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Consideramos estas verdades como auto-evidentes, de que todos os homens são criados iguais, são dotados de certos direitos inalienáveis pelo Criador, entre estes Vida, Liberdade e a busca da Felicidade. – Declaração da Independência

Estas são, provavelmente, as palavras mais famosas na história da humanidade. Escrita em 1776 e assinada pelos antepassados dos Estados Unidos, a Declaração da Independência é considerada pelos historiadores um ponto de virada, não somente na história americana, mas também na história da humanidade. Nunca antes um governo tinha estabelecido tais princípios e crenças.

A ideia de que os cidadãos possuíam direitos inalienáveis (vida, liberdade e a busca pela felicidade) era estranha. De acordo com nossos antepassados, estes eram direitos que o homem não havia dado e que ele não tinha o direito de tirar, porque nosso Criador havia nos agraciado com eles.

Infelizmente, os Estados Unidos falharam ao viver estas verdades. Por quase duzentos anos, depois desse documento ter sido assinado, a escravidão racial era legalizada nos Estados Unidos, e as mulheres eram tratadas com inferioridade. Essa parte da história sempre me intrigou quando era mais novo. Como pode, um país que adotou um documento que declarava a igualdade entre homens e mulheres, ainda assim, assinar leis que contradiziam completamente o que havia sido escrito?

A vida e as Escrituras, eventualmente, me ensinaram que algumas vezes nossa conduta contradiz nossa confissão.

Uma Vida Inconsistente

Anos atrás, quando me tornei um calvinista, acreditava, de forma errônea, que um melhor entendimento de Deus e das Escrituras iria aniquilar certos pecados na igreja. Eu pensava que os escândalos, os vícios e os graves pecados que eu testemunhava, vez após outra, na liderança, nos meus círculos não-calvinistas e nos da teologia da prosperidade, iriam acabar, agora que eu era um reformado. “Esses homens seriam diferentes.”

Com o tempo, o escândalo surgiu. Fiquei devastado. Chorei por horas, a primeira vez que isso aconteceu. E então, um por um, muitos outros homens que eu respeitava local e nacionalmente começaram a cair em pecados escandalosos, apesar deles terem uma teologia sólida. Algumas dessas falhas ganharam atenção nacional. Acredito que cada cristão entende, fundamentalmente, o problema destes homens. Todos sabemos como é quando nossa conduta contradiz nossa confissão.

Se eu tivesse sido mais introspectivo, não seriam necessários escândalos locais e nacionais para me mostrar que, algumas vezes, cristãos que amam a Jesus nem sempre vivem da forma como eles professam sua fé. Minha própria vida é um testemunho dessa realidade. Repetidamente as Escrituras mostram exemplos do povo de Deus cuja conduta era inconsistente com aquilo que eles acreditavam.

O exemplo mais memorável é a queda de Davi. A Bíblia o descreve como um homem segundo o coração de Deus (1 Samuel 13:14), embora ele tenha cometido adultério e depois assassinado o marido da mulher.

Talvez um exemplo menos escandaloso seja a conduta de Pedro, em Gálatas 2:12–21. Pedro conheceu Jesus Cristo quando Ele esteve na terra, e fazia parte do círculo íntimo de Cristo. Ele foi apóstolo e autor das Escrituras. Mas Paulo teve de lhe resistir face-a-face. Por quê? Porque ele se tornou repreensível. Embora ele soubesse que a justificação vem através da fé em Cristo, separado da lei, seu comportamento contradizia completamente o que ele sabia ser a verdade. Paulo claramente diz que sua conduta “não procedia corretamente segundo a verdade do evangelho” (Gálatas 2:14). Ninguém nega que Pedro, autor de duas epístolas, tinha um entendimento rico do evangelho. Ainda assim, até mesmo Pedro andou em desacordo com o que ele sabia ser a verdade.

Simplesmente Saber Não é o Bastante

Quer nossos pecados sejam públicos ou privados, escandalosos ou “respeitáveis”, cristãos são pessoas corrompidas que possuem desejos conflitantes com o que sabem ser a verdade. Esse é o motivo de homens e mulheres, que sabem que Jesus é melhor do que pornografia e fornicação, ainda assim escolherem a imoralidade sexual. Esse é o motivo de homens e mulheres, que sabem que o casamento deve ser “digno de honra entre todos”, o desonrarem ao cometer adultério (Hebreus 13:4). Esse é o motivo de pastores, que sabem que “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda”, se recusarem a andar em humildade (Provérbios 16:18). Esse é o motivo de cristãos cantarem “Jesus é o Senhor”, e em seguida proclamarem com suas vidas, “Eu sou Senhor”.

