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Transcrição de Áudio

A dúvida a seguir, enviada por nosso ouvinte da California Kevin, é especialmente relevante nos dias atuais, em que observamos nossos irmãos do Oriente Médio sofrerem nas mãos do Estado Islâmico e serem expulsos de suas casas e de suas cidades: “Caro Pastor John, em Mateus 6, lemos: ‘Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.’ Mas, se isto é verdade, por que ainda existem no mundo milhares de pessoas morrendo de fome? Alguns cristãos em determinados países têm buscado primeiro o Reino, e, ainda assim, estão morrendo de fome. Qual a explicação para isso?”

É fundamental que os cristãos, especialmente os professores e pregadores, deem extrema importância a perguntas como essa. É comum encontrarmos na Bíblia promessas que parecem pouco realistas em si mesmas. Apesar disso, não dedicamos tempo a dar uma explicação plausível sobre a realidade que elas contêm. Portanto, necessitamos de uma enorme dose de realismo sempre que as abordamos.

Analisemos, então, as promessas em Mateus 6.25-34. Neste glorioso trecho, o objetivo de Jesus é dar oito motivos (segundo contei) pelos quais os filhos de Deus não necessitam ficar ansiosos por coisa alguma. No versículo 33 encontramos um resumo e o clímax: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. “Todas estas coisas” refere-se claramente ao que comeremos, o que beberemos e o que vestiremos, e Ele diz para não ficarmos ansiosos por nada disso e, ainda, que teremos tudo aquilo de que necessitamos.

Sendo assim, o leitor tem razão ao perguntar se os cristãos podem morrer de frio ou de fome. Está Jesus realmente prometendo a seus fiéis seguidores que nunca lhes faltará comida ou vestuário? É o que parece. Porém, devemos refletir sobre vários aspectos antes de concluir que Jesus está sendo ingênuo, simplista ou falso neste versículo. A seguir, consideraremos em profundidade outras três passagens bíblicas e deixar que nosso entendimento delas se aprofunde. e contrastaremos não as palavras de Jesus com a vida prática, o que seria um método de exegese ruim, mas compararemos a Bíblia e as palavras específicas de Jesus aos esclarecimentos do próprio Jesus sobre esta questão.

Iniciemos por Lucas 21.16-18, quando Jesus fala àquelas mesmas pessoas sobre não precisarem se preocupar com nada porque todas as suas necessidades serão atendidas. “E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça.” Portanto, Jesus promete que, dentre seu povo liberto da ansiedade, alguns serão mortos. Estes são os que, em Mateus 6.33, creram e confiaram que “todas estas coisas” lhes seriam dadas, e, contudo, serão mortos. E não há informação sobre como serão mortos. Morrerão de fome na prisão? Ou amarrados nus a céu aberto no frio? Não se sabe. Na história da igreja, houve perseguição de todas as formas imagináveis.

Na sequência, Jesus diz: “não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça” (Lucas 21.18). Bem, certamente essa promessa é tão ampla quanto “todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Não só estas coisas vos serão acrescentadas, como nem sequer um fio de cabelo será danificado. E Ele diz isso logo depois de falar que serão mortos: serão mortos, mas não sofrerão dano eterno. Bem, se Jesus diz que “não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça” e, logo depois, “eles vão matá-los”, necessitamos parar para refletir sobre isto. É melhor termos cuidado antes de dizermos que ter as nossas necessidades atendidas significa que não podemos morrer de fome.

Agora, consideremos Paulo em Filipenses 4.11-13: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” (e isto inclui passar fome). “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.” (Filipenses 4.19). O versículo 19 é muito semelhante a Mateus 6.33. Um diz que todas essas coisas vos serão acrescentadas, e o outro, que todas as vossas necessidades serão atendidas. E, no entanto, Paulo acabou de afirmar: eu sei estar humilhado, sei como é passar fome. Em outras palavras, a promessa de Deus de atender a todas as necessidades não significa que Ele nos proverá todo o alimento e a roupa de que pensamos necessitar.

Por último, meditemos sobre Romanos 8.32: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?”. Assim como em Mateus 6.33, Ele nos dará “todas as coisas”: comida, bebida, roupa. “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou” (aí estão) “fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo” (morte por fome, por frio) “fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Romanos 8.35-37). Logo, Paulo diz que alguns cristãos literalmente morrerão de angústia, perseguição, fome, nudez, perigo ou espada. Mas, então, o que ele quer dizer quando afirma que Deus nos dará todas as coisas?

Eis a minha resposta a essa pergunta: Quando junto as palavras de Jesus e os dois textos de Paulo, quando penso no significado de Mateus 6.33, Romanos 8.32 e outras tantas promessas como essa, concluo que nos será dado tudo o que necessitamos para fazer a vontade de Deus e glorificá-Lo plenamente, mesmo que isso signifique a morte. Jesus não promete toda a comida, toda a roupa, toda a habitação, toda o cuidado médico ou toda a proteção de que necessitamos para nos sentirmos confortáveis ou mesmo para nos mantermos vivos. Ele diz que morreremos a Seu serviço. Ele promete que teremos cada uma dessas coisas na medida exata para fazer Sua vontade e glorificar Seu nome, ainda que isto signifique morrer de frio ou de fome no caminho da obediência.

Publicado originalmente em DesiringGod.org.

Traduzido por Renata Jarillo.

 

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