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Estou escrevendo sobre como cuidar de membros da igreja com doenças terminais enquanto estou sendo tratado de um linfoma não-Hodgkin incurável. Estou me acostumando com a realidade de que, sem uma intervenção divina, minha expectativa de vida pode ser muito menor do que eu previa há décadas.

Sem dúvida, vejo uma doença terminal sob um novo prisma. Isto, como uma dádiva do Senhor, ajudou a moldar meus pensamentos sobre como servir os enfermos terminais.

Honestamente, visitar um lar ou um hospital com um paciente terminal pode ser desconfortável. Pode ser que digamos a coisa errada. Podemos nos preocupar sobre nossa reação quando virmos o severo declínio físico de um amigo. Ou podemos ficar ansiosos por não termos a resposta a perguntas que um membro da família possa fazer. Estes são receios razoáveis, mas não razoáveis o suficiente para nos impedir de servir aqueles que necessitam mais do que nunca do ministério do evangelho.

Há algo sobre o serviço compassivo e vulnerável em nome de Cristo, dependente da ajuda do Espírito, que alivia tais receios. O Senhor chamou os presbíteros para pastorear o rebanho, mesmo aquelas ovelhas que enfrentam o imediatismo da morte. Como devemos pastorear os membros da igreja que estão em estado terminal?

Consideremos sete aspectos de como pastorear enfermos em fase terminal.

1. Pastoreie da maneira que você gostaria de ser pastoreado.

Ao minha esposa e eu caminharmos pelos longos corredores do MD Anderson Cancer Center, em Houston, onde eu estava recebendo tratamento, comentei: “Há tantos pacientes terminais aqui”. Ela me lembrou: “Somos todos terminais”. Viver até os 80 ou 90 anos pode parecer um longo tempo, mas é um grão de poeira se comparado à eternidade. À medida que buscamos servir aqueles que podem estar muito mais próximos da morte do que nós agora, mantenhamos em mente nossa própria mortalidade. Como gostaríamos de ser pastoreados em tempos como este?

Deseja-se alguém que seja compassivo, que busque entrar na angústia que você está enfrentando, ao invés de alguém apenas checando outro dever de uma lista de tarefas. O doente terminal necessita de alguém que seja realista sobre o que está por vir, e não um simpatizante que continue repetindo: “Acho que tudo vai ficar bem”. Sim, tudo ficará bem quando virmos a Jesus, mas agora as coisas não estão bem. Encare a realidade junto com este santo sofredor.

2. Pastoreie-os com compaixão, contato visual, gentileza e contato físico.

A doença terminal pode trazer um sentido quase não humano à pessoa doente. A maneira como esta pessoa viveu por tanto tempo mudou de repente. Agora eles vivem com sondas, conectados a máquinas, monitores de cabeceira, falta de mobilidade, visitas demasiado freqüentes do flebotomista, pessoal médico indo e vindo, o enfraquecimento do corpo e da mente, falta de ar e lutas para fazer o que deveria ser normal. O apetite diminuiu ou desapareceu. Começa a insuficiência renal. A pele muda de cor.

Do que necessitam nesta hora?

Necessitam de seu foco, toque e sensibilidade. Coisas de má aparência e odores desagradáveis podem estar por perto, mas você está lá para servir com amor e compaixão.

Anos atrás, recebi um telefonema dizendo que um de nossos membros estava se aproximando da morte. Fui até a casa onde ela estava deitada em uma cama de hospital, recebendo cuidados paliativos. As visões e odores eram suficientes para virar o meu estômago, mas Deus me deu graça para ficar e servir esta querida senhora e seu marido até o último suspiro. Tive que superar meu embaraço, dando-me conta de como seria egocêntrico fazer uma visita curta, quando seu marido necessitava que eu ajudasse espiritualmente e fisicamente em tal momento.

Então, o que fazer nestes casos? Conversa-se olho no olho. Segura-se a mão enquanto fala e ora. Fala-se com ternura. Procura-se maneiras de servir. Trate-o como um santo sofredor que logo verá a Jesus.

3. Pastoreie-os com a verdade do evangelho.

É sempre apropriado falar sobre Cristo. Ler porções do evangelho traz paz para uma alma cansada (por exemplo, João 5; 6; 10; 11). Nós recebemos grande conforto da fidelidade e suficiência de Jesus revelada no evangelho (2Tm. 1.8-12; Tt 2.11-14)

Portanto, fale sobre o que Cristo fez (João 19). Relembre a eficácia de sua obra (Hb 10), o poder de sua morte sobre o pecado (Rm 3) e o triunfo de sua ressurreição sobre a morte (1Co 15).

Fale sobre como nada mais pode ser adicionado ao que Jesus consumou (Gl 2). Pondere sobre sua fidelidade para nos levar até o fim (Rom. 8). Se não há conforto no evangelho, não há conforto real em lugar algum. Dependa da suficiência de Cristo para ajudar aquele santo sofredor a dar os últimos passos até os braços do Salvador.

