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Quando eu era estudante universitário na Romênia, trabalhei numa igreja, numa vila agrícola perto da fronteira húngara. Um dos líderes era um homem mais velho que morava ao lado da igreja com sua esposa, e que guardava as chaves do prédio da igreja de um cômodo. Ele liderava reuniões de oração, dava a entoação para os cânticos durante o culto e mantinha acesa a lareira no centro do santuário. Todos nós o chamávamos de Vô, porque ele tratava, os jovens como se fôssemos seus filhos espirituais. Ele tinha o tipo de relacionamento com Deus que, quando falávamos com ele, nos sentíamos como se tivessemos acabado de estar com alguém que acabara de estar com Jesus.

Um dia, conversamos sobre medos do futuro, e considerando o fato de que ele era idoso, minha expectativa era que ele mencionasse o medo de perder seus entes queridos, ou o medo de uma doença terminal. Em vez disso, ele olhou diretamente para mim e, com uma expressão de dor marcada por olhos lacrimejantes, ele disse: O que mais temo é fazer algo que envergonhe meu Senhor e traga vergonha ao seu povo.

Esta resposta me incomodou na época. Certamente esse medo era equivocado – talvez um resquício de legalismo. Por que temer o pecado quando estamos sob a graça?

Eu achei também que esse medo era irracional. Aqui estava um homem na casa dos 70 anos, cuja caminhada com o Senhor era evidente a todos. Eu não podia imaginá-lo caindo em um pecado suficientemente grave para trazer vergonha à igreja, que ele amava tão carinhosamente. Sua resposta me incomodou tanto porque parecia ser tão infundada.

Agora, quase 20 anos mais tarde, sua resposta não me incomoda mais. Na verdade, quanto mais envelheço, mais esse temor faz sentido para mim. Não é infundado. Nem é falta de fé. É uma imunização contra o orgulho espiritual e a presunção.

Verdade seja dita, aquele homem de Deus se conhecia melhor do que eu o conhecia. Ele sabia que aqui na Terra, nunca nos livramos das lutas contra o pecado. Nunca alcançamos uma plenitude espiritual onde estamos totalmente imunes aos traços da antiga rebelião. Ele conhecia histórias de homens e mulheres que haviam tropeçado no pecado depois de uma vida de fidelidade – fracassos que lançavam uma escuridão sobre muitos anos de produtividade, contaminando até mesmo os bons anos de ministério fiel.

As escrituras nos dāo exemplos múltiplos de homens que tiveram mal desfechos. O adultério de Davi deixou sua família em completa desordem. O apetite de Salomão desviou seu coração para os ídolos. Asa foi vítima de um espírito de orgulho que o impediu de confiar no Senhor quando ficou enfermo. O orgulho de Ezequias deixou o reino vulnerável. O momento de infidelidade de Moisés manteve-o longe da Terra Prometida.

Nos últimos meses, vimos vários líderes cristãos reconhecendo sua cumplicidade em comportamentos imorais ou antiéticos. Em cada um destes casos, os padrões pecaminosos do presente causaram uma reavaliação da produtividade do ministério no passado. Uma tragédia, não é mesmo? Talvez o maligno não esteja interessado em marginalizar os líderes mais experientes porque deseja impedi-los de um ministério futuro; em vez disso, ele quer manchar suas reputações para que todos os frutos do passado também fiquem degradados.

Para ser claro, o pecado não apaga os bons frutos das pessoas no passado. Os salmos que Davi escreveu quando ele era realmente um homem segundo o coração de Deus, ainda ministram a nós hoje em dia. Podemos louvar a Deus pela maneira como alguém nos abençoou, e podemos nos entristecer profundamente pelas maneiras como a mesma pessoa nos desapontou.

Ainda assim, o pecado afeta nossa visão do passado. É por isso que agora tenho uma idéia melhor do que meu “avô” romeno sentia quando compartilhou seu medo de cair em seus anos derradeiros. Ele era sábio; não era presunçoso. Ele não se via como um membro de uma classe santa de cristãos (a maneira como eu o via na época). Ele se via como um seguidor de Jesus que permanecia vulnerável a pecados e tentações. Ele sabia que os pecados em seu futuro poderiam minar a credibilidade de seu testemunho cristão do passado. É por isso que, ao se aproximar do vale da sombra da morte, ele orava fervorosamente para escapar da escuridão do pecado, que traria má reputação ao povo de Deus.

Irmãos e irmãs, desperdiçaremos o sentimento de profundo pesar que sentimos, quando revelações recentes nos levarem a julgar ao invés de ao arrependimento. Revelações públicas de pecados privados dão a todos nós a oportunidade para o arrependimento e a renovação.

Tal como escreveu Eric Geiger, o apóstolo Paulo exortou a Timóteo a “ter cuidado” tanto de “si mesmo” quanto da “doutrina”. Tanto tropeçar em pecados pessoais ou cair em falsas doutrinas – ambos são maneiras de terminar mal o caminho. “Continua nestes deveres”, escreveu Paulo, “porque fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes”.

Não devemos desperdiçar esses dolorosos momentos de pecado e tristeza. Não devemos presumir que estamos acima de uma queda. Em vez disso, devemos perseverar com uma energia santa em nossas vidas e doutrina, para que Jesus seja exaltado e seu povo edificado.

Traduzido por Tiago Hirayama.

 

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