Muito frequentemente tentamos crescer em maturidade, aumentando nosso conhecimento. E isso pode até impressionar os outros, mas geralmente diz pouco sobre o que realmente está se passando em nossos corações. Quando buscamos somente o rigor da doutrina para demonstrar maturidade, estamos fazendo algo que pode ser mais demoníaco do que angelical (Tiago 2:19). Uma grande mente teológica se torna demoníaca quando nossos hábitos de vida contradizem o que a mente confessa. O conhecimento, por si só, embora extremamente importante, é evidência insuficiente para mostrar se estamos andando ou não em maturidade. Não é suficiente somente conhecer coisas sobre Deus, precisamos conhecer a Deus.

Conhecendo a Deus

Quando penso em nossos antepassados e nos anos de injustiça que se seguiram à assinatura daquele documento incrível, não fico mais intrigado pela gritante hipocrisia norte-americana. Assim como nossos antepassados reconheceram que fomos agraciados com direitos inalienáveis, devemos também reconhecer que nosso antepassado Adão nos infectou com o pecado. Portanto, o conhecimento, somente, não é suficiente para mudar o coração endurecido dos seres humanos. Precisamos conhecer a Deus para que sejamos verdadeiramente transformados.

Ao lutamos contra o pecado e contra nossos desejos maus, devemos buscar as Escrituras, não como um meio para conhecer teologia somente, mas como um meio para conhecer a Deus, e ser conhecido ou sondado por Ele e Sua Palavra. Se queremos conhecer uma pessoa famosa e ser conhecidos por ela, somente ler sua autobiografia é insuficiente. Isso não traz intimidade porque é unilateral. A Bíblia não é uma autobiografia. É um convite à intimidade com o Criador, o qual se revela a nós através dela e nos convida à interagir com Ele através da oração.

Sua Sã Teologia é Saudável?

Respondendo a pergunta “Por que PhD’s em teologia cometem adultério?” John Piper diz:

Eles não conhecem a Deus. Eles não conhecem a Deus pelo que Ele é: Infinitamente valoroso, infinitamente belo, infinitamente suficiente, nem sabem para que sua alma foi criada. Existem mais prazeres em Sua mão direita, mais alegria eterna em Sua presença, do que se poderia ter em dez mil encontros sexuais.

Se você souber disso, o pecado perderá o domínio sobre sua vida.

Quando entendemos que “nossa liberdade vem através de uma pessoa, e não de um sistema de ideias e princípios” (Vícios: Um Banquete no Túmulo – Encontrando Esperança no Poder do Evangelho, Nutra Publicações, 2009) a forma como nos aproximamos de nossas falhas, culpa e vícios é radicalmente diferente. Paramos de tentar mudar a nós mesmos através do legalismo ou da força de vontade e, ao invés disso, voltamos para a pessoa e a obra de Jesus Cristo.

A única forma de verdadeiramente conhecer a Jesus Cristo é através das Sagradas Escrituras, pela iluminação do Espírito Santo. O Espírito nos ajuda a ver claramente a bondade de Deus e as alegrias e prazeres que estão disponíveis à nós. Todas as nossas tentativas de amar, usufruir e apreciar a Deus como um bem supremo irão falhar miseravelmente, se o Espírito não nos der olhos para ver. Nós expressamos nossa teologia ao articularmos o que o Espírito Santo está nos ensinando através da Bíblia. É por isso, também, que nossa “sã” teologia dever ser saudável, ou seja, cheia do Espírito, humilde e consistente.

A doutrina e a teologia que estudamos devem moldar a forma como vivemos. Se estamos estudando para impressionar uns aos outros, com nossas ideias nobres e nossas belas palavras nas redes sociais, a teologia nunca irá nos mudar. Se pastores leem suas Bíblias somente para garantir seus empregos, mas não estão suplicando diante de Deus para serem transformados pelo que estão lendo, eles irão continuar em seus pecados.

Todos nós, ao lermos as Escrituras e estudarmos teologia, devemos suplicar a Deus para que Ele quebrante nossos corações e nos dê olhos para ver, para que Sua verdade mude radicalmente as nossas vidas. Nosso objetivo, ao estudarmos as Escrituras, deve ser sempre o de estar em profunda intimidade com o Pai. Ao pensarmos grande e mergulharmos nas grandiosas verdades sobre quem Cristo é e o que Ele conquistou, não podemos nunca nos esquecer de que essas verdades existem para nossa liberdade e para a glória de Deus.

Publicado originalmente em DesiringGod.org.

Traduzido por Kellvyn Mendes.

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