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Nota do editor: A nova coluna “Thorns & Thistles” [Espinhos e Abrolhos] da Coalizão pelo Evangelho busca aplicar a sabedoria, com conselhos práticos sobre a fé, o trabalho e a economia.

Tenho um amigo que diz que quer ficar rico para poder doar mais dinheiro. Seria o objetivo de riqueza um perigo ou uma armadilha? Devemos tentar ficar ricos em nossas profissões?

Como economista e membro do conselho de uma organização sem fins lucrativos, aprecio o tremendo bem que o dinheiro pode fazer. Muitos ministérios necessitam de muito mais dinheiro! Portanto, devem os cristãos desejar riquezas para fazer o bem, a fim de doar dinheiro aos outros? Ou seria isto uma armadilha?

O desejo final de um cristão é que o reino de Deus venha, não importa a forma. Desejamos que Deus habilite a cada pessoa de acordo com seus propósitos. Se Deus nos fizer “mãos ou olhos” no corpo, que assim seja. Paulo nos diz que a misericórdia é um dom espiritual, mas ele não diz: “Desejai sinceramente ter riqueza para exercer misericórdia”. Se os cristãos devessem desejar riqueza para fazer o bem, 1Co 12–14 teria sido um bom lugar para Paulo dizer isto.

Se você for talentoso e habilitado para um trabalho lucrativo, deseje ser fiel com a riqueza que possui. Mas saiba uma coisa — saber ganhar dinheiro não necessariamente o torna bom em doá-lo. É preciso um tremendo esforço para pesquisar onde doar quantias substanciais — o campo do “altruísmo efetivo” existe precisamente porque a filantropia é difícil de fazer.

Mesmo assim, muitos de nós desejam fazer parte dos que estão dando dinheiro. Este é um perigo tremendo De fato, há pelo menos duas razões teológicas para duvidarmos de nossas próprias motivações quando desejamos a riqueza para fazer o bem.

Custo de Oportunidade

Primeiro, quando Jesus se encontrou com o jovem rico, ele não disse: “Siga-me dando seu dinheiro”. Ele disse: “Primeiro doe seu dinheiro e depois me siga”. Sua conversa subsequente com os discípulos sugere que esta ordem é a regra, não a exceção.

Porque para quase todos nós, ganhar dinheiro para doá-lo não é o melhor que nós temos para oferecer aos outros. Jesus nos habilita para servirmos em seu reino, fazendo o bem diretamente por meio de nosso trabalho (não apenas indiretamente por meio de como o doamos) e diretamente por meio de como usamos nosso tempo (não apenas indiretamente por meio de como nosso tempo é remunerado).

Lembre-se de que sempre há um custo de oportunidade. Escolher entre dois empregos — um que paga mais que outro — quase sempre envolve trocar algo bom pelo dinheiro. Com raras exceções, servir a Deus ganhando mais significa fazer alguma coisa, em vez de fazer outras coisas boas que poderíamos fazer, trabalhando em outro emprego com menos tempo no trabalho, menos estresse, mais criatividade ou mais serviço direto aos outros.

A evidência bíblica e histórica é que Deus não desenvolve seu reino primariamente — ou mesmo com freqüência — através da filantropia. Ele tem essa maneira estranha de escolher os pobres e os insensatos. Ele tem essa maneira estranha de desperdiçar frascos de perfume na adoração, ao invés de alimentar os pobres. Ele tem essa maneira inesperada de ignorar as regras básicas da economia e dos recursos escassos e, em vez disso, escolhe virar o mundo de cabeça para baixo.

O Tesouro do Seu Coração

Segundo, Jesus nos diz que onde está nosso tesouro, ali também estará nosso coração. A ordem é importante. A menos que estejamos vigilantes em doar nossas riquezas antes que elas se acumulem, aprenderemos a acumular, e não a doar. Pode acontecer de aprendermos a amar ter riqueza antes de aprender a doá-la.

Mas quando doarmos nossas riquezas, nossos corações estarão com aqueles a quem estamos dando. Nosso amor será reordenado de desejar riqueza, a fim de fazer o bem para o desejar diretamente o bem daqueles que apoiamos financeiramente.

Eu sei. Eu tive um destes trabalhos lucrativos. Mas um grande mentor, Tom Sharp, me discípulou bem e me mostrou que ser fiel com o meu dinheiro significava doá-lo. Meu coração seguiu meu tesouro, e não demorou muito para eu me perguntar se a melhor maneira de servir a Deus era realmente permanecer em um trabalho lucrativo para o qual não era adequado, ainda que estivesse doando minha renda. E por ter seguido o conselho de Tom, pude ver melhor as várias maneiras pelas quais Deus havia me habilitado para servir seu reino.

As coisas seriam diferentes se nosso mundo não estivesse terrivelmente caído. Mas o dinheiro em nosso mundo é como o anel de Sauron em O Senhor dos Anéis. Quando lhe foi oferecido, Gandalf respondeu: “Não me tente! . . . O caminho do anel para o meu coração é de pena, pena das fraquezas e desejo por força para fazer o bem. Não me tente! Não ouso aceitar. . . o desejo de exercê-lo seria demasiado para minha força. ”

Os cristãos capacitados pelo Espírito Santo podem exercer poder sobre o dinheiro. Mas até que fiquemos perfeitos, qualquer desejo por riqueza — mesmo o desejo de fazer o bem com ela — pode exercer um poder demasiadamente grande e terrível para imaginarmos.

Traduzido por Luiz Santana.

 

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