também sentiu um pouco de ciúmes. Em cada caso, as confissões foram apropriadas, considerando o contexto da pregação e a forma como foram expressas.

Pode haver momentos em que os pastores precisam pedir desculpas à igreja. É algo que pode ferir o ego, mas isso reafirma à igreja que seu pastor é um cristão autêntico e que ele, assim como os fiéis, está se empenhando em eliminar o pecado e progredir na santidade. Isso também facilita que outros expressem suas próprias confissões e demonstrem arrependimento.

Pedro aponta para isso como um antídoto para um ministério dominador: “Não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho” (1 Pe 5.3). Não é a força de sua personalidade que deve atrair o rebanho ao pastor, mas a autenticidade de seu exemplo. Isso será uma força motivadora mais poderosa na igreja. O melhor pastor demonstra que tipo de ovelha ele próprio é.

A tarefa de apascentar o rebanho de Deus seria demasiadamente pesada para nós, se não fosse pelo fato de que Deus interveio como o Bom Pastor; nisso deve se fundamentar tudo o que pensamos sobre o ministério pastoral.

Tradução: Claudio Lopes Chagas

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