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O povo de Deus nunca se encaixou na cultura. Sempre foram as pessoas anômalas e os radicais, os peregrinos do deserto que se alimentam de gafanhotos. Isto é porque não somos chamados a nos encaixar. Somos chamados a ser uma cidade edificada sobre um monte, demonstrando um modo de vida diferente (Mateus 5.14). Somos chamados a ser uma luz na escuridão, resplandecendo uma ideologia contracultural (Mateus 5.15-16).

Somos chamados a ser extraordinários, e isso não é motivo de vergonha. É algo a ser celebrado, porque é isso que significa ser cristão. E é isso que significa ser um jovem que quer usar a tecnologia para honrar a Deus: seremos diferentes.

Há um movimento crescente de jovens que estão dizendo: nós nos recusamos a ser o estereótipo da juventude viciada em tecnologia. Cremos que a tecnologia é mais do que isto e não queremos desperdiçar ou abusar daquilo que Deus nos deu. Sabemos que há um mundo inteiro lá fora, uma vida inteira à nossa frente e uma seara inteira à espera de trabalhadores. Portanto, para Sua glória, nos levantaremos e seremos diferentes.

Abrace a Dádiva da Tecnologia

Vivemos em um mundo de conexão constante, um legítimo medo de ficar de fora (FOMO, Fear Of Missing Out) e de saturação de mídia. Como podemos nadar contra a corrente, evitar idolatrar a tecnologia e, ao invés disso, usá-la de maneira significativa e motivada pelo evangelho?

O que necessitamos é de uma disciplina estratégica, alegre e equilibrada. Necessitamos fazer escolhas estratégicas sobre quais tecnologias digitais e mídias usamos, sem ceder à pressão para usar todas. Necessitamos nos deleitar em ser diferentes e lutar por hábitos saudáveis, ao mesmo tempo em que nos apegamos com alegria à dádiva da tecnologia. Necessitamos de uma abordagem equilibrada para visualizar a tecnologia e as mídias sociais sem cair no extremismo (por exemplo, evitando tudo por medo ou ficando obcecado por elas, como idolatria). E necessitamos de disciplina para usar a tecnologia para a glória de Deus, em vez de em benefício próprio.

Como membro da iGen, que se esforça para fazer isso, deixe-me compartilhar seis estratégias práticas que estou aplicando à tecnologia, na esperança de glorificar a Deus e celebrar a vida.

1. Seja mais rápido que os seus pais em limitar a tecnologia.

Adolescentes, não esperem que os seus pais imponham limites de quanto tempo você gasta no seu smartphone, ou de quais sites de mídia social você participa. Crie seus próprios limites! Comece a desligar o smartphone à noite e a guardá-lo em outro cômodo. Evite as mídias sociais um dia por semana. Talvez até mesmo, desative algumas contas de mídia social.

Ou considere sair completamente das mídias sociais. O jornal The Guardian publicou uma série de depoimentos curtos de jovens que abandonaram as mídias sociais. Desde que o Ben se desconectou, ele diz: “Sou mais produtivo e menos preocupado com o que as outras pessoas pensam de mim — agora, a única pessoa com a qual tenho que me comparar regularmente é comigo mesmo. Estou em um estado mental muito mais positivo sem mídias sociais do que estava antes com elas. Isso me ajudou a ver quem são os meus amigos de verdade, e com quem eu só me preocupava simplesmente porque eles estavam lá nas redes sociais.”

Essa mesma liberdade também está disponível para nós.

2. Priorize relacionamentos reais.

Gaste tempo com a sua família sem os dispositivos por perto. Convide os amigos para passar tempo juntos ao vivo — e então sugira que todos guardem os smartphones para que possam evitar distrações. Invista em uma igreja local onde possa servir as pessoas ao seu redor. Ofereça-se como voluntário em sua comunidade. Visite seus avós. Cuide das crianças de famílias que necessitam de ajuda. Busque mentores. Ajude seus irmãos.

Invista a sua vida em pessoas, pessoas reais com quem você pode conversar cara a cara e rir, ouvir o tom de voz e fazer conexões autênticas. Não é necessário ignorar os bons reflexos de comunidade que se pode encontrar online, mas sua prioridade deve ser as relações encarnadas que Deus lhe deu localmente.

3. Leve a saúde mental a sério.

Jean Twenge, professora de psicologia da Universidade Estadual de San Diego, descobriu que “todas as atividades da tela estão ligadas a menos felicidade, e todas as atividades fora da tela estão ligadas a maior felicidade. Alunos da oitava série que passam 10 horas ou mais por semana nas redes sociais são 56% mais propensos a dizer que são infelizes do que aqueles que dedicam menos tempo às mídias sociais.”

Sua conclusão? “ Com base nessa pesquisa, se fosse dar conselhos para uma adolescência feliz, seria simples: guarde o smartphone, desligue o laptop e faça algo — qualquer coisa — que não envolva uma tela”. Mas a maioria de nós não precisa que as estatísticas e pesquisas nos digam isso.

