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De tempos em tempos, as igrejas cristãs experimentam alterações em suas lideranças pastorais. A história do movimento cristão demonstra que isso é bem mais natural do que imaginamos. Muitas dessas alterações se dão pelo declínio da saúde do pastor, pelo período em que o ministro foi eleito para servir em uma igreja ou mesmo pelo convite para um novo desafio ministerial feito por outra igreja. Essas mudanças provocam ações que visam convidar um novo obreiro para dar continuidade ao trabalho pastoral.

Durante quase trinta anos, tenho servido como pastor. Nesse período, não foram poucas as vezes que líderes de várias igrejas buscaram algum tipo de orientação sobre como proceder na elaboração de perfis pastorais com vistas ao início de um processo de sucessão. Algumas vezes, o perfil já estava pronto e o que se buscava era uma checagem dos pontos listados. Muitos desses irmãos estavam, de fato, preocupados em estabelecer um processo transparente e sério, na dependência do Senhor, para escolher quem lideraria parte do povo de Deus que se reunia em um determinado lugar.

Entretanto, durante todos esses anos, também tenho visto coisas bem inusitadas, algumas das quais exigiram confrontos respeitosos, mas necessários, pois algumas percepções estavam equivocadas quanto ao processo e ao perfil daquele que deveria ser convidado. Entre essas coisas inusitadas, deparei-me, por exemplo, com exigências do tipo: precisar ser casado, tendo, no máximo, dois filhos não poder ter mais de cinquenta anoster uma esposa que liderasse o grupo de mulheres da igreja ou que fosse hábil na música; pregar um sermão de, no máximo, vinte minutos . E por aí vai.

Fato é que, sem se aperceberem, muitos dos irmãos que empreendem esforços para convidar um pastor às suas igrejas desprezam as listas de qualificações dadas pelo próprio Deus, em duas das três cartas pastorais do apóstolo Paulo. Esse desprezo, percebi muitas vezes, não é por mal, mas por ignorarem que Deus também se preocupa com isso, além de constatar que lhes faltaram pastores que os ensinassem sobre isso.

Nas listas oferecidas pelo apóstolo, encontramos aquilo que Deus estabelece como qualificações de um pastor. Por ser algo que o próprio Deus deseja encontrar, também, por razões óbvias, deve ser o desejo da igreja e de sua liderança encontrarem. Mas nem sempre tem sido assim. Talvez por isso, tantas listas inusitadas.

O que, então, as Escrituras ensinam sobre o perfil do pastor? Quais as qualificações que devem acompanhar aqueles que se põem a pastorear o rebanho de Deus? Essas são perguntas importantes e que devemos considerar. Fique claro, contudo, que não pretendo aqui expor tais qualificações, apenas mostrá-las. Para ajudar aqueles que desejarem compreender melhor tais características, recomendo a leitura do clássico O Pastor Aprovado, de Richard Baxter, publicado pela PES, ou do Comentário do Novo Testamento: 1 e 2 Timóteo e Tito , de William Hendriksen, publicado pela Cultura Cristã.

Passando às listas, chegamos à primeira delas, apresentada em1 Timóteo 3.1–7. Ali, lemos:

Fiel é a palavra: se alguém deseja o episcopado, excelente obra almeja. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, moderado, sensato, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, nem violento, porém cordial, inimigo de conflitos, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito. Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus? Que o bispo não seja recém-convertido, para não acontecer que fique cheio de orgulho e incorra na condenação do diabo. É necessário, também, que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair na desonra e no laço do diabo.

Em Tito 1.7–9, encontramos a segunda lista:

Porque é indispensável que o bispo, por ser encarregado das coisas de Deus, seja irrepreensível, não arrogante, alguém que não se irrita facilmente, não apegado ao vinho, não violento, nem ganancioso. Pelo contrário, o bispo deve ser hospitaleiro, amigo do bem, sensato, justo, piedoso, deve ter domínio de si, ser apegado à palavra fiel, que está de acordo com a doutrina, para que possa exortar pelo reto ensino e convencer os que contradizem este ensino.

Quando leio essas listas, tremo. Pela seriedade com que as Escrituras e, portanto, o próprio Deus tratam o ministério pastoral, há muitas exigências a um pastor. Por isso, uma comissão de sucessão pastoral, cuja função é representativa, não deve incorrer no erro de desprezar o que Deus revelou, colocando em seu lugar, ideias meramente humanas; ou ainda, acrescentar algo àquilo que o próprio Deus revelou, como se fôssemos mais espertos e mais inteligentes do que o próprio Deus.

As listas acima oferecem, de fato e de verdade, as qualificações necessárias e suficientes àqueles que se põem a cuidar do rebanho do Senhor, designados em ambas as passagens como bispos, isto é, supervisores. Conquanto haja distinção de compreensão acerca das estruturas eclesiásticas a partir do Novo Testamento, tomo o termo na perspectiva de Atos 20, quando foi dito aos presbíteros que cuidassem todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus (v. 28), ou seja, três designações— presbíterobispo e pastor — para o mesmo ministro.

Nas palavras do experiente pastor Brian Croft, “a Palavra de Deus é suficiente para delinear o chamado divino de um pastor e instruir a respeito de como ele deve estabelecer prioridades em sua agenda” [1] . Se ela é suficiente, então ela basta. Se ela basta, cabe-nos — pastores, líderes e membros das igrejas de Cristo — nos submetermos a ela, rogando a Deus que nos dê pastores fiéis, aptos para ensinar e capazes de guiar, com a ajuda do Supremo Pastor e de seu Espírito, o santo rebanho de Deus.

Que Deus nos conceda sabedoria e discernimento.

[1] CROFT, Brian. O ministério do pastor: prioridades bíblicas para pastores fiéis . São José dos Campos, SP: Fiel, 2020. p. 21.

Fonte: https://profpaulovalle.medium.com/o-perfil-do-pastor-sucessor-cf2ba4804c9a

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