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A primeira vez que ouvi “10.000 Razões (Minha Alma Canta ao Senhor)” de Matt Redman no rádio, eu sabia que estava ouvindo uma música que logo seria cantada em igrejas por todos os Estados Unidos. (1) A melodia melancólica se adequa perfeitamente à paráfrase do Salmo 103 de Redman, e o refrão ficou tocando na minha cabeça o resto do dia.

De acordo com a lista bianual da CCLI de 25 canções relatadas pelas igrejas de todo o país, 10.000 Razões agora é o cântico de adoração contemporâneo cantado com mais frequência nos EUA.

Uma vez que a música de Redman é tão popular, pensei que poderia ser útil olhar mais profundamente os principais temas da canção, comparando-os com os temas do salmo no qual ela se baseia. Eu recorri a um escritor de hinos e estudante da Universidade de Belmont, Bryan Loomis, para analisar a mensagem da canção, e recentemente nós dois tivemos uma conversa durante o almoço sobre os pontos fortes e fracos dela.(1)

O Refrão

A música começa com o refrão, uma paráfrase do início do Salmo 103 (2):

Bendizei, ó minha alma, ao Senhor. 
Ó minha alma
Adore ao Seu santo Nome
Cante como nunca fizeste
Ó minha alma
Eu adorarei Seu santo Nome

O refrão de Redman é parecido com o Salmo 103, sendo seu foco o santo nome de Deus e a necessidade de pedir às nossas almas que louvem o Senhor pelo que Ele é. Alguns podem se perguntar se o verso “Cante como nunca fizeste” implica que cada experiência de adoração deve ser absolutamente única, diferente de tudo que já tenhamos passado antes. Eu acho que essa interpretação é duvidosa. Mais que provável, essa linha é uma paráfrase da frase “tudo o que está dentro de mim” do salmo. (3) Em outras palavras, como o salmista, Redman está convocando sua alma a se empenhar plenamente enquanto ele bendiz o Senhor. Fazer isso de forma mecânica não é suficiente.

Primeira Estrofe

A primeira estrofe é sobre um novo dia em que somos convocados a bendizer ao Senhor:

O sol nasce, é um novo dia amanhecendo
É hora de cantar Tua música de novo
Seja o que acontecer e o que estiver diante de mim
Que eu possa estar cantando quando a noite chegar (4)

Não há qualquer paralelo específico dessa estrofe com o Salmo 103, embora o salmista fale de Deus redimindo nossa vida da cova (o que pode estar implícito no desejo de Redman de ser resoluto em sua adoração, não importando as circunstâncias). Há algo a ser dito sobre a adoração ser uma das maneiras pelas quais nos fortalecemos para as provações e lutas da vida. Antes de entrarmos numa luta, nós oramos para que Deus nos mantenha fiéis, de modo que continuemos a louvar o Senhor quando o dia difícil acabar.

Segunda Estrofe

A segunda estrofe é a que mais reflete o Salmo 103, e é aqui que o título “10.000 Razões” é usado pela primeira vez:

Tu és rico em amor e Tu és compassivo
Seu nome é grande e Teu coração é benigno
Por toda a Tua bondade eu continuarei cantando
Dez mil razões para o meu coração encontrar

O Salmo 103 centra-se no Senhor como misericordioso, rico em amor e compassivo (versos 8-9). A bondade e o amor do Senhor também são temas do salmo. A maior diferença entre a canção e o Salmo 103 do Redman é que o salmista explicita especificamente as ações do Senhor que mostram Sua bondade e misericórdia, enquanto que Redman se concentra principalmente no caráter de Deus.

Eu gosto da frase das “10.000 razões” porque implica que estamos numa jornada cada vez mais profunda de descobrimento das diferentes facetas do amor de Deus. Nosso louvor nunca vai acabar porque nunca chegaremos à totalidade da bondade de Deus para conosco. Nós continuaremos a descobrir mais e mais coisas sobre Deus que são dignas de nosso louvor.