Se queremos servir a Deus e amar ao próximo da melhor maneira possível, necessitamos levar nossa saúde mental a sério. Precisamos dormir. Precisamos sair. Precisamos comer comida nutritiva. Precisamos ler um livro. Precisamos reconhecer a nossa finitude e nos submeter aos limites, descanso e ritmos que Deus nos deu.

4. Utilize as mídias sociais para construir o reino de Deus, não o seu próprio reino.

Utilizar as mídias sociais não é necessariamente ruim. Ao contrário, pode ser um recurso para trazer esperança, encorajamento, alegria e reflexão na vida dos outros. Pode ser uma maneira de elevar o nome de Jesus e de melhor amar aos outros.

Mas as mídias sociais podem ser ruins quando as usamos para construir nosso próprio reino em vez do reino de Deus. Meu amigo diz que devemos usar a tecnologia como “ferramentas, e não como brinquedos”. As mídias sociais se tornam ruins quando as utilizamos como um brinquedo para benefício próprio, em vez de uma ferramenta para o amor do evangelho — para nos distrair sem propósitos, para inflar nossos egos, para derrubar os outros, ao invés de servir nosso próximo online.

Mas não precisa ser dessa maneira. Podemos nos rebelar contra esse lado da mídia social e usá-lo para a glória de Deus e para o bem dos outros (Mateus 6.33). Podemos trazer mudanças.

5. Seja liberto pelo evangelho da aceitação plena.

Tim Keller ensina que o evangelho são as boas novas da aceitação pela graça. Escreveu: “Somos mais imperfeitos e pecaminosos do que já ousamos crer, mas mais amados e aceitos do que já ousamos esperar ao mesmo tempo”.

No entanto, muitos na minha geração têm dificuldade para crer realmente nisso. As mídias sociais nos doutrinaram a pensar que devemos labutar pela aceitação. É assim que vemos as mídias sociais: uma fábrica implacável de comparações, de competição, de insegurança e de busca por validação. Necessitamos ter um certo tipo de aparência, de uma certa quantidade de seguidores, de um certo tipo de comentário para sermos vistos, conhecidos e amados.

O problema é que essa aceitação nunca será encontrada nas mídias sociais. De maneira irônica e tenebrosa, elas nos deixam mais inseguros e carentes de validação do que antes. Não somos suficientes, e as mídias sociais nos fazem sentir a dor disso. É por isso que necessitamos do evangelho para nos libertar da sofreguidão mortal pela aprovação online. Necessitamos da esperança da expiação e aceitação de carne e sangue,. Porque essa aceitação é a única coisa que elimina o fardo esmagador da validação por curtidas e seguidores. Essa aceitação nos libertará de fato (João 8.32).

6. Proteja-se fazendo prestação de contas.

A história do telefone é fascinante. Aquilo que foi criado como uma ferramenta para falar com alguém em tempo real tornou-se o maior isolador da nossa cultura. O smartphone agora é inerentemente privado. O que olhamos e ouvimos é conhecido apenas por nós (ou assim cremos).

E isso é altamente perigoso. Necessitamos de prestação de contas espiritual e de autoridade em nossas vidas. Necessitamos de pais, pastores e mentores espirituais que nos ajudem. Necessitamos que eles conversem conosco regularmente sobre os nossos hábitos tecnológicos, não apenas para impor limites ou criar regras, mas para se envolverem nas nossas questões e ter aquelas conversas difíceis.

Você tem pessoas assim —pessoas que estão orando por você, pessoas com quem você fala regularmente (semanal ou mensalmente) sobre seu uso de tecnologia, pessoas que verificam o seu smartphone ou que o ajudaram a instalar software de pureza ou limites na sua wi-fi, que o estão discipulando e ensinando sobre limites, sobre pureza e sobre autocontrole, baseados na palavra de Deus? Você necessita de tais pessoas.

Geração Desconectada

Para alguns de nós, este não será um caminho fácil. Exigirá que morramos para nós mesmos e para os nossos dispositivos diariamente. Mas valerá a pena. Deus quer uma vida diferente para a geração iGen além de uma vida fragmentada e desperdiçada em atividades sem sentido. Ele quer que sejamos tão fixados em sua glória e tão apaixonados por sua beleza que vivamos com todas as nossas forças para ele. E ele estará conosco a cada passo do caminho.

À medida que buscamos este novo modo de vida, esta nova maneira de usar a tecnologia, observaremos o que Deus fará com uma geração livre para usá-la para ele. Com os nossos olhos fitados nele (e nāo em nossos smartphones), poderíamos mudar o mundo.


* NT- Geração moldada pelos smartphones e pelo crescimento concomitante das mídias sociais — nascidos entre 1995 e 2012.

Publicado originalmente em Desiring God: https://www.desiringgod.org/articles/unplug-igen

Traduzido por Mariana Alves Passos

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