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Será que Comprar Coisas é a Melhor Maneira de Ajudar os Pobres?

 

Nota do editor: A nova coluna “Thorns & Thistles” [Cardos e Abrolhos] da Coalizão pelo Evangelho busca aplicar a sabedoria, com conselhos práticos sobre a fé, o trabalho e a economia.

De acordo com o que já ouvi, melhorar o PIB de um país é mais importante do que qualquer forma de ajuda. Isto significaria que, a fim de obedecer ao mandamento de Jesus de amar os pobres, eu deveria comprar produtos e serviços — principalmente aqueles produzidos pelos menos favorecidos? Digamos, por exemplo, que eu tenha 100 dólares e more no Oriente Médio. O que é mais útil: doar 100 dólares a uma instituição de caridade que ajude refugiados no meu país ou levar os100 dólares a um supermercado local e comprar as sobremesas que eles fazem e vendem lá?

Esta questão me atormenta. Parece contra-intuitivo que a melhor maneira de ajudar os pobres seja comprar coisas deles. Não é como qualquer um de nós intuitivamente interpretaria o mandamento de Jesus, mas, mas este se for o caso, levanta uma série de questões sobre o que realmente é a generosidade eficaz.

Entre 1990 e 2013, o número de pessoas em extrema pobreza caiu em quase 1,1 bilhão de pessoas, ainda que a população total mundial tenha se expandido em quase 1,9 bilhão de pessoas. Isso foi resultado da política de ajuda ou desenvolvimento dos governos e ONG’s ocidentais? Não. Sem dúvida, o fator mais importante para tirar mais de um bilhão de pessoas da pobreza foi o crescimento econômico sustentável — aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em países com pobreza substancial.

Se aumentar do PIB fez mais para diminuir a pobreza do que qualquer programa de caridade ou ajuda, como alguém pode alavancar as finanças pessoais para ajudar os pobres? Seria a compra de coisas para aumentar o PIB a maneira mais fiel de obedecer à ordem de Jesus para amar aos pobres? Como acontece com as coisas mais importantes, a resposta pode ser complexa.

Suponha que você tenha concluído que deveria gastar dinheiro para aumentar o PIB. há várias maneiras de fazer isto, mas nem todas são iguais. Considere as seguintes maneiras de gastar 1 dólar:

  1. Gaste 1 dólar em sorvete e coma você mesmo.
  2. Gaste 1 dólar em sorvete, depois encontre uma pessoa pobre que não pode comprar sorvete e dê a ela para comer.
  3. Dê 1 dólar a essa pessoa pobre e diga: “Gaste da maneira que quiser”.

Cada uma dessas opções provavelmente aumentará o PIB na mesma quantidade, mas, em termos de generosidade, nº 2 é melhor que nº 1 e nº 3 pode ser a melhor de todas. Na terceira opção, os pobres podem gastar o dólar em sorvete, ou em algo que é ainda mais útil para eles. De fato, eles podem investir no crescimento de seus negócios pessoais, em provisões para o futuro ou em coisas que levem a melhores resultados de saúde para si ou suas famílias. (Há muita pesquisa sobre a eficácia de “transferências incondicionais de dinheiro”.)

Gastar dinheiro com sorvete só aumentará o PIB de um país no curto prazo, mas a melhor maneira de ajudar os pobres é contribuir para o crescimento econômico no longo prazo. O crescimento econômico advém de amplas melhorias em tecnologia, inovação, eficiência e acesso a mercados. (Mesmo que você seja Jeff Bezos ou Bill Gates, provavelmente não há muito o que fazer aqui.)

Além disso, embora em geral a melhor maneira de tirar o máximo de pessoas da pobreza seja através do crescimento econômico, as pessoas podem permanecer na extrema pobreza, mesmo com o aumento do PIB. Nas últimas décadas, o crescimento econômico em muitos países aumentou a renda, mas também a desigualdade, criando novos problemas para estes países. Por exemplo, as pessoas a quem Madre Teresa ministrou não se beneficiariam do crescimento do PIB. A melhor maneira de ajudar estas pessoas é servi-las diretamente, quer isto ajude o PIB ou não.

Em outros casos, o crescimento econômico na realidade foi danoso às pessoas. Nos Estados Unidos, a globalização tem sido boa para o crescimento geral, mas também deslocou muitos trabalhadores que costumavam ter empregos na indústria. Tais pessoas necessitam adquirir novas habilidades para conseguir novos empregos; ajudá-los a se beneficiarem do crescimento econômico não requer investimento econômico, mas atenção individual.

Portanto, qual é a melhor maneira de alavancar suas finanças pessoais? Não complique isso demais. Encontre coisas que efetivamente melhorem a vida das pessoas sem lhes causar dano. A resposta será diferente em contextos diferentes, portanto, é útil focar novamente no indivíduo: Às vezes, a coisa mais fácil é dar dinheiro diretamente a pessoas responsáveis passando necessidades. Ou aumentando o potencial de renda de longo prazo de alguém, conectando-o a recursos, treinamento ou acesso a empregos. Ou identificar uma organização ao seu redor que faz um bom trabalho e fazer uma doação.

Não se preocupe necessariamente com o PIB. O modo como você doa não precisa contribuir para o crescimento econômico. Nem todo mundo pode contribuir dessa maneira, e tudo bem. Em vez disso, concentre-se em ser fiel no que recebeu. Ajude as pessoas que você conhece e necessitam de ajuda. Use os recursos que você já possui. E descanse sabendo que Deus tem mais recursos e ama os pobres, mais do que você jamais amará.

Traduzido por Abner Arrais

 

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