Terceira Estrofe

A terceira estrofe parafraseia o tema da fragilidade e mortalidade humana do Salmo 103:14-17:

E no dia em que a minha força estiver falhando
O fim se aproximando e minha hora chegando
Ainda assim minha alma louvará interminavelmente
Dez mil anos e depois para sempre

Esse é um dos únicos cânticos de adoração contemporâneos que nos deixam face a face com nossa mortalidade. Olhando para trás, vemos alguns dos maiores hinos terminarem com uma declaração sobre morte e eternidade. Pense na última estrofe de “Achei a Fonte Carmesim” (5) e sua imagem de uma “língua pobre, balbuciadora e gaguejante” repousando “em silêncio na sepultura”, mas cantando “uma música nobre”. Ou considere o verso inicial da adição posterior feita em “Preciosa Graça”: “Quando lá estivermos há dez mil anos”.

O que é interessante é a forma como Redman segue o padrão da famosa hinódia em vez de seguir a progressão do Salmo 103. Observe como o Salmo 103 constrói poeticamente a mortalidade humana e, em seguida, desloca o assunto para o Senhor:

Pois ele conhece a nossa estrutura 
e sabe que somos pó.
Quanto ao homem, os seus dias são como a relva;
como a flor do campo, assim ele floresce;
pois, soprando nela o vento, desaparece; 
e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar.
Mas a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade…

Em vez de passar para a eternidade do amor de Deus, Redman segue o padrão de “Preciosa Graça” e “Achei a Fonte Carmesim” e centra-se na nossa resposta a esse amor. Nosso louvor não vai acabar com a morte; continuaremos a cantar.

Pontos Fortes e Fracos

Eu aprecio o trabalho de Matt Redman, e “10.000 razões (Minha Alma Canta ao Senhor)” é uma de suas melhores canções. Sou grato por compositores talentosos que, ao nos apontarem para o Senhor e Sua bondade para conosco, movem nossos corações à adoração.

Os pontos fortes de “10.000 Razões” são numerosos. Como mencionei acima, a canção usa um salmo como base, foca nossa atenção no caráter de nosso Deus amoroso, fortalece e nos prepara para o sofrimento e para a eventual morte e nos ensina que a adoração é interminável porque nunca terminaremos de explorar os atributos de Deus.

Se houver uma fraqueza em “10.000 Razões”, é uma comum entre muitos cânticos de adoração de hoje: as ações na canção referem-se ao cantor e os atributos na canção referem-se a Deus. Isso por si só não é problemático, mas líderes de louvor desejarão balancear suas escolhas de música de tal forma que os atos salvadores de Deus sejam enaltecidos juntamente com seus atributos. Melhor dizendo, queremos centrar-nos nas ações que melhor mostram seus atributos. Por exemplo, o Salmo 103 começa com o comando “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR” e continua com vários versículos exaltando atos salvadores de Deus. O Salmo 103 tem 13 verbos de ação no qual Deus é o sujeito; os verbos de ação em “10.000 Razões” pertencem àquele que está louvando. Não queremos que características de Deus ( “compassivo”, “Tua bondade”, “rico em amor”) sejam interpretadas como “atemporais”, à parte de suas maiores manifestações por meio de atos salvadores de Deus. Por essa razão, líderes de louvor que usam essa música vão querer colocá-la entre hinos e cânticos que ligam atributos como “compassivo” e “rico em amor” à morte e ressurreição de Cristo.

No geral, “10.000 Razões” é um dos cânticos de adoração que eu mais gosto de cantar. É uma bela melodia com base em um belo salmo, e eu sou grato por compositores como Matt Redman, que focam nossa atenção na bondade de Deus e nos chamam para adorá-Lo, não importando as circunstâncias.

Notas do Tradutor:

(1) Junior Neguebe gravou uma versão desta música para o português em 2014.

(2) Usamos uma tradução literal para fazer a análise onde a versão para o português não colaborou para a discussão apresentada no artigo.  

(3) A versão em português acerta este ponto ao dizer “Bendiga todo o meu ser”.

(4) A versão em português, no entanto, faz desta esperança uma resolução ao dizer “E seja o que for ou que está diante de mim, eu cantarei até o anoitecer.”

(5) A versão em português, Achei a Fonte Carmesim, não contempla todas as estrofes.

Traduzido por Rebeca Romero.

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