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Sobre Ler e Estudar como Pastor

Atualmente, os pastores protestantes não leem ou estudam muito e a maioria das igrejas não os encoraja a fazê-lo. Nunca houve tão poucos pastores leitores (e navegar pela internet ou explorar uma ou outra esquisitice não conta!). Os membros da igreja e até da liderança às vezes têm dificuldade em valorizar quanto tempo demora para se desenvolver uma boa mensagem vinda da palavra de Deus e, além disso, eles não veem como é importante para o pastor estudar qualquer coisa que não seja para a pregação ou devocional. Há uma dose forte de anti-intelectualismo nos nossos círculos e isso não motiva ninguém a trabalhar duro para desenvolver a mente e expandir seu conhecimento.

Mas precisamente porque em nossos dias, nosso povo está imerso em informações triviais, eles necessitam de um pastor com conhecimento real, muito discernimento e um bom faro para a verdade. Tal conhecimento necessita ser adquirido, e estas qualidades, cultivadas, e ambos requerem que estudemos constantemente. Este chamado para estudar é, claro, totalmente bíblico.

A Bíblia enfatiza a importância da busca por uma aprendizagem sensata para os sábios em geral e para os pastores mais especificamente. Provérbios 15.14 diz que “O coração sábio procura o conhecimento, mas a boca dos insensatos se apascenta de estultícia”. Provérbios 18.15 reitera o princípio quando diz “O coração do sábio adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios procura o saber”. Provérbios 24.5 “Mais poder tem o sábio do que o forte, e o homem de conhecimento, mais do que o robusto” — nos lembra do velho ditado que “o conhecimento é poder”. Não preciso nem falar que a literatura de sabedoria da Bíblia é repleta de chamados para o crente buscar o conhecimento. No entanto, a Bíblia fala mais do que isso, ela enfatiza que os ministros necessitam buscar o estudo da verdade.

Esdras 7.10 descreve aquele grande líder do Antigo Testamento desta forma: “Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do SENHOR, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos”. Oséias estava lamentando a falta de líderes espirituais como Esdras quando escreveu: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (4:6). A mesma ambição e queixa pode ser encontrada no último livro do Antigo Testamento: “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 2.7).

Mas é nas epístolas pastorais que encontramos algumas das palavras de instrução e exortação mais diretas em relação ao estudo ministerial. Paulo escreveu a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15). Aqui, temos uma diretiva apostólica para que um ministro jovem estude com empenho e esforço equivalentes ao de um trabalhador braçal. O verdadeiro ministro é um operário (Paulo gostava muito desta metáfora!). Ele trabalha duro na sua tarefa. O verdadeiro ministro deve dar duro nos estudos para conhecer e pregar a Verdade corretamente.

Além disso, Paulo dá a Timóteo um exemplo excelente de ser estudioso, com suas práticas e prioridades. Veja seu pedido surpreendente em 2Tm 4.13, no qual ele pede: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos.” Reflita sobre isto. Paulo estava a alguns meses da própria morte. Havia escrito a maior parte das epístolas do Novo Testamento. Tinha uma vida inteira de ministério no seu currículo. E o que ele quer fazer? Estudar! O inverno está chegando, portanto Paulo pede a sua capa, mas, mais importante, ele pede que Timóteo traga os livros e pergaminhos. Apesar de estar quase no fim da carreira, o alvo de Paulo é continuar aprendendo e crescendo por meio da leitura espiritual.

Ninguém pronunciou uma meditação pastoral mais comovente sobre este versículo do que C. H. Spurgeon. Foi isto o que ele disse:

“Como eles são repreendidos pelo apóstolo! Ele era inspirado e, ainda assim, queria livros! Ele havia pregado por pelo menos trinta anos e, ainda assim, queria livros! Ele havia visto o Senhor e, ainda assim, queria livros! Ele havia tido uma experiência mais abrangente que a maioria dos homens e, ainda assim, queria livros! Ele havia sido arrebatado ao terceiro céu e ouvido coisas às quais é ilícito ao homem referir e, ainda assim, queria livros! Ele havia escrito a maior parte do Novo Testamento e, ainda assim, queria livros! O apóstolo diz a Timóteo e, também, a todos os pregadores: “ENTREGUEM-SE À LEITURA.”

O homem que jamais lê, jamais será lido. Aquele que jamais cita outros, jamais será citado. Aquele que não usa os pensamentos dos cérebros de outros homens prova que não tem cérebro próprio. Irmãos, o que é verdade para ministros é verdade para todo o nosso povo. VOCÊ precisa ler. Deixe de lado o quanto quiser a literatura leve, mas estude o máximo possível trabalhos teológicos sólidos, especialmente os escritores Puritanos e exposições da Bíblia. Estamos bem certos de que a melhor forma de passar o seu tempo livre é lendo ou orando. Você pode receber muita instrução dos livros que, posteriormente, será usada como uma verdadeira arma a serviço do seu Senhor e Mestre. Paulo clamou: “Traga os livros”. Junte-se a este clamor.

Neste caso, Paulo é um exemplo da desvelo. Ele estava na prisão e não podia pregar: O QUE ele vai fazer? Já que não pode pregar, ele vai ler. É tal como lemos sobre os pescadores de antigamente e seus barcos. Os pescadores estavam fora do barco e o que faziam? Consertavam suas redes. Portanto, se a providência o deixou acamado e você não pode ensinar a sua turma em sala de aula — se não pode trabalhar para Deus em público, conserte suas redes por meio da leitura. Se uma ocupação lhe for tirada, assuma outra e deixe que os livros do apóstolo retratem para si uma história de desvelo” (Do sermão número 542 de Spurgeon “PAULO, sua capa e seus livros” em Metropolitan Tabernacle Pulpit 9 [Púlpito do Tabernáculo Metropolitano 9] (1863).

Paulo buscava sempre estar aprendendo, e nós necessitamos ser assim também.

Nota do editor: este artigo foi publicado originalmente no blogue do “Together for the Gospel – T4G” (Juntos pelo Evangelho).

Traduzido por: Mariana Ciocca Alves Passos

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