Participei recentemente de um painel, numa grande conferência cristã, falando sobre atração pelo mesmo sexo. Uma das perguntas que me fizeram foi uma versão velada da pergunta que muitos pais cristãos mais querem me fazer: “Como posso impedir que meus filhos sintam atração pelo mesmo sexo?” ou (como ninguém realmente teve coragem de dizer): “Como posso evitar que meu filho se torne como você?”
É uma pergunta reveladora. O número de vezes que me perguntaram sobre isso (sempre em rodeios) demonstra o quão temeroso é para muitos pais cristãos criar um filho que possa ser sexualmente atraído por alguém do mesmo sexo. Não é algo que eles querem ter de compartilhar nas cartas de Natal nos próximos anos, seja abertamente ou pelo que está claramente não dito.
A grande esperança é que eles escrevam sobre seus casamentos felizes, muitos netos e o envolvimento contínuo em uma boa igreja evangélica. Eles não querem ter que dizer que seu filho é gay, que não haverá nenhum neto (pelo menos, não da maneira convencional), e que seu filho ou filha agora faz parte de uma igreja que apoia os LGBT (se é que está em alguma igreja).
O que eles querem de mim são alguns passos simples, que possam tomar, para impedir que isto aconteça: proibir seu filho pequeno de brincar com as bonecas de sua irmã e desencorajar aquela irmã de jogar futebol quando ela ficar mais velha.
Conexão Trágica
Por que a paranoia (uma palavra usada honestamente por um pai cristão, ao me fazer esta pergunta)? É porque, muito frequentemente na igreja evangélica, a piedade [ou o temor a Deus] significa heterossexualidade, e ninguém consegue entender como a atração pelo mesmo sexo e a piedade podem co-existir. Então, se você quer que seus filhos sejam piedosos, você deve fazer tudo que pode agora para garantir que eles sejam heterossexuais. E, obviamente, se seu filho começar a sentir atração pelo mesmo sexo, você deve fazer tudo o que puder para mudar isto o mais rápido possível.
Tudo isto explica o quanto de tempo, esforço e dinheiro algumas igrejas têm investido em aconselhamentos que prometem uma mudança permanente na sexualidade de alguém. Muitos filhos de pais evangélicos, que sentem atração por pessoas do mesmo sexo, foram matriculados em terapias corretivas ou despachados para cursos de fim-de-semana, que prometem “curá-los” de sua atração pelo mesmo sexo. Depois disso, frequentemente esses filhos (e às vezes os pais) abandonam o cristianismo evangélico quando essas tentativas falham. Se a piedade significa heterossexualidade, qual é o objetivo de se tentar ser cristão quando não é heterossexual?
É trágico ver esta ligação feita na mente das pessoas. Mas entendo o por quê: essa é uma ligação que frequentemente está na minha cabeça também. Se heterossexualidade significa piedade, a grande mudança necessária em minha vida é que me tornasse heterossexual. Então, orei muito e procurei diligentemente por um antídoto eficaz à minha atração pelo mesmo sexo. Para mim, a busca da santidade quase sempre se igualou à busca da heterossexualidade.
Estupefato e Revigorado
Então, algo me ajudou imensamente (espero que como a todos que escutavam): a resposta de outro membro do painel naquela conferência. Um pastor heterossexual, que dirige o grupo de apoio aos membros de sua igreja que sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Ele também é casado e pai de dois meninos. E disse mais ou menos isso: “Nós, acima de tudo, queremos que nossos meninos cresçam como cristãos maduros e tementes a Deus. Alguns dos cristãos mais maduros e tementes a Deus que conhecemos sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Então por que deveríamos ter tanto medo deles crescendo como pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo?”
Fiquei espantado com esta resposta. Isso finalmente detonou minha pressuposição errada de que a atração pelo mesmo sexo e a piedade, como óleo e água, nunca se misturam. Isso me fez lembrar que algumas das pessoas mais tementes a Deus que eu já conheci também já sentiram atração pelo mesmo sexo. Na verdade, um dos líderes cristãos que mais respeito como piedoso assim se tornou através de sua luta com a atração pelo mesmo sexo. Eu nunca havia ouvido essa ligação feita de forma tão clara, tão comovente e nesse contexto.
Mas esse membro do painel é um pai cuja ambição principal para seus filhos é a correta: temor a Deus, não heterossexualidade. Tenho certeza de que isso não significa que ele está orando para que seus filhos cresçam com atração por pessoas do mesmo sexo. Mas sua resposta demonstrou que todos nós deveríamos estar preocupados em ter: semelhança com Cristo. Ser como Jesus é a verdadeira definição bíblica de piedade.
Nota dos editores: Este texto foi retirado do livro “Same-Sex Attraction and the Church: The Surprising Plausibility of the Celibate Life” por Ed Shaw, 2015. [Edição em português: A Atração por Pessoas do Mesmo Sexo e a Igreja, Edições Vida Nova]
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