4. Pastoreie-os com vistas à eternidade com a esperança fixada em Cristo.

Esta é uma área onde necessitamos construir os alicerces em nossa exposição semanal da Palavra de Deus. Muito das Escrituras se concentra na eternidade. Somos uma geração muito mais acostumada a pensar em viver do que na brevidade da vida e na glória da eternidade.

Se tivermos pregado sobre muitos textos que nos ajudam a pensar sobre a morte e a eternidade, então nossas conversas ao lado da cama com um santo agonizante serão gastas retornando a estas passagens. Lemos estes trechos, fazemos breves comentários, talvez até compartilhemos um trecho de um sermão passado que esse irmão ou irmã ouviu, compartilhamos a alegria do que virá pela frente e os ajudamos a refletir sobre a realidade espantosa de ver a glória de Cristo. Se alguém não está animado para ver a Cristo e passar a eternidade com ele, isto ficará evidente quando você discutir a eternidade com frieza.

5. Pastoreie-os em direção à garantia da salvação.

Quando o corpo e a mente de alguém estão enfraquecidos em face da morte, quando uma vida longa se reduz a alguns breves dias, tenha a expectativa de que o adversário irá atacar. Satanás nunca parece recuar, encontrando um prazer diabólico em negar aos crentes a alegria em Cristo. Portanto, fale sobre garantia de salvação com o santo que está prestes a morrer. Leia Romanos 8 e João 10 com alegria. (O novo livro de Greg Gilbert, Assured: Discover Grace, Let Go of Guilt e Rest in Your Salvation [Seguro: Descobrindo a Graça, Abandonando a Culpa e Descansando em Sua Salvaçāo], é um remédio útil.)

Gentilmente faça perguntas e faça comentários sobre confiar apenas em Cristo. Ajude-os a ver que Jesus é fiel em guardar os que sāo seus para a eternidade, que nada pode nos separar do seu amor.

6. Pastoreie-os em direção à alegria na soberania de Deus.

Eu mesmo fui ajudado repetidamente por Apocalipse 5, onde João nos dá uma imagem do governo soberano de Jesus sobre os detalhes de nossas vidas — incluindo o sofrimento e a morte. Quando João explicou que o Cordeiro “Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono” (Ap. 5.7), ele garantiu aos santos sofredores que a aflição nunca é em vão. Tudo está em seu lugar para demonstrar a bondade e a graça de Deus.

Romanos 8.28–39 detalha a maneira como “Deus é por nós”, apesar de circunstâncias sombrias. Conhecer seu amor por seu povo traz conforto para aquele irmão ou irmã que necessita ser relembrado(a) de que o Senhor amoroso está no trono.

7. Pastoreie-os com orações encharcadas nas Escrituras, bons hinos e histórias de santos terminando bem.

A oração deve sempre fazer parte do seu serviço aos enfermos terminais. Deixe suas orações refletirem a aplicação das Escrituras que você leu e comentou. O objetivo é ajudar aquele santo sofredor a visualizar a fidelidade de Deus às suas promessas. Inclua-os em suas orações pastorais para que toda a congregação se junte intercedendo por eles durante este período crítico. Deixe-os saber que, embora sejam fracos e possam ter dificuldade para orar, o corpo de Cristo está orando com eles e o Espírito os está ajudando em suas fraquezas (Rm 8.26-27).

Cantar ou ler um hino à beira do leito também pode oferecer um conforto especial. Cante “Cristo Ajudará”, “Descansa ó Alma”, “Castelo Forte”, “Só em Jesus Esperarei”, “Somente em Cristo” ou outros grandes hinos. Traga mais alguns membros para se juntarem a você cantando com aquele irmão ou irmã.

Tome emprestado alguns textos do livro O Peregrino de John Bunyan, que ajudam a contar a história de passar para a glória eterna. Leia textos dos puritanos, que parecem estar em uma categoria própria em visualizar as glórias da eternidade. Conte-lhes sobre Henry Martyn ou Eric Liddell ou David Brainerd ou Robert Murray M’Cheyne ou Charles Spurgeon — ou qualquer número de crentes que enfrentaram a morte.

Ajude-os na Transição

Minha esposa e eu fomos visitar uma de nossos membros mais antigos na noite antes dela ter uma séria cirurgia cardíaca. Não sabíamos que na manhã seguinte, durante a cirurgia, ela veria seu amado Salvador face a face. Mas falamos sobre o Senhor Jesus, sua fidelidade, eternidade à frente, a alegria da esperança fixada em Cristo, a beleza do céu e a mais profunda satisfação quando conhecemos a Jesus.

Seu estado era terminal e nós não sabíamos disso.

No entanto, a conversa, as Escrituras compartilhadas, as reflexões sobre os sermões recentes e as orações a encheram de alegria. Horas depois, ela viu com olhos mais claros, sentiu emoções mais profundas e ouviu com maior prazer as imagens e os sons sobre os quais tentamos conversar e orar juntos.

Nosso ministério para os doentes terminais amplifica aquilo que temos feito no púlpito a cada semana, tornando-o real em plena aplicação. Não devemos nunca ter receio de ficar com quem está para morrer para ajudá-lo a cruzar para o outro lado à nossa frente.

Traduzido por Luiz Santana.

 

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