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Houve época em que se comemorava o “Advento” como parte do ano eclesiástico. A palavra vem do latim para “vinda.” O objetivo deste período era antecipar a vinda de Cristo à terra; era uma época na qual se focava no esperar.

Já no quarto século d.C., os cristãos jejuavam durante este tempo e finalizavam estes jejuns com celebrações, seja da chegada dos magos ou do batismo de Jesus. Para muitos cristãos hoje, o sinal mais familiar do Advento é ao grupo de velas a serem acesas, duas velas roxas, seguidas por uma rosa e, em seguida, outra roxa, em cada um dos quatro domingos que antecedem o Natal.

O advento no entanto, passa por tempos difíceis. Nas tradições protestantes e das igreja livres, a perda é um pouco compreensível; nós batistas, em particular, tendemos a suspeitar de qualquer coisa com origens na tradição antiga ou medieval. No entanto, mesmo em congregações que seguem de perto os ritmos do ano eclesiástico, o significado do Advento corre o risco de ser desviado. Na última semana de novembro, qualquer sentido de espera tem sido encoberto pelo presépio no lobby, a árvore de natal no corredor, e a lista de festas de Natal no boletim.

Uma Intrusão Estranha

Por que o sentido do Advento como uma época distinta foi deslocado?

Talvez seja porque, para os crentes, não menos do que para os não-crentes, nossos calendários são dominados não pelos ritmos veneráveis ​​da redenção, mas pelas correntes mais rápidas do consumismo e da eficiência. O forno de microondas nos poupa de esperar pela sopa ferver no fogão, cartões de crédito nos redimem de esperar pelo salário para fazer compras, e esta extensão adiantada do Natal nos liberta de ter de lidar com a calmaria estranha do Advento. E assim, antes mesmo que os últimos trajes que sobraram do Halloween sejam retornados das lojas para o estoque, os shoppings e centros comerciais estão decorados com azevinho de plástico e fitas carmesim. O dia de Ação de Graças fornece um teste pré-natal em preparar perus e tolerar parentes, mas a função principal do dia de Ação de Graças cada vez mais parece ser a de fornecer um momento conveniente para nos reunirmos para o espetáculo de consumo e de dívidas conhecido como Black Friday.

Por Que Pulamos o Advento, na Época entre Halloween e a Véspera de Natal?

Talvez porque o Natal é uma celebração, e as celebrações podem ser aproveitadas para movimentar produtos para fora das prateleiras. O Advento é centrado numa espera, e a espera contribui pouco para o produto interno bruto.

Num ambiente religioso centrado em usar a Jesus para fornecer às pessoas, vidas mais convenientes no aqui e agora, o Advento é uma intrusão particularmente estranha. O Advento conecta nossos corações com os dos profetas antigos que ansiavam pelo Messias há muito prometido, mas que morreram muito antes de sua chegada.

Neste processo, o Advento nos relembra que nós, também, estamos esperando.

Mesmo após a Sexta-feira da Paixão e do Domingo da Ressurreição, reconhecemos que há uma ruptura em nosso mundo que nenhum carrinho cheio de pechinchas da Black Friday pode reparar; há uma fome em nossas almas que nenhum prato cheio de creme de abóbora pode preencher; há uma inversão em nossos corações que nenhuma mão terrestre pode tocar. “Toda a criação”, o apóstolo Paulo declarou: “geme e está com dores de parto até agora” (Rm 8.22).

No Advento, os cristãos abraçam este gemido, reconhecendo que não choramingam desesperadamente pela escassez do momento presente, mas esperam ansiosamente pelo banquete divino que Jesus está preparando para nós. No Advento, a Igreja admite que, como coloca o poeta R.S. Thomas, “o sentido está na espera.” E o que esperamos é um Advento final ainda por vir. Assim como os antigos israelitas esperavam a vinda do Messias na carne, aguardamos a vinda do Messias em glória. No Advento, os crentes confessam que a criança que teve sua primeira respiração entrecortada entre os joelhos de uma virgem, ainda dará a última palavra.

Celebrando a Espera

Não estou afirmando que acender algumas velas rosas e roxas, de alguma forma, por elas mesmas, desencadearão um renascimento da paciência ou um anseio pela presença de Cristo. Nem estou sugerindo que todos devem desmontar suas árvores de natal e silenciar todas as músicas natalinas até a manhã de Natal. Mas sei que eu preciso deste lembrete anual da significância da espera, e não creio ser só eu.

Dependendo só de mim mesmo, eu rapidamente me voltaria do Deus do evangelho aos deuses da eficiência e conveniência, falsos deuses que proclamam a espera como um desperdício, um “matar tempo”. Mas o Advento me faz lembrar de que o tempo é precioso demais para ser morto, mesmo quando este tempo é gasto olhando adiante. O Advento é uma proclamação da suficiência de Cristo através da disciplina da espera.

Portanto, nestes dias de Advento, pense em como sua família pode comemorar a disciplina da espera. Separe alguns momentos a cada noite para levar em consideração todos os textos bíblicos que falam sobre as primeira e segunda vindas de Jesus. Ou selecione um livro para o mês, talvez um romance que leve sua família a vislumbrar tanto a beleza quanto a condição caída da criação de Deus, e depois, desligue a televisão e invista tempo para o lerem juntos. Ou façam juntos uma lista de alguns aspectos de como o mundo está danificado; então, ao mesmo tempo em que anseiam pelo retorno de Jesus para endireitar as coisas, reconheçam que a renovação de Deus já está em andamento. Agora mesmo, ele está renovando o mundo, através do poder da ressurreição entre o seu povo; assim, planeje uma atividade familiar que reflita a obra renovadora de Deus, endireitando algo ou aliviando o sofrimento humano em sua vizinhança. Seja o que fizeram, lembrem-se que, por Deus ter prometido renovar o mundo e ter assegurado esta promessa através de um túmulo vazio, nenhum momento de espera é sem sentido. Cada instante que passa está prenhe de maravilha, e beleza, e glória, e alegria.

Entendendo a Mensagem

Quando me recordo de que há sentido mesmo em tempos de espera, a questão que ocupa minha mente enquanto estou na fila no supermercado não é se escolhi a fila mais rápida, mas como poderia investir esta espera em alguma coisa mais significativa do que a minha própria lista de afazeres.

Quando fico preso no trânsito, não estou apenas antecipando uma mudança de cor do vermelho para o verde; estou aguardando a vinda de Cristo, e há um significado nesta espera.

Quando ando de mãos dadas com uma criança vaguejando, que se maravilha com passarinhos comuns e galhos aleatórios, tenho total justificativa para me juntar a ela em adoração, pois há santidade em sua espera.

“Todos os acontecimentos, grandes e pequenos, são parábolas pelas quais Deus fala”, observou Malcolm Muggeridge. “A arte da vida é entender a mensagem”. O Advento nos recorda de ouvir a mensagem que Deus está proclamando, mesmo na espera.

Traduzido por Guilherme Cordeiro.

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