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Francis Schaeffer afirma que “a salvação tem algo a dizer não somente ao homem individual, mas também à cultura”. O autor continua:

“O Cristianismo é individual no sentido de que cada homem deve ser convertido, nascido novamente, um de cada vez. Mas não é individualista. A distinção é importante. Como Deus fez o homem, ele também fez uma Eva de forma que poderia haver relações horizontais finitas entre duas pessoas. E estas relações humanas são importantes a Deus, pois “o poder de Deus para salvação” também tem a intenção de proporcionar uma resposta às necessidades sociológicas do homem, a interação entre duas pessoas e entre todas as pessoas. Deus está interessado no homem por inteiro e também na cultura que flui da relação entre as pessoas.” [1]

Desse modo, o evangelho, poder de Deus para salvação, dá nova vida ao indivíduo que crê, ao mesmo tempo que restaura o relacionamento do que crê com seu próximo. Através do evangelho, Deus restaura o ser humano para sua integralidade, a fim de que possa viver a plenitude da individualidade e da sociabilidade para a qual foi criado.

O evangelho nos remete ao próprio ser de Deus, que sendo um em substância, é três em pessoas. Deus é individual: O Pai não é o Filho e não é o Espírito Santo; o Espírito Santo não é o Pai e não é o Filho; o Filho não é o Espírito Santo e não é o Pai. Os três são um Deus, que é, ao mesmo tempo, indivíduo e sociedade, e por isso, entre si, cada uma das Pessoas não menospreza a individualidade da outra dentro da Trindade. Muito pelo contrário, cada uma ama e louva as outras. E, ao mesmo tempo que exalta a individualidade uma da outra, não deixa de viver a harmonia social que lhe é intrínseca.

Na criação, quando Deus afirma que “não é bom que fique só o homem”, certamente Ele está falando de arranjar uma auxiliadora para Adão que lhe fosse idônea, ou seja, que lhe fosse adequada, para que pudessem casar e tornar-se uma só carne, refletindo em nível humano a união indissolúvel que há entre as pessoas da Trindade. Entretanto, havia algo mais permanente e mais profundo em vista do que o casamento em si. No momento que Eva é criada, Adão, tal qual seu Criador, torna-se um ser social com o seu semelhante. Pode-se dizer que, ao ser humano, que já possuía individualidade, tal qual cada Pessoa da Trindade, foi concedida naquele instante a característica divina de um ser social.

Por essa realidade, as dimensões individual e social foram comunicadas ao homem, e o evangelho as restaura. O Cristianismo, portanto, religião monoteísta que afirma ser Deus um em substância e três Pessoas, não pode ser individualista e nem socialista, posto que o individualismo sonega o aspecto social e cultural do ser humano ao ignorar o próximo; e o socialismo, por sua vez, anula a individualidade desse mesmo próximo. São dois extremos que negam a integralidade do ser humano tal como foi criado. A fé cristã, contudo, a partir da imago Dei, traz o equilíbrio perfeito entre a individualidade e o amor ao próximo.

Assim, seja como estilo de vida, filosofia ou ideologia política, tanto o individualismo quanto o socialismo são contrários à natureza humana e configuram-se em afrontas ao Deus Trino, sendo, portanto, pecaminosos.



[1] Schaeffer, Francis A. Morte na Cidade – A mensagem à cultura e à igreja que deram as costas a Deus. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2003, p. 64.

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