A história de Jonas me lembra a de Nasreddin Hodja, um personagem da literatura infantil da Ásia Central. Como conta a história, um dia, Nasreddin, um homem santo muçulmano, estava deitado sob uma árvore de nozes. Olhando para seus ramos magníficos, ele começou a questionar a sabedoria do Criador. Por que uma árvore tão grande teria nozes tão pequenas? Ela poderia facilmente carregar as grandes abóboras que crescem em ramos finos.
Nasreddin logo adormeceu. Mas foi acordado de repente quando uma noz caiu em sua cabeça. Nesse momento, ele reconheceu não só a sabedoria, mas também a bondade do Criador. Enquanto Hodja estava ocupado questionando os propósitos de Deus, ele ignorava a misericórdia — misericórdia esta que impediu que uma abóbora caísse e esmagasse sua cabeça.
No folclore muçulmano, Nasreddin Hodja é um personagem bobo e absurdo. Mas seu humor infantil muitas vezes revela verdades profundas. Claro, personagens absurdos podem ser encontrados em toda a literatura e em todo o mundo. Ao longo dos séculos, a sátira literária tem sido uma ferramenta cultural afiada para criticar indivíduos e a sociedade em geral.
O poder do absurdo é que ele expõe a realidade. Este é o caso de Jonas.
Personagem Absurdo
O nome Jonas significa “pomba” em hebraico, um nome que parece representar a natureza tola e insensata de Israel (Os 7.11). Assim como a nação, Jonas é lastimavelmente alheio ao mal de seu próprio coração e à misericórdia imerecida de Deus sobre ele. Enquanto questiona a sabedoria de Deus ao mostrar bondade para com Nínive, Jonas está cego para como essa mesma graça o salvou.
Isso fica claro no ápice da cena final da história de Jonas. Em sua bondade, Deus designa uma planta — provavelmente algo como uma grande abóbora ou cabaça — para crescer e fazer sombra sobre a cabeça de seu profeta murmurador. De forma engraçada, Jonas encontra uma felicidade excessiva na planta. Mas então, Deus envia um verme para matar a planta. À medida que sua amada sombra murcha ao sol e seca com o vento, Jonas reage com raiva. Ele fica ao mesmo tempo irado e com pena. Com pena da planta — o que, na verdade, é autopiedade. E irado contra o verme, o sol e o vento — o que, na verdade, é ira contra Deus.
Nesse momento, vemos o verdadeiro caráter de Jonas. Ele está mais preocupado com seu conforto passageiro do que com a salvação eterna dos ninivitas. Sua pena por si mesmo e pela morte da planta supera qualquer compaixão pelos perdidos e pelos que padeciam entre os assírios. Além disso, o mais preocupante de tudo é que ele presume a graça de Deus. Como muitos em Israel, ele de algum modo concluiu que o favor de Deus lhe pertencia.
O que o último capítulo de Jonas revela, por fim, é que sua recusa inicial em ir a Nínive vinha de seu desdém pela misericórdia de Deus, do seu desejo de conforto pessoal e da sua falta de compaixão para com os perdidos. Sua história seria engraçada se não fosse verdadeira.
Amando Nossos Inimigos
Henry Gerecke foi um ministro luterano evangélico que vivia em Missouri (EUA) no início dos anos 1900. No início da Segunda Guerra Mundial, seus dois filhos mais velhos ingressaram no exército. Aos 49 anos de idade, Gerecke queria fazer sua parte, e se alistou como capelão do exército, trabalhando, após certo tempo, entre as tropas aliadas no teatro europeu. No entanto, seu serviço mais notável teve início após o fim da guerra.
Quando todos retornavam ansiosamente para casa, incluindo seus filhos, Gerecke recebeu uma carta pedindo-lhe para ficar. Com seu conhecimento da língua alemã, ele era um candidato ideal para trabalhar entre os prisioneiros nazistas aguardando julgamento em Nuremberg. Gerecke foi convidado a servir como capelão para aqueles que eram, naquele ponto da história, os homens mais odiados da terra. Os perversos dos perversos. Seria como Jonas indo para Nínive. E Gerecke concordou em fazer isso.
Mais tarde, quando a imprensa americana publicou sua história, incluindo a disposição de Gerecke em estender graciosamente sua mão para os prisioneiros nazistas, ele foi duramente criticado. Em seu país, seu serviço era visto como traição. Mas Gerecke continuou. Ele trabalhou silenciosamente entre os alemães por várias semanas, lembrando-os do evangelho de Cristo e oferecendo-lhes a esperança da vida. Como resultado, nos últimos dias antes das execuções, alguns daqueles homens desprezíveis pareceram se arrepender genuinamente.
Se formos honestos, a história de Jonas pode parecer completamente irrelevante para nós na igreja. Afinal, que cristão poderia desprezar a graça de Deus? Quem entre nós priorizaria a segurança e o conforto pessoal sobre a salvação das nações? Que crente seria capaz de ter pensamentos raivosos e vingativos contra os opositores de nossa fé? Ou de nosso modo de vida? Ou de nosso país?
Combatendo o Preconceito
Podemos supor que as lutas de Jonas jamais seriam nossas. Mas esse é o poder da sátira. Seu absurdo nos desperta para a realidade.
A realidade é que muitos de nós, no Ocidente pós-cristão, somos tentados a responder ao exílio iminente com o espírito de Jonas. Vivendo em um mundo hostil, é fácil desprezar nossos inimigos. Cercados por opositores, a resposta mais natural é lutar colericamente pelos nossos direitos. Quando outros nos ridicularizam e nos ameaçam, somos inclinados a responder na mesma medida, escolhendo seletivamente quem merece nossa bondade — esquecendo, assim, da graça imerecida de Deus para conosco em primeiro lugar.
Em vez de ter compaixão pelas multidões, é fácil passar nosso tempo resmungando sobre os coletores de impostos e pecadores modernos. Mas para que a igreja cumpra sua missão, levando as boas novas de Cristo ao mundo, devemos estar atentos ao espírito farisaico de Israel. Isso começa ao reconhecermos que somos tentados a entreter os mesmos preconceitos do profeta Jonas.
Traduzido por Rebeca Falavinha.