As mulheres estão abandonando a igreja cristã e outras religiões institucionalizadas de forma geral em níveis surpreendentemente altos. Historicamente, as mulheres quase sempre superaram os homens na frequência aos cultos religiosos, mas essa tendência está mudando entre os jovens millennials e da Geração Z.
Um artigo publicado no início deste ano no The New York Times afirmou que a teologia complementarista e seu suposto sexismo inerente são os culpados por essa saída. Eu argumentaria que as razões são mais complexas, relacionadas tanto à igreja quanto à cultura secular. Embora pastores que abusaram de sua autoridade possam fazer parte do problema, tenho percebido que pastores que lideram com fidelidade podem ser parte da solução.
Rejeitando os abusos do complementarismo
Poderia se concluir, a partir do artigo do New York Times, que pouco pode ser feito a respeito das jovens que estão deixando a igreja. Afinal, o complementarismo continua sendo parte do bom design de Deus, e não podemos descartá-lo para agradar à nossa cultura.
No entanto, nem todas as jovens deixam a igreja porque rejeitam totalmente os princípios complementaristas. Muitas mulheres saem devido ao uso abusivo desse ensino, e não por conta das suas doutrinas genuínas, conforme apresentadas nas Escrituras. Escândalos recorrentes de abuso e falhas morais envolvendo líderes cristãos de destaque surgiram nos últimos anos, com muitos desses homens alegando o complementarismo como justificativa. Muitas mulheres foram feridas e ignoradas por pastores que deveriam tê-las ouvido. Há alguma surpresa que a desconfiança em relação à igreja tenha crescido entre as mulheres, levando algumas a abandoná-la completamente?
Ainda assim, acredito que seria simplista demais apontar até mesmo esses abusos como a razão fundamental para a saída substancial das mulheres da religião formal.
Enredadas pelos proveitos do mundo
A igreja de Cristo e o mundo sempre estiveram em discordância. Mas o cristianismo e os proveitos que ele defende para as mulheres—adorar a Deus, santidade, a igreja local, hospitalidade, evangelismo, casamento monogâmico, maternidade, dentre outros—apresentam um contraste muito mais intenso em relação àqueles oferecidos pelo mundo se comparados com uma ou duas gerações atrás.
Além disso, muitas jovens hoje estão enredadas pelos proveitos do mundo porque os encontram em momentos muito sugestivos. Considere o impulso moderno pela liberdade sexual. A internet e as redes sociais tornaram o conteúdo sexual assustadoramente acessível para meninas adolescentes, e as pressões sociais online agora atraem muitas delas para experiências sexuais em idades precoces. As mulheres da Geração Z em particular, tendem a sofrer uma exposição à perversão sexual mais cedo do que as millennials, e muitas já experimentaram ou estão atualmente flertando com identidades LGBT+. As jovens não estão rejeitando apenas o complementarismo e seus abusos, elas também estão rejeitando a ética sexual bíblica.
Mas as igrejas igualitárias, que defendem o movimento LGBT+, se multiplicaram por todo o país (EUA) nas últimas décadas. Se as mulheres podem, supostamente, ter Deus sem afirmar crenças que consideram censuráveis, por que abandonariam completamente o cristianismo?
Seria por verem cada vez menos necessidade de Deus em suas vidas? Afinal o Ocidente secular moderno catequiza as mulheres para encontrarem realização pessoal na autodeterminação, na ascensão profissional e na liberdade sexual. O feminismo de segunda onda propagou fortemente o mito de que uma carreira oferece significado, alegria e status. Desde a década de 1960, as mulheres têm estudado mais, estão mais consolidadas no mercado de trabalho e seguindo filosofias liberais. Particularmente no ensino superior, elas têm superado os homens de forma consistente há anos, e hoje, quase 60% dos diplomas de bacharelado nos EUA são concedidos a mulheres.
Ao mesmo tempo as mulheres migraram para um posicionamento político de esquerda. Um relatório recente da Axios revelou que mulheres entre 18 e 29 anos têm agora 15% a mais de chance de se identificarem com políticas liberais em comparação aos homens da mesma faixa etária, muitas vezes influenciadas pelos direitos ao aborto. As mulheres foram ensinadas que não apenas governam seu próprio corpo e sua vida, mas que têm o poder de decidir quem vive e quem morre. Por que as mulheres teriam necessidade de Deus quando, na prática, elas mesmas se tornaram deuses?
Frustradas por promessas vazias
Como cristãos, todavia, sabemos que a impiedade e a autossuficiência nunca irão nos satisfazer. Já as temos visto frustrando especificamente as mulheres.
Apesar dos grandes avanços das mulheres nas últimas décadas, elas estão menos felizes em comparação com 40 a 60 anos atrás. O aumento das oportunidades nas últimas gerações foi monumental e positivo em muitos aspectos. No entanto, a felicidade das mulheres diminui no mesmo período em que suas perspectivas sociais cresceram.
Muitos fatores provavelmente contribuíram para esse declínio na felicidade. No mínimo, porém, isso indica que as promessas mundanas de sucesso, ascensão profissional e promiscuidade sexual não cumprem o que prometem. Mesmo que muitas mulheres tenham escolhido tais promessas vazias em vez da igreja, o fracasso destas mesmas promessas pode levá-las de volta à igreja.
Vindo a Cristo pelo complementarismo
Os pastores podem se preparar intencionalmente para acolher e cuidar de mulheres como minha amiga Anna, que chegam às suas igrejas colecionando decepções com as promessas vazias do mundo. Uma ateia professa em sua adolescência e início de juventude, Anna comprou as promessas feministas de autonomia. Ela avançou com sucesso em uma carreira rigorosa e pensava que rejeitar a autoridade a levaria à liberdade. No entanto, na casa dos 30, se tornou cada vez mais desiludida e inquieta. Começou a estudar o cristianismo e, vários meses depois, encontrou o caminho para a minha igreja batista reformada e complementarista.
A teologia complementarista desempenhou um papel importante na conversão de Anna. Por anos, ela viu os danos causados pelo abuso de autoridade. Mas, através do exemplo de nossos pastores, ela viu como a boa autoridade—ao invés de ser descartada por completo—serve como uma correção. Nossos pastores não são perfeitos, mas eles se esforçam para servir, são rápidos em se arrepender e promovem a cura enquanto lideram. Eles ofereceram a Anna um novo e poderoso exemplo do cuidado do Bom Pastor, e Deus usou isso para salvá-la.
A história de Anna representa apenas uma mulher que se voltou para a igreja quando as promessas de autorrealização falharam. Se Deus quiser, muitas mais como ela entrarão pelas portas da igreja nos próximos anos, e os pastores têm uma oportunidade e responsabilidade de chamá-las para o Rei Jesus. Pastores que se esforçam para conhecer, ajudar e ouvir as mulheres em suas igrejas podem refletir a liderança servil de Cristo, assim como nossos pastores fizeram por Anna.
Os famosos fracassos de alguns pastores podem afastar as mulheres da igreja, mas Deus pode usar o cuidado fiel e a liderança de muitos pastores para atrair as mulheres de volta.
Traduzido por Vittor Rocha