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A Maternidade Não é um Martírio

As narrativas contemporâneas acerca da maternidade podem ser desanimadoras. As redes sociais parecem sugerir que as mães não conseguem tomar banho, realizar um estudo sério da bíblia ou sair para uma corrida, que é normal e esperado que você se esconda dos seus filhos no armário. E já que estamos todas exaustas desempenhando nosso papel de mãe, podemos muito bem tomar uma taça de vinho às 3:00 da tarde.

Ao mesmo tempo, as mães influencers no Instagram parecem voltar a vestir a calça jeans que usavam antes da gravidez 30 segundos após o parto e gerenciar negócios bem-sucedidos com facilidade. A expectativa de fazer tudo e acertar em tudo pode ser esmagadora ao vermos um post após o outro com os últimos conselhos:

  • Você está separando um tempo para você? É muito importante não se perder.

  • Se você for uma mãe como a Mayan, seus filhos serão sempre prestativos e engenhosos.

  • Não elogie muito os seus filhos.

  • Elogie mais os seus filhos.

  • Certifique-se de que seu filho consiga entrar na melhor pré-escola.

  • Compre alimentos orgânicos ou seus filhos terão todo tipo de problema de saúde.

O New York Times publicou recentemente um artigo sobre estudos que apontaram que os pais modernos se sentem muito mais sobrecarregados física, mental e emocionalmente do que seus pais ou avós se sentiam. Uma entrevistada disse que optou por ter um filho, e não três filhos assim como sua mãe, para garantir que teria recursos suficientes para coisas como “atividades e mentorias”. Em janeiro de 2023, o Centers for Disease Control and Prevention [Centro de Prevenção e Controle de Doenças] publicou dados do novo censo que “demonstram uma queda brusca nas taxas de fertilidade nos últimos anos, com uma média de 1,3 bebês para a maioria das mulheres e um aumento na porcentagem de mulheres dando à luz com 35 anos ou mais”.

Nossas Narrativas Importam

Parece que mais e mais mulheres (assim como eu) estão se sentindo desencorajadas em relação à criação dos filhos. Eu desejo desesperadamente ter tudo bem resolvido e criar filhos bem ajustados que se tornarão adultos felizes, saudáveis e bem-sucedidos. Mas às vezes me sinto tão sobrecarregada que fico com vontade de me esconder na despensa com uma barra de chocolate (especialmente quando meus três filhos estão com dor do estômago na mesma noite; que o tapete da sala descanse em paz).

É claro que a maternidade é difícil e, em alguns casos, profundamente dolorosa. É correto, bom e sábio compartilhar aberta e honestamente nossas lutas com outras pessoas, principalmente junto ao corpo de Cristo. Seria tolice fingir que dominamos a arte de ser mãe ou que nossos filhos escaparam do pecado original.

No entanto, muitos dos nossos slogans enfatizam a dor da maternidade a ponto de deixar de fora a alegria. Ressaltamos como é difícil, pesado, frustrante e doloroso ser mãe. Se não tomarmos cuidado, podemos começar a soar como se estivéssemos igualando a maternidade ao martírio. No entanto, a bíblia trata a maternidade como uma dádiva, uma coroa, uma alegria.

Mães Precisam de uma História Melhor

Nosso sucesso ou sacrifício como mães não deveriam definir nossa narrativa. O que deveria cativar nossa mente e coração é uma história—que não se trata de nós, mas se trata de Cristo, nosso redentor.

Como cristã, necessito entender que não sou a heroína ou o centro da minha história. A parte mais triste da minha história não é que estou sobrecarregada, desvalorizada e coberta de sujeira. A parte mais triste da minha história é que eu estava morta em meus pecados. O ápice da minha história não é a maneira como eu superei desafios para que meu filho pudesse se formar com honras. O ápice da minha história é que meu Salvador foi obediente até a morte para resgatar um povo para si.

Ver Jesus como o herói da história tira o foco—e a pressão—do meu sucesso ou do meu sacrifício enquanto mãe. Ao invés de necessitar provar para mim mesma ou para qualquer outra pessoa que estou dando conta de tudo, posso ser cativada pelo que Cristo realizou e o que ele sacrificou. E posso seguir o seu exemplo, buscando, por meio da sua graça, viver uma vida santa e sacrificial. Quando Jesus está à minha frente, quando minha história é parte da história dele, a murmuração e a reclamação parecem menos inevitáveis.

E nisso há algo bonito—quando deixo de reclamar e procuro maneiras de dar graças em todas as circunstâncias, minha história como mãe deixa de ser uma lista infinita de frustrações como o leite derramado, gritos por todo lado, o cocô na minha blusa, ou meu marido chegando tarde do trabalho.

Pelo contrário, minha história soa mais como o hino “Tu és Fiel” à medida que vejo a bondade do Senhor no sorriso do meu bebê enquanto ele bate palmas, ou na doce vitória dos exercícios de criatividade com as crianças ainda que o papai tenha precisado ficar até mais tarde no trabalho para prover para nós. Quando sou compelida pela narrativa das escrituras a olhar para Cristo e obedecê-lo, a vida faz mais sentido—e as mesmas circunstâncias podem parecer mais aprazíveis.

Jesus nos Oferece Descanso

Concordo com o artigo do New York Times no sentido de que as pressões modernas e seculares na criação dos filhos tornam-na mais estressante do que era nas gerações anteriores. E não acho que seja coincidência que o declínio nos índices de natalidade venha acompanhado da diminuição do comparecimento nas igrejas.

Para a nossa geração sobrecarregada e ansiosa de mães, o Senhor diz ternamente “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

Eu sou uma péssima heroína e não fui criada para estar no comando. Preciso parar de focar em mim mesma e em minhas circunstâncias ao invés de focar em Jesus. A maternidade não é horrível, é uma dádiva preciosa que nos foi dada por nosso soberano Senhor. Vamos adorá-lo e deixar que ele defina nossa narrativa.

Traduzido por Caroline Ferraz

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