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Pregar sequencialmente sobre os livros da Bíblia é minha paixão. Adoro passar meses dedicados a um livro, como fiz recentemente com Hebreus ao longo de 44 sermões. Estou convencido e vejo evidências persistentes de que a melhor forma para que os cristãos aprendam a Palavra de Deus, é através do estudo sistemático e regular de seus livros. Somente uma exposição cuidadosa, examinando linha a linha, preceito a preceito e verdade a verdade, dará àqueles sob meu cuidado, uma compreensão estratégica da verdade bíblica, ao longo dos anos.

Visto que a Bíblia tem 66 livros e dois testamentos, mas eu só tenho uma vida para pregá-la, posso trocar as lentes de um livro para outro, de modo que esteja examinando seus tesouros de forma mais ou menos próxima. Embora eu tenha que decidir se levarei meses ou semanas em determinado livro, meu método padrão de pregação e ensino é a exposição sistemática.

Mas eu sou um pastor que prega e não um pregador que pastoreia. Em outras palavras, não sou apenas um professor da Bíblia fazendo a exegese do texto, mas um pastor vivendo minha vida junto com as pessoas às quais sirvo e aplicando os textos dos quais eu faço exegese. De vez em quando, ocorre um evento de vida que requer ou até mesmo exige, que eu deixe de lado minha agenda, que me desvie de meu plano por um tempo, para pregar sobre uma necessidade específica, que está ocupando as mentes e perturbando os corações de meu povo.

Ignorar isto seria uma negligência espiritual.

Um médico pode estar mantendo um paciente com uma dieta saudável e um regime farmacêutico específico para um problema de coração, mas se de repente, uma pedra se alojar no rim do paciente, o médico deve trata-la. Os pastores, também, devem manter seus olhos naquilo que é agudo, assim como naquilo que é crônico.

Aproveitando o Momento

Imagine que um pastor esteja pregando sobre o livro de Romanos, e está preparando uma mensagem para o domingo seguinte com base em Romanos 13:1-7, sobre sujeição às autoridades governamentais. Na noite de sexta-feira, em um campeonato de futebol promovido pela igreja, um de seus membros entra no carro para deixar o jogo mais cedo e não vê a criancinha que fugiu de seus pais, e tragicamente atropela e mata a garotinha.

Não consigo imaginar um desgosto maior em uma família da igreja ou alguém que precise mais de uma atenção habilidosa e amorosa. Se este pastor seguir obstinadamente sua agenda e pregar sobre a responsabilidade do cristão para com o governo, ele deixará de atender à necessidade aguda de seu povo de ouvir verdades bíblicas e saber que Deus realmente está no controle. Ele deixará de aproveitar esta oportunidade única de ensino, nascida do desespero e da dor. Prosseguir com o plano de pregação dificilmente pode ser considerado mais virtuoso do que aproveitar tal momento para glorificar a Cristo, no sofrimento.

Muitas vezes, ao pregar uma série sobre um livro, ocorreu algum evento enorme em nossa comunidade ou nação e descobri que, incrivelmente, o próprio texto que eu estava planejando pregar se aplicava diretamente à situação. Frequentemente fico atordoado de que um Deus soberano planejasse meu cronograma de pregação para estar em confluência com incidentes e experiências particulares. Tais momentos encorajam o coração do pastor, pois testemunham não só a providência do Senhor, mas também Sua liderança sobre o pastor.

Em outras ocasiões, no entanto, há uma necessidade de abordar algo a respeito da nossa vida corporativa ou nacional que não tem relacionamento real com o texto que planejei. Não desejo nem distorcer o significado do texto, nem ignorar o evento de vida que está na mente de todos. Se o que eu havia planejado não aborda as questões que dilaceram a mente de todos, me desvio de meu cronograma e escolho um texto que forneça uma perspectiva bíblica sobre o que as pessoas necessitam ouvir.

O Domingo Após o 11 de Setembro

Nenhum domingo na minha vida ilustra melhor este ponto, do que 16 de Setembro de 2001, o domingo após as Torres Gêmeas terem sido destruídas. Os aviões já haviam começado a voar novamente. Os aeroportos ainda estavam vazios. Ninguém sabia se outro ataque era iminente ou como os Estados Unidos poderiam retaliar. Estávamos indo para a guerra? Como os cristãos deveriam pensar sobre os muçulmanos? Como deveríamos nos portar com relação à raiva que sentimos? Por quê Deus permitiria que isto acontecesse?

O que deve fazer um pastor fiel ? John MacArthur pregou “Uma Perspectiva Bíblica sobre a Morte, o Terrorismo e o Oriente Médio” a partir de Tiago 4. John Piper pregou “Um Culto de Tristeza, Auto-humilhação e Constante Esperança em Nosso Salvador e Rei, Jesus Cristo” a partir de Romanos 8.35-39. Tim Keller, pregando na cidade onde ocorreram os ataques e para muitos que perderam amigos e entes queridos, pregou “Verdade, Lágrimas, Ira e Graça” a partir de João 11.

Estes homens são notáveis ​​expositores e, embora seus sermões pudessem certamente ser considerados exposições fiéis do texto, nenhum deles se manteve atrelado ao seu planejamento original. Visto que são todos pastores em primeiro lugar, abandonaram seus planos, a fim de pastorearem o coração de seu povo que estava machucado, com raiva, assustado e buscando a sabedoria divina.

Pastoreando sob a Sombra

Minha metodologia não é meu objetivo, mas a ferramenta com a qual cumpro meus objetivos. Minha grande ambição é ver seu povo ser conformado à imagem de Cristo, através da Sua Palavra enraizada em suas vidas. E às vezes, quando os eventos locais, nacionais ou mundiais despedaçam nossos corações e cativam nossas consciências, quando se apoderam de nossas mentes ou roubam nossa paz, quando ameaçam nos dividir ou nos fazer desviar do caminho, a coisa mais fiel que posso fazer, é pregar uma Palavra apropriada a partir de “outro” texto.

As pessoas que semanalmente ouvem minhas pregações estão acostumadas com o sistema que uso. Se eu me afastar dele por um domingo, este próprio desvio os conforta e os informa. Eles se dão conta de que seu pastor está vivendo no mesmo mundo que eles. Destaco a suficiência da Palavra não só pelo estudo sistemático, mas também demonstrando sua capacidade de ser relevante em qualquer situação. Não apenas ensino a eles o conteúdo da Palavra, mas também o conforto da Palavra.

Estou comprometido com a exposição sempre que estou no púlpito. Não tenho nada para oferecer a meus ouvintes além da Palavra de Deus. Isto é inviolável. Mas mesmo que a melhor forma de ensinar a Palavra seja fazê-lo sistemática e sequencialmente, a vida nem sempre acontece de forma sistemática e sequencial. O pastor fiel sabe quando sair da rotina quando uma grande sombra estiver cobrindo seu rebanho e sabe aonde levá-los, para encontrar a iluminação e a ajuda de que necessitam.

Traduzido por Bruno Nunes

 

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