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Qual o Propósito de Deus para o Meu Corpo?

Pobre corpo humano. Alternadamente supervalorizado ou ignorado ao longo dos séculos, o corpo sobreviveu a milênios de abuso e uso inadequado, adulação e degradação. Mas sobreviveu por um triz.

As pessoas gastam milhões de dólares e litros de suor na busca obsessiva pelo corpo perfeito. Homens e mulheres se submetem a meses de regimes exaustivos para esculpir sua pele, músculos e tendões em uma aproximação do ideal clássico de perfeição de Adônis ou Vênus.

Tristemente, no entanto, as pessoas não parecem saber o que fazer com sua carne. Recentemente, o corpo se tornou um obstáculo—uma ferramenta útil para projetar o ego, talvez, mas, fundamentalmente, não muito mais do que um avatar de um “eu” virtual que, de alguma forma, parece mais real do que a carne e os ossos com os quais nascemos. Ou devo dizer, “nos quais nascemos”?

Esta tem sido a ofensa mais recente sofrida pelo corpo. Ideologias transgênero têm deixado pais e filhos se perguntando se, por acaso, não foram “acidentalmente” agraciados com o corpo errado. Os chamados “especialistas” convenceram aqueles que se sentem mais como meninos do que como meninas, ou vice-versa, de que o corpo sexuado é um obstáculo à verdadeira liberdade. Bloqueadores de puberdade, terapias hormonais e inúmeros procedimentos cirúrgicos irão corrigir isso, afirmam eles. Assim, órgãos saudáveis são cirurgicamente amputados e aproximações artificiais de órgãos genitais alternativos são construídos para permitir que jovens e adultos garantam que seus pronomes e corpos correspondam—ou quase isso.

Então, o que devemos pensar sobre o corpo?

Um Corpo que Faz os Anjos se Perguntarem

Francisco de Assis, mais terreno e direto do que a maioria de nós, carinhosamente chamava seu corpo de “irmão burro”, comparando-o ao humilde animal de carga que carrega alegremente seu fardo sem reclamar. Ele via o humilde corpo mortal como um mero recipiente da alma imortal.

A Bíblia, por outro lado, vê o continuum corpo–alma como uma unidade coesa, o resultado da criação de Deus de nossos primeiros pais a partir do pó da terra e de seu Espírito vivificador. Embora nossos corpos sexuados eventualmente se desgastem e morram, um dia serão restaurados e ressurretos para uma vida eterna.

O Diabo e seus serviçais não têm compreensão do que é existir em três dimensões neste universo material. Os anjos são espíritos puros, e portanto “anelam perscrutar” o deslumbrante mistério no centro da salvação (1Pe 1.12). Desejam ver como, em certo momento da história humana, Deus Filho—a Palavra eterna do Pai—deixou seu trono de glória e desceu para se tornar um zigoto no útero de uma virgem humilde em Nazaré. Eles se esforçam para ver como ele nasceu em carne de bebê indefeso e foi amamentado no peito de sua mãe como qualquer outro bebê.

Nossa esperança no tempo e na eternidade está enraizada nesta carne humana de Jesus, que é simultaneamente Deus e homem. A verdade surpreendente é que nele toda a plenitude da divindade habita corporalmente (Cl 2.9).

Corpos, Preciosos e Precários

Tragicamente, muitos em nosso tempo tratam o corpo como um incômodo descartável. Convencidos de que estão presos em seus corpos, desejam sair.

Entendo a frustração deles. Estou no meu 78º ano de vida, e sempre fui feliz com meu corpo masculino e todas as suas características únicas. Fazendo coro à canção de celebração da sensualidade feminina de Rodgers e Hammerstein no filme Flower Drum Song (Flor de Lótus), gosto de ser um rapaz. Jane e eu tivemos o prazer (que o leitor entenda) de trazer três seres humanos maravilhosos ao mundo e, por meio deles, agora quatro netos, com a perspectiva de outras gerações ainda por vir, em um futuro desconhecido.

Mas, ultimamente, meu corpo tem me pregado peças. A reciprocidade sexual que minha falecida esposa e eu desfrutávamos já se foi para o espelho retrovisor. Embora haja sete pessoas que possam rastrear sua origem à nossa união, o vigor juvenil agora é uma doce memória.

Descobri que a vida encarnada é preciosa e precária. Em 2021, após 14 meses de cuidados paliativos em casa e três dias de piora abrupta, Jane morreu nos meus braços. Três anos atrás, fiquei eu mesmo a meia hora da morte, lutando por ar após coágulos de sangue de repente tomarem conta dos meus pulmões. Terapia da realidade–essa é a definição do que passei. Estou me acostumando com o fato de que chegará o momento em que esse meu corpo retornará ao pó da terra e meu espírito retornará ao Deus que o deu.

Corpos que Anseiam pela Ressurreição

Salomão coloca toda essa questão em perspectiva: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer” (Ec 12.1).

Não faz muito tempo, eu me vangloriava em um livro meu por querer ser um velho ágil. Mas então, sofri uma lesão num ligamento; agora estou mancando com uma bengala e pensando em fazer uma cirurgia de fusão no pé e enfrentar uma recuperação de três meses. Isso me deixará com uma marcha muito diminuída. Não importa. Pela graça de Deus, eu sou quem eu sou. Sirvo ao meu Senhor Jesus Cristo com o corpo enfraquecido que ainda tenho e com toda a energia que o Senhor provê. Não, não sou o que já fui fisicamente. Mas também não sou o que serei.

No dia em que Cristo voltar e ressuscitar todos os mortos, ele dará a mim e a todos os crentes a vida eterna, tanto no corpo quanto na alma. Neste dia, ouviremos Jesus exclamando “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21.5). Então, até mesmo esse velho “irmão burro” que me carregou tão fielmente todos esses anos será refeito na glória para ser como o corpo ressurreto de Cristo. Graças sejam dadas a Deus!

Traduzido por Caroline Ferraz.

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