×
Procurar

“Eu Queria Tanto Ter Uma Experiência Profunda Com o Poder de Deus!”

O mais interessante é que cada um de nós tem, não apenas uma vez, mas de maneira repetida, inúmeras experiências com o grande poder do Senhor.

Como?

Quando Deus é paciente conosco. Quando experimentamos da sua longanimidade, em razão dos nossos pecados.

O profeta Naum diz que o Senhor é “tardio em irar-se, mas grande em poder” (1.3a).

A paciência divina está intimamente relacionada com o atributo do poder divino. Quando Deus exerce a sua paciência em relação a algum pecador ou mesmo em relação a algum dos seus filhos, essa é uma grande demonstração do poder de Deus.

Mark Jones diz que Deus, “quando exerce paciência, demonstra mais de seu poder do que faria se criasse milhares de mundo. Como? Criar mundos mostra um poder sobre criaturas e matéria; exercer a paciência mostra poder sobre si mesmo”.[1]

O Senhor tem todo o poder e, ainda assim, é paciente, tardio em se irar. Anthony Carter faz uma comparação muito interessante, que nos ajuda a apreciar ainda mais a longanimidade, a paciência do nosso Deus: “Na maioria das vezes somos pacientes porque não temos qualquer escolha. Normalmente, como não podemos fazer nada em relação a uma determinada situação, optamos por ser pacientes. Se temos poder para mudar uma situação, muitas vezes não somos pacientes. Não é assim com Deus! Se algo não estiver como ele deseja, ele pode mudar a qualquer momento. Ele não precisa esperar. De maneira surpreendente, ele tem todo o poder, mas paciente e tardio em irar-se”.[2]

É claro que Deus se ira por causa do pecado! Mas, mesmo em sua ira, ele é paciente. É maravilhosa a declaração do salmista Asafe, no Salmo 78: “Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade e não destrói; antes, muitas vezes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação” (v. 38). Observem quando Asafe diz: “muitas vezes”. Literalmente, ele está dizendo: “repetidamente”, “frequentemente”. Penso que isso aqui nos descreve muito bem. Pelo menos a mim isso descreve com perfeição. Todos os dias, essa é a história da minha vida. “Todos os dias, vez após vez, Deus é misericordioso e paciente comigo. Por mais irado que eu fique e por mais impaciente que eu seja, Deus é continuamente paciente. Vez após vez, após vez, após vez, ele restringe a sua ira”.[3]

Quando Deus trata nos de modo paciente, ele está demonstrando o seu imenso poder, não despejando sobre nós todo o fulgor da sua ira, merecida por nós em razão da loucura do nosso pecado.

Dessa forma, se Deus está sendo paciente conosco, devemos saber que estamos, sim, provando do grande poder de Deus, porque, como Jonas, nós pecamos gravemente contra o Senhor e, ainda assim, ele se mostra extremamente paciente conosco. E isso é maravilhoso! Pecamos contra o Senhor, o nosso Pai celestial, e ele, em vez de responder ao nosso pecado com sua justa ira, exerce poder sobre si mesmo e se mostra paciente. O que precisamos ter cuidado em fazer, é não insistir no pecado, pois insistir no pecado é desprezar essa preciosa paciência e, no final, todo desprezo da paciência divina se reverterá em furiosa ira. Bendigamos a Deus por sua paciência para conosco, mas tenhamos cuidado. Não permaneçamos no pecado!

Isso deve nos fazer refletir sobre três coisas:

  1. Sobre a relação da paciência de Deus com a morte de Jesus.A paciência de Deus para conosco “vem do evangelho e da aliança da graça”.[4] Sem Jesus Cristo como nosso Mediador, Deus não teria motivos para ser paciente conosco. “Ele pode ser bom para suas criaturas sem o envolvimento de Cristo […] mas Deus não pode ser misericordioso ou paciente para com a humanidade pecadora sem a pessoa e a obra de seu Filho”.[5] É por causa de Jesus Cristo, no final das contas, que nós não somos destruídos.

    Eu gosto muito de uma colocação feita pelo puritano Stephen Charnock. De acordo com ele, em sua paciência, quando Deus pune, “ele faz isso com algum pesar. Quando ele lança seus trovões, parece fazer isso com a mão para trás, por causa do seu coração relutante”.[6] Charnock diz ainda: “Ele apenas belisca, sendo que poderia dilacerar; […] Ele levanta apenas algumas faíscas, pega apenas um tição para atirar sobre os homens, quando poderia descarregar toda a fornalha sobre eles”.[7] Existe equidade em tudo o que Deus faz, mas, devemos pensar: “No que merecemos, não há igualdade. Em outras palavras, todos recebem mais do que merecem enquanto estão na terra”.[8] E por que tudo isso? Por causa de Jesus Cristo. Deus é paciente conosco porque descarregou sobre Jesus, o nosso substituto a medida exata da punição que os nossos pecados merecem. Como devemos ser profundamente gratos a Deus, por sua paciência para conosco em seu Filho amado, o Senhor Jesus Cristo!

