×
Procurar

Está disponível o vídeo em que Ed René Kivitz, pastor Batista em São Paulo, faz uma série de afirmações que contrariam o grande lastro histórico da fé cristã. Nele, encontramos declarações do tipo “[…] o mundo mudou […] não é possível tratar a Bíblia como verdades absolutas, porque nós não somos os seguidores de um livro […]”. Em outro momento, propõe ser a igreja uma “carta para o novo mundo” e que não devemos nos fixar em “três textos que não foram atualizados”.

O problema de Kivitz está em sua hermenêutica e esse é o ponto a ser destacado. Levando-se em conta tantas outras declarações polêmicas ao longo dos últimos anos, percebe-se seu liberalismo teológico que, em seu fundamento, não crê que a Bíblia seja a palavra de Deus revelada aos homens, mas o resultado das percepções teológicas de um tempo que ficou para trás e, por isso, deve ser atualizada.

Kivitz opta pela tendência dos últimos trinta ou quarenta anos oferecida pelas hermenêuticas das minorias (precisamos falar no plural) marginalizadas, tais como: carcerária, feminista, homossexual, negra, pobre. É claro que o problema não se encontra no dever de defender a dignidade humana, ainda que alguns julguem que àqueles que se opõem aos pressupostos das minorias, no caso dos cristãos conservadores, por exemplo, devam ser reputados como preconceituosos, com todos os adjetivos que as causas das minorias estabelecem.

Então, qual seria o problema? As hermenêuticas das minorias pressupõem que a causa do problema é, exclusivamente, de caráter social, e não individual. Sendo assim, a sociedade deveria, se necessário com a ajuda do Estado, mudar em relação às minorias. Nesse caso, em uma perspectiva cristã histórica, não deveria ser o homossexual a mudar, arrependendo-se de sua condição diante de Deus, mas a sociedade. Quanto ao negro, que obviamente não é uma condição de pecado, deve-se pagar uma dívida histórica pelo tempo de sofrimento e escravidão.

Nessa linha de raciocínio, a igreja deveria se dedicar ao papel de combater o pecado social. O problema não seria o indivíduo e suas escolhas, mas a resistência social em aceitar os pressupostos das minorias. Na essência do discurso, Cristo não seria o redentor de pecadores arrependidos e muito menos o Evangelho encarnado, mas um exemplo de postura social a ser seguida em relação às minorias pelos componentes da sociedade.

Sob as hermenêuticas das minorias, Kivitz propõe um releitura das Escrituras à luz de uma atualização de seu ensino às realidades atuais. É compreensível, mas não aceitável, o seu caminho, pois, não podendo desconstruir as bases da leitura literal da Bíblia, fundamento da Teologia Bíblica, apela à persuasão ad scripturam, isto é, se não é possível derrubar os argumentos das Escrituras, ataque-as, mesmo que sutilmente. E isso é o que ele faz.

Conhecer as Escrituras e os pressupostos das minorias logo nos levará à condição de uma necessária escolha entre uma e outra. Se optarmos pelo evangelho, não precisaremos do discursos ideológicos das minorias, mas se optarmos pelas ideologias das minorias, teremos abandonado o evangelho. O evangelho une, pois todos os homens estão na mesma condição diante de Deus e, em Cristo, retornam à essência do que é ser humano. Já as hermenêuticas das minorias separam.

Aqui está a ironia: as hermenêuticas das minorias, que visam acabar com as segregações, segregam. Tratam-se de hermenêuticas preconceituosas, que fragmentam a sociedade em grupos ideológicos, mesmo dentro da igreja, dividindo a sociedade. O evangelho lida com isso de uma maneira diferente e apropriada, pois em sua cosmovisão, “nele não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher” (Gl 3.28). Não precisamos de uma releitura para atualizar as Escrituras. Precisamos crer. Precisamos conhecer os fundamentos da fé.

NOTA FINAL

Não tenho me esquivado de emitir minha opinião sobre algumas poucas coisas que vêm me preocupando nos arraiais da fé cristã. Como um cristão, tenho buscado estar submetido às Escrituras e oferecer um parecer sobre um tema. Por isso, se você, leitor, não está disposto ao diálogo, mas, ao contrário, à ofensa, resista à tentação, se lhe for possível, de me ofender. Apresentei argumentos. Use argumentos. Nos comportemos como seres que pensam. No caso de erro, aponte-o para que eu o considere.

Fonte: pr.paulovalle
Imagem: Divulgação / YouTube

CARREGAR MAIS
Loading