  2. Sobre a da enormidade das nossas provocações a ele.Precisamos entender a enormidade da provocação dos nossos pecados. “Nenhuma das criaturas, nem mesmo os anjos, poderia suportar por um só dia as iniquidades do mundo, ou mesmo somente as iniquidades do povo de Deus”.[9] Somente Deus pode suportar a enormidade dos nossos pecados, e ele faz isso exercendo o seu grande poder sobre si mesmo. “Deus tem um controle sobre si que não podemos compreender de tão grande que ele é”.[10] Tão grande é a nossa iniquidade, tão vil é a provocação dos nossos pecados, que Deus precisa exercer o seu poder sobre si para não nos destruir, não nos dilacerar e despedaçar. Bendito seja o Senhor por sua imensa misericórdia. Se enorme é a nossa provocação, maior, mais imensa é a paciência de Deus conosco. Que isto incite em nós o arrependimento dos pecados que cometemos, meus irmãos, especialmente aqueles pecados insistentes, costumeiros, pecados que insistimos em cometer.
  3. Sobre a nossa impaciência com as outras pessoas, aquelas pessoas que erram conosco, que volta e meia nos provocam, que pecam contra nós.Como disse o Dr. Heber Campos: “A paciência não é uma virtude opcional para o cristão. Ela é ordenada por Deus de modo que nenhum cristão deve fugir de praticá-la”.[11] Onde vemos isso na Sagrada Escritura? Colossenses 3.12, diz: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade”. Também em Efésios 4.1-2: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor”. Percebam, não temos licença para a impaciência. A longanimidade, a paciência é um mandamento divino para nós, visto que somos seus eleitos, seus filhos, pessoas que ele mesmo tratou de modo paciente. E a maneira como ele nos tratou nos dá a direção, a instrução, a diretriz de como devemos tratar as outras pessoas. Por esse motivo, lembre, traga à sua memória as muitas vezes em que Deus foi paciente com você: “Podemos recordar eventos em nossa vida quando Deus poderia nos ter lançado às trevas exteriores com justiça, mas não o fez. […] Quando consideramos as glórias da sábia e amorosa paciência divina para conosco em Cristo Jesus, então estamos mais bem preparados para sermos pacientes para com os outros buscando imitar a paciência de Deus e ver o fruto do Espírito em nossa vida”.[12]

    Stephen Charnock termina o seu discurso sobre a paciência de Deus nos advertindo: “É diferente de Deus aquele que se apressa com um ímpeto indisciplinado de punir os outros por ter sido prejudicado”.[13] Ele diz mais: “Quão distantes estão de Deus aqueles que ficam em chamas a cada leve provocação, de um sentimento de alguma honra débil e imaginária, que deve ensanguentar a sua espada por uma bagatela e escrever sua vingança em ferimentos e morte”.[14] Ser impaciente, diz ele, é “ser como os brutos, cães ou tigres, que rosnam, mordem e devoram em qualquer ocasião. Mas ser paciente é ser como Deus e mostrar que está familiarizado com o caráter de Deus”.[15] E ele termina dizendo: “Assim como a sua lentidão [de Deus] para a ira demonstra a grandeza do seu poder sobre si mesmo, a relutância em se vingar é um sinal de poder sobre nós mesmos, que é mais nobre do que ser reinar sobre outros”.[16]

Que o Senhor, pois, nos ajude!

 

[1] Mark Jones. Deus É: Um Guia Devocional dos Atributos de Deus. Brasília, DF: Monergismo, 2019. p. 171

[2] Anthony Carter. Running from Mercy: Jonah and the Surprising Story of God’s Unstoppable Grace. Nashville, TN: B&H Publishing Group, 2018. Posição 1382. Edição Kindle

[3] Ibid.

[4] Mark Jones. Deus É. p. 172

[5] Ibid.

[6] Stephen Charnock. “A Discourse upon God’s Patience”. In: Works. Vol. 2. Edinburgh, UK: The Banner of Truth Trust, 2010. p. 518.

[7] Ibid. p. 520. Ênfase acrescentada.

[8] Mark Jones. Deus É. p. 172

[9] Heber Carlos de Campos. O Ser de Deus e seus Atributos. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 272

[10] Ibid.

[11] Ibid. p. 274.

[12] Mark Jones. Deus É. p. 174

[13] Stephen Charnock. “A Discourse upon God’s Patience”. In: Works. Vol. 2. p. 544.

[14] Ibid.

[15] Ibid.

[16] Ibid.

CARREGAR MAIS